Mitologia eslava: divindades, espíritos e criaturas do panteão eslavo

O antigo folclore eslavo durou cerca de 6 séculos, até a chegada do cristianismo. Neste artigo, veja os principais personagens da mitologia eslava.

Mitologia eslava: divindades, espíritos e criaturas do panteão eslavo

A mitologia eslava pode abranger as religiões dos primeiros poloneses, russos, morávios, servos, masuri e silésia. Com efeito, esse folclore se baseia na ideia de princípios duais. Ou seja, há uma raça de divindades boas e outra de divindades más.

As principais divindades se conectam a uma árvore cuja raiz é Deus – chamada de Pântano ou Swantewit. Além disso, os ídolos eram representações eslavas dos deuses. Eles eram figuras esculpidas em madeira e ocasionalmente tinham símbolos específicos para certos deuses.

O panteão eslavo ainda incluía divindades claras e escuras que se opunham. Perun, Veles, Dagdbog, Makosh e Svarog estavam do lado da luz e do sol, enquanto deuses como Koshei, Chernobog e Morana estavam do lado da escuridão e do frio.

O fogo desempenhava um papel importante e estava associado ao sol e à maioria das divindades benevolentes. Por outro lado, o frio estava associado ao inverno, à morte e à maioria dos deuses negativos.

A divisão inicial do mundo se dava em três partes: Prav, Yav, i Nav. Os seres humanos viviam em Yav e deveriam alcançar os céus e evitar as trevas, Nav. Prav é o código da lei da vida. Irii é uma versão eslava do céu.

Desse modo, acredita-se que todas as almas vão após a morte e é aí que residem os deuses, onde um rio de leite corre por ele. Ademais, dizia-se que os humanos eram netos de Dagdbog, um dos deuses.

Deuses da mitologia eslava

Embora não se saiba exatamente se a religião eslava tinha um panteão organizado de deuses comparável a outros povos indo-europeus como os gregos, romanos ou escandinavos, os eslavos certamente tinham suas divindades.

Ademais, acredita-se que muitos deles refletem um passado indo-europeu compartilhado mais antigo, mas permanece questionável se esses deuses eram adorados em toda a vasta extensão da Europa eslava (que ia do Báltico ao Mar Negro) ou, se variavam dependendo da localidade e tribo eslava específica. Veja algumas dessas divindades a seguir.

Perun

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Perun é, sem dúvida, o deus supremo do Panteão eslavo. Adorado em grandes extensões da Europa eslava e até além (como Perkunas) ele também aparece na mitologia báltica.

Perun é o senhor reinante dos céus e o deus do relâmpago e do trovão. Como um deus do trovão, ele foi comparado a Zeus na mitologia grega ou Thor na mitologia nórdica.

O próprio nome Perun significa ‘bater ou golpear’ e pode ser traduzido como ‘Aquele que golpeia’. Na verdade, o nome desse deus antigo sobreviveu na língua polonesa, onde passou a denotar ‘trovão’ (piorun).

De acordo com as primeiras crônicas da Rutênia, o Príncipe Vladimir, o Grande, ergueu uma estátua de culto a Perun (junto com outros ídolos pagãos) fora de seu palácio em Kiev, logo após ele iniciar seu governo em 980. A estátua de Perun era feita de madeira com um cabeça e bigode dourado.

Todavia, em 988, logo após o Ducado de Kiev ter adotado o Cristianismo, o mesmo governante ordenou que os ídolos pagãos fossem destruídos. O maior deles, Perun, foi amarrado a um cavalo, arrastado colina abaixo e repetidamente espancado com varas, antes de ser finalmente lançado no rio Dnieper.

Vladimir então ordenou que a estátua flutuasse rio abaixo em um local que passou a ser chamado de Perunja Ren (o Raso de Perun).

Porevit e Porenut

Os deuses Porevit e Porenut também tinham ídolos multifacetados, típicos do culto religioso eslavo. A estátua de Porevit exibia cinco cabeças e Porenut quatro (com uma quinta face esculpida em seu peito).

Enquanto o nome de Porevit (reconstruído como ‘senhor da força’) sugere que seu domínio era principalmente o do poder militar, o nome de Porenut poderia apontar para outro fato, a saber, que Porenut era filho de Perun.

Isso, por sua vez, poderia ser um argumento para a teoria de que Perun governava através de Porevit e Porenut, ou seja, seus filhos gêmeos.

Veles

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Veles (ou Volos) é talvez o segundo deus mais importante da mitologia eslava. A velha crônica rutena que o chama de skotiy bog faz dele o deus do gado. Isso também o posicionaria como o deus da riqueza (já que o gado era um dos principais marcadores da riqueza de uma família).

Outras dicas sugerem que ele poderia ter sido vinculado a domínios como magia, poesia, juramentos, o submundo e os mortos.

Veles às vezes é visto como o antagonista mítico de Perun. Além disso, historiadores e etnógrafos suspeitam que as relíquias dessa noção antiga podem ter sobrevivido até séculos após a cristianização e podem ser encontradas no mito da criação eslavo que aborda sobre a rivalidade entre Deus e o Diabo, sendo este último uma versão do Veles.

Por fim, essa identificação pode ser observada no folclore tcheco até o século 16, onde a frase ‘Jdi za moře k Velesu’ (atravesse o mar para Veles!) significa ‘Vá para o diabo!’.

Triglav

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Outro deus ligado a juramentos e adivinhação, Triglav era provavelmente de báltica. Na verdade, ele pode ser apenas uma forma local de Veles.

Uma estátua de três cabeças de Triglav em Szczecin foi descrita por escritores cristãos como cobrindo sua boca e olhos com um invólucro dourado que foi interpretado como a recusa do deus em testemunhar os pecados das pessoas.

As três cabeças do deus representavam os três reinos governados por Triglav: os céus, a Terra e o submundo.

Sventovit

Chamado também de Svetovid e Svantovit, Sventovit pode ser o mais famoso de todos os deuses eslavos com várias cabeças. Ele era adorado em Arcona, na ilha de Rugia, onde uma estátua monumental dele ficava no ponto central do templo.

Em suma, a figura tinha quatro cabeças e quatro pescoços e segurava um chifre de bebida em uma das mãos. Suas histórias muitas vezes envolviam um cavalo branco, um animal sagrado de Sventovit, o que pode sugerir que a divindade tinha funções semelhantes a Veles e Triglav.

Outro deus semelhante a Sventovit e uma possível encarnação do poderoso Perun é Jarovit (Gerovit) que foi comparado pelos escribas cristãos medievais a Marte, deus romano da guerra.

Stribog

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Deus da riqueza e dos ventos.

Svarog

Deus do sol, do fogo celestial e da ferraria; às vezes identificado com o grego Hefesto.

Dažbog

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Filho de Svarog (e portanto também conhecido como Svarožič), como seu pai também uma divindade solar, deus do fogo sagrado da lareira.

Hors

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Uma das divindades adoradas em Kiev de Vladimir antes do Cristianismo; possivelmente uma divindade lunar, Hors vem da mitologia iraniana.

Semargl

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Era uma divindade da vegetação, ligada a boas colheitas. Assim como Hors, ele pode ter origem na mitologia iraniana, onde uma criatura semelhante, um grifo com corpo de cachorro, é conhecido como Simurgh.

Deusas da mitologia eslava

Makosh

Makosh, ou Mokosh, é uma das principais divindades da mitologia eslava. Seu nome em tradução livre significa ‘Mãe Fortuna’, onde “ma” seria uma parte de “mãe” e “kosh” é uma antiga palavra eslava para destino, boa sorte ou fortuna.

Em suma, ela zela pelas mulheres. Seu domínio é a fertilidade, a colheita, a magia e as riquezas da casa. Ademais, ela observa o tear do destino. Nesse trabalho, ela é auxiliada por Dolya e Nedolya. Diz-se que são irmãs mais novas de Makosh ou suas ajudantes.

Em suas representações ela aparece com uma grande cabeça e, ocasionalmente, chifres.

Morana

Também conhecida como Mara e Marana é a deusa da peste, escuridão e morte. As lendas dizem que ela e seus asseclas tentam destruir o Sol todas as noites, mas sempre recuam com medo de sua majestade e beleza.

Seu reino é inverno e morte. Além disso, seus símbolos incluem crânios rachados, a lua negra e uma foice com a qual ela corta os fios da vida. Ela é filha de Lada, irmã de Giva e Lelya, e esposa de Koshei.

Com efeito, seu território fica além do rio negro Smorodina, que divide Yav i Nav. A ponte Kalinov fica sobre o rio, onde uma cobra de três cabeças protege a travessia.

Mati Syra Zemlya

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A mãe terra ou natureza encarnada da mitologia eslava é vista como uma bela mulher. Alguns mitos dizem que foi a Mati Syra Zemlya e Svarog (que representa o céu) que criaram este planeta. Foi considerado um crime atingir a Terra na primavera porque ela foi considerada grávida de uma nova vida.

Lada

Lada é a mãe de Lelya, Lel e Morana e esposa de Svarog. Ela é a deusa do amor, da beleza e da felicidade na família. Alguns outros mitos mencionam que, quando Rod foi preso, foi ela quem o salvou. Ademais, o amor deles criou este universo.

Por fim, ela também zela pela continuação da vida de todas as coisas vivas. O relacionamento de Lada e Lelya é visto como o relacionamento mãe-filha ideal.

Giva

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A deusa da vida, do verão e da fertilidade. Ela também é irmã de Perun.

Espíritos e demônios do folclore eslavo

Obviamente, além dos deuses principais, a mitologia eslava tinha uma série de divindades menores, deuses locais, espíritos domésticos e demônios. O mais importante deles foi provavelmente Rod – uma personificação eslava do destino.

Rod geralmente tinha a companhia das Rozhanitsy – criaturas femininas invisíveis que imediatamente após o nascimento de uma criança decidem quanto ao seu destino.

O nome de Rod e Rozhanitzy remonta à raiz eslava que significa “nascimento”. Um conceito semelhante é Dola, uma divindade feminina ou espírito protetor que cuida da casa e às vezes ama crianças. Outras criaturas famosas são: Baba Yaga, Koshchei, Demovoi, Leshii, Likho, Pássaro de fogo e as Rusalkas (ninfas das águas).

Por fim, a diversidade de demônios sedentos de sangue, como upiers (Pol. Upiór), vampiros (wąpierz, wampierz) e strigoi (strzyga), que sobreviveram no folclore eslavo muito depois da cristianização, pode sugerir uma noção bastante sombria da vida após a morte da alma eslava.

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