Fordlândia: a história da cidade operária planejada por Ford

Entre 1928 e 1945, Ford vislumbrou, na selva, um paraíso para cultuar os “valores americanos”; saiba o que ocorreu com a Fordlândia.

Você já ouviu falar sobre a Fordlândia? Esta foi uma cidade construída no início da década de 1930 às margens do rio Tapajós, afluente do Amazonas, em plena selva.

Para atender à demanda de borracha da marca Ford e com a intenção de quebrar o monopólio da borracha britânica e holandesa em suas plantações no Sudeste Asiático, Henry Ford estabeleceu mais de 20.000 hectares de cultivo de seringueiras.

Contudo, o sonho de Ford de domar o capitalismo industrial e a Amazônia entrou para a história como um retumbante fracasso e como símbolo de arrogância. Saiba mais sobre o que ocorreu com a Fordlândia.

Fundação e história de Fordlândia

Em 1928, a Ford, que também é considerada uma das pioneiras nos métodos de produção industrial nos Estados Unidos, lançou um plano para garantir a produção própria de borracha, material utilizado na fabricação de pneus e peças automotivas como mangueiras, válvulas e outros. Em suma a ideia era criar uma cidade no meio da selva amazônica.

Desse modo, móveis e materiais de construção chegavam em dois barcos, sempre pelas águas turvas do Tapajós. Mais tarde, caminhos de concreto iluminados por lamparinas foram abertos e, no meio, casas pré-fabricadas em Michigan deram forma ao American Village (Vila Americana), local que o empresário criou exclusivamente para os funcionários americanos da empresa residirem.

Em Fordlândia, hospitais, escolas, piscina comunitária, lojas comerciais, restaurantes e até uma sala de entretenimento estavam sendo construídos a todo vapor. Tudo à imagem e semelhança das reminiscências que Ford trouxe de sua infância no Centro-Oeste dos Estados Unidos.

Além disso, eram 18 horas de barco da cidade mais próxima. Mas o grande problema era outro: a empresa tentava impor hábitos culturais e sociais americanos à cidade e, especificamente, aos trabalhadores brasileiros. Assim, eles controlavam todos os aspectos de sua vida: do privado à sua saúde.

Revolta dos trabalhadores de Fordlândia

No entanto, a cidade utópica começou a ruir aos poucos diante da imponente fortaleza amazônica. Em 1930, uma violenta greve de trabalhadores obrigou os diretores da empresa a fugir de barco pelo Tapajós; por sua vez, pleiteavam o envio de militares brasileiros para o controle da área.

Por outro lado, as taxas de mortalidade por malária e febre amarela eram extremamente altas e a violência não parava de crescer. Além disso, a comida chegava aos pratos dos funcionários em mau estado, o que gerava uma série de problemas.

Falhas e fim do projeto

Apesar de tudo, o grande projeto amazônico fracassou. A Fordlândia foi abandonada na década de 1940 por dois motivos principais: o primeiro era que a borracha sintética tornava a borracha natural obsoleta.

A segunda e mais importante é que você não pode lutar contra os elementos, não importa o quanto tente. Ford pretendia dobrar a selva às suas exigências. Como se tivesse levado um pedaço de Manhattan para o coração da Amazônia ou um pedaço da Amazônia para o coração da Big Apple.

O calor e a umidade eram insuportáveis ​​para sua população, além da malária. Portanto, o território era indomável. Com efeito, era extremamente difícil estabelecer vias de transporte ou espaços de construção.

Os trabalhadores nativos, os seringueiros brasileiros, também não tinham experiência no cultivo correto da borracha,

Como está Fordlândia atualmente?

Atualmente, mais de 2.000 pessoas vivem na cidade criada e abandonada por Ford, em meio às ruínas do sonho montado há mais de um século.

Entre os habitantes de Fordlândia há descendentes dos trabalhadores que ali se instalaram no século XX e novos migrantes de outras partes do Brasil que se ocupam da agricultura e da pecuária (principalmente zebuína).

Quais eram as principais instalações do local?

Serraria

Quando a Fordlândia foi oficialmente fundada uma serraria e uma torre d’água foram erguidas. A serraria era o local para o tratamento da madeira, e uma das poucas estruturas que até hoje se mantém de pé.

Torre de água

Fordlândia: a história da cidade operária planejada por Ford

Essa estrutura trazia o familiar logotipo da Ford Motor. Com cerca de 50 metros de altura, ela foi feita em Michigan e trazida para o Brasil num navio mercante. Além disso, era considerada o símbolo da Fordlândia.

Hospital

Fordlândia: a história da cidade operária planejada por Ford

Os funcionários da Fordlândia também receberam atendimento médico gratuito no hospital. Aliás, o local era muito moderno para a época. Apesar disso, quando a cidade foi desativada, os moradores fizeram vários protestos, temendo que os equipamentos que deixaram no local provocasse algum acidente radioativo.

American Village

O bairro chamado Villa Americana continha seis casas que abrigavam os americanos que ali viveram. No entanto, uma das casas se perdeu em um incêndio. Por outro lado, as outras foram reiviindicadas pelos moradores locais.

Workshop (Oficina)

Com três andares, a oficia era um tipo de depósito onde se fabricavam as peças das máquinas que operavam no local. Ainda hoje, o local guarda equipamentos como camas de hospitais, um caixão de chumbo e peças de uma máquina de raio-x.

Curiosidades sobre Fordlândia

  1. A pequena cidade fundada por Henry Ford no meio da selva amazônica em 1928 para fornecer borracha ao seu império automobilístico.
  2. A ideia não era apenas criar uma cidade autossuficiente, que também explorasse madeira e minérios, mas transplantar o american way of life (jeito americano de viver) para o lugarejo que estava tomando forma.
  3. Ford pagou bem seus trabalhadores da Fordlândia e incorporou práticas trabalhistas como relógios de ponto e jornada de trabalho de oito horas nas instalações do assentamento.
  4. Rebeliões, pragas, baixa produção, a história da Fordlândia foi um poço de calamidades, desde o início.
  5. A Ford Company a fechou formalmente em 1945 antes de vender o terreno de volta ao governo com grande prejuízo.
  6. Embora estivesse constantemente envolvido na construção e operação da cidade, Henry Ford nunca visitou Fordlândia.
  7. Por fim, hoje a cidade é um conjunto de prédios em ruínas que lembram a arrogância que muitos homens usam como bandeira em nome do progresso.

Fonte: News Brasil e O Globo

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