A América Latina guarda em seu território muita história, patrimônios de importância indescritível e riquezas naturais. Podemos ver isso nos monumentos incas no Peru, nas montanhas geladas da Argentina, na Amazônia brasileira e, também, na maior reserva de petróleo do mundo na Venezuela. Essa última em questão, um dos maiores atrativos aos olhos estrangeiros.
Sua grande reserva de petróleo chama a atenção de grandes potências mundiais, inclusive, antagonistas que possuem visões diferentes de mundo. Estados Unidos e Rússia, por exemplo, que a cada dia que passa se mostram cada vez mais de lados opostos (como na Guerra Fria), já mostraram interesse estratégico no país. Outros países como a China, o Irã e a Índia também.
Esse interesse pelo petróleo acaba deixando claro os motivos da posição de cada país quando chegou o momento de apoiar (ou não) o auto-proclamado presidente Juan Guaidó, que não aceita a legitimidade da presidência de Nicolás Maduro. Os EUA e o Brasil, por exemplo, ficaram do lado da oposição, enquanto Rússia e China apoiam a permanência de Maduro. Mas para entender esse conflito atual no país mais a fundo, é necessário contexto e também voltar um pouco mais no tempo.
Conflito na Venezuela
Os ânimos começaram a ficar acirrados na Venezuela em janeiro deste ano, quando o líder da oposição, Juan Guaidó, se proclamou presidente do país. Sua justificativa seria que o então presidente, Nicolás Maduro, havia cometido fraude nas eleições e estaria levando seu povo a morte. Consequentemente, os dois começaram uma queda de braços pelo poder e comando da Venezuela.
A primeira batalha entre os dois “presidentes” se dá por meio da ajuda humanitária. Devido a grande crise que assola a Venezuela a alguns anos, boa parte da sociedade não tem nem ao menos o que comer. Juan Guaidó, em sua primeira investida contra o poder estabelecido, procurou ajuda de grandes potências, pedindo envio de suprimentos para a sociedade. Essa ajuda humanitária foi marcada para o dia 23 de fevereiro, e viria por terra, água e ar.
A reação de Nicolá Maduro perante a investida, foi bloquear as fronteiras com os países que apoiaram Guaidó. Ou seja, Maduro rejeitou a ajuda humanitária dos apoiadores do seu opositor. Consequentemente, nenhuma ajuda que viria pelo Brasil e pela Colômbia conseguiu chegar ao povo. Houve confrontos com as forças de segurança na região próxima à fronteira da Venezuela com o Brasil, chegando a ter dois mortos.
“Vocês não devem lealdade a quem queima comida na frente de famintos”, afirmou Guaidó após a ajuda humanitária não ter acontecido na prática.
Origem na crise
A crise na República Bolivariana da Venezuela não começou ontem, na verdade, além de estar ocorrendo a alguns anos, vem se construindo a mais tempo do que isso. Há duas décadas atrás, em 2 de fevereiro de 1999, Hugo Chaves assumia a presidência da Venezuela. No principio, houve uma melhora na qualidade de vida do povo considerável. O líder da Revolução Bolivariana gritou aos quatro ventos que a Venezuela agora era um país socialista e mostrou melhoras, porém, não conseguiu estabilidade econômica para a nação.
O problema só se agravou ainda mais quando o então presidente descobriu um câncer, que o levou a morte em 2013. Quem assumiu o seu lugar foi então o seu vice, e ex-chanceler Nicolás Maduro. O novo (e atual) presidente pegou a Venezuela em um momento complicado. O preço do barril de petróleo (base da economia venezuelana) estava baixo. Medidas de controle estatal próprias do chavismo se mostraram insustentáveis para conter a crise política e econômica.
Há cinco anos, a inflação se encontra acima de 800% ao ano e nos mercados faltam alimentos, remédios e produtos de higiene básicos, como papel higiênico. Tudo isso também levou a uma onda migratória do país, sendo que os venezuelanos estão indo tentar a vida em países vizinhos. Em 2018, só no Brasil, entraram cerca de 50 mil venezuelanos.
Acontece que a economia venezuelana é pouco diversificada, e com a baixa no preço do petróleo o país perde a capacidade de importar e fica sem renda para fazer investimentos sociais. Junto a isso, Hugo Chaves tinha feito um controle de preços, executado pelos militares nos principais comércios do pais, desestimulando o investimento da iniciativa privada no país.
O petróleo
A Venezuela é a mais rica em reservas de petróleo puro no mundo inteiro, com 300 milhões de barris de petróleo. Isso coloco-a à frente da Arábia Saudita (266 milhões de barris), Irã (158 milhões de barris) e Iraque (142 milhões de barris). Hugo Chaves, então, colocou o produto como o coração da sua economia. Para você ter uma noção, mais de 90% das exportações da Venezuela e aproximadamente metade da receita do governo vêm do petróleo.
A empresa estatal que controla o petróleo na Venezuela é a Petróleos de Venezuela (PDVSA). Acontece que a empresa já não está muito bem das pernas a algum tempo. Ela acumula algumas grandes dividas ao longo dos últimos anos.
Em 2014, a Venezuela pegou emprestado quase 50 bilhões de dólares da China e 5 bilhões de dólares da Rússia, quando os preços do petróleo eram mais favoráveis. O acordo era para pagar os credores em óleo e combustível.
Impossibilitada de extrair mais petróleo e de enviá-lo rapidamente, a PDVSA tem poucas opções para aumentar seu fluxo de caixa.
Interesse estrangeiro
Em primeiro lugara a China, que está de olho nas reservas de petróleo a muito tempo. Quando o país asiático fez o empréstimo de quase 50 bilhões a Venezuela, ela estava de olho exatamente nos barris de petróleo que teria de pagamento. Ou seja, ela fez negócio a longo prazo. Por isso, o país apoia maduro, visando o mantimento do pagamento do empréstimo e a continua utilização do petróleo do país.
Já a Rússia não está, diretamente, tão interessada no petróleo, e sim, em ter consigo um país estratégico no “quintal dos EUA”. O presidente Putin gera controversas na mídia local, ao apoiar e investir dinheiro em países como a Síria e a Venezuela. Além disso, a Rússia investiu 5 bilhões de dólares (ou mais, segundo estimativas) no país. “Os russos viram (a situação da Venezuela) de forma oportunista. A recessão no país e a queda na produção de petróleo já haviam começado. Então, a Rússia viu uma oportunidade de comprar ativos da indústria petrolífera a preços muito baratos”, disse um analista da Oxford Economics para a BBC.
Apesar dos EUA e a Venezuela serem completamente opostos (o primeiro é capitalista, o segundo socialista), possuem um elo no petróleo. 40% do petróleo da Venezuela vai para os EUA, enquanto 9% do petróleo dos EUA vem da Venezuela. Consequentemente, a Venezuela é o 3° maior importador de petróleo dos EUA, atrás apenas do Canadá e da Arabia Saudita.
Mas não é apenas isso, o país é estrategicamente importante por ser o principal representante do socialismo nas América latina, mantendo laços muito fortes com a China e a Rússia, fazendo-a entrar no radar dos EUA. Além disso, ela é uma das principais rotas de tráfico da América Latina para os EUA.
Os ânimos entre EUA e Venezuela estão acirrados desde 2015, quando o então presidente Barack Obama colocou sanções ao país devido ao tráfico de drogas, considerado altamente prejudicial pela própria ONU. Apesar de tudo isso, a Venezuela não deixou de importar petróleo para lá, uma vez que sua economia é totalmente dependente disso.
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Imagem: Rádio Regional The Independent D Notícias Cripto Moedas Fácil Mundo Português
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