Diferente do que o nome pode indicar, o jejum de dopamina não tem nada a ver com dicas de alimentação. Na verdade, esse jejum é uma espécie de detox digital que sugere a eliminação de alguns comportamentos impulsivos que podem favorecer a produtividade.
De acordo com seus adeptos, os constantes estímulos presentes ao longo do dia liberam doses de dopamina no cérebro que prejudicam a produtividade. Por causa disso, então, devem ser combatidos.
Por outro lado, cientistas alegam que não evidências de que a técnica tenha rendimentos reais e seja eficaz.
Dopamina
A dopamina é um neutrotransmissor ligado à motivação e ao prazer que sentimos com algumas atividades.
A proposta, portanto, sugere que a liberação frequente dela por meio, por exemplo, de acessos frequentes a redes sociais sobrecarrega o cérebro e diminui sua sensibilidade. Dessa maneira, interromper o fluxo de pequenos estímulos diários poderia recuperar o número de receptores.
Com um detox digital, por exemplo, o cérebro corta as pequenas doses de liberação de dopamina para que possa focar na produtividade e deixar o prazer para depois. Além disso, por não estar em exposição constante aos conteúdos, o prazer sentido no segundo momento seria maior.
Origem do jejum de dopamina
A ideia surgiu com James Sinka relacionando a sensação de prazer à alimentação. Quando criança, Sinka teve uma doença que o fez ficar sem comer direito por três dias. Logo após a recuperação, ele mordeu uma pera e diz ter sentindo uma sensação de recompensa tremenda.
A partir daí, praticou a praticar o jejum intermitente em suas dietas, mas adaptou a prática a outra partes da vida. Uma das novas inclusões, por exemplo, foi o jejum de tecnologia e o detox digital.
O detox de Sinka é tão intenso que ele remove o uso de eletrônicos, mas também reduz o contato com outras pessoas, luz artificial, drogas ou suplementos alimentícios.
Inovação ou nova meditação?
Em alguns conceitos, o jejum de dopamina se aproxima a outras ideias que promovem o bem-estar, como meditação vipassana. O conceito é milenar e um dos principais fundamentos da meditação do budismo.
De acordo com a meditação vipassana, os praticantes devem “se abster de matar, de roubar, das atividades sexuais, de contar mentiras e de qualquer coisa que seja intoxicante”. Entre os chamados intoxicantes estão álcool e drogas, mas também aditivos alimentares.
Por causa disso, as duas práticas estão associadas e o jejum de dopamina é considerado uma espécie de meditação repaginada para o clima do Vale do Silício.
Controvérsias
Segundo, Joshua Berke, professor de Neurologia e Psicologia na Universidade da Califórnia, em São Francisco, a dopamina “não tem uma relação direta com ‘prazer’ ou ‘felicidade’”. Ele afirma que o argumento de descansar o cérebro pode soar plausível, mas pouco provável que esteja conectado ao neurotransmissor.
A professora de Psicologia e pesquisadora da área de Neurociência na Downing College, na Universidade de Cambridge, Amy Milton, concorda com ela. Ela defende que não há sinais de que a prática possa reiniciar a liberação de dopamina, mas que como reavaliação de hábitos, pode ser positiva.
O médico Antônio Modesto diz que a tendência do jejum de dopamina pode estar ligada a uma tendência comum do século XXI: tentar controlar o corpo humano. Por outro lado, ele destaca que o neurotransmissor é essencial para o funcionamento do corpo e é autorregulado, ou seja, não é necessário nenhuma preocupação com sua liberação.
Fontes: BBC, Cuidaí, Papo de Homem
Imagens: Towards Data Science, theravive, Divinity School, Insider, SEJ