O Brasil e o mundo perderam uma parte expressiva dos registros que remontam a história do humanidade no domingo, dia 2 de setembro. O Museu Nacional do Rio de Janeiro foi consumido por um incêndio de grande proporção e suas causas ainda não foram devidamente esclarecidas.
Conforme especialistas, fundado por Dom João 6º em 6 de agosto de 1818, há 200 anos; o museu era considerado um dos maiores acervos de antropologia e de história natural do país, com nada menos de 20 milhões de itens.
E os títulos do Museu Nacional do Rio de Janeiro não param por aí. Localizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, ele é o mais antigo entre os museus e é ainda considerado uma das instituições científicas mais importantes do Brasil.
O mais triste de tudo é que o fogo varreu registros e peças que eram exemplares únicos. Não se tem ideia ainda do tamanho do prejuízo envolvendo essa tragédia, mas no acervo do museu estavam esqueletos de dinossauros e múmias egípcias.
Isso sem contar os milhares de utensílios produzidos por civilizações ameríndias, que remonta a era chamada pré-colombiana, que incorpora todas as subdivisões periódicas na história e na pré-história das Américas, antes do aparecimento dos europeus no continente.
História do Museu Nacional do Rio de Janeiro
Mas, antes de aprofundarmos nas possíveis perdas em seu acervo, vamos primeiro entender a importância histórica do Museu Nacional do Rio para o Brasil.
Embora estivesse sob administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as instalações do museu serviram de residência à família real portuguesa, entre os anos de 1808 a 1821. O palácio também já foi o lar da família imperial brasileira de 1822 a 1889, e chegou a sediar a primeira Assembléia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso de museu, o que só aconteceu em 1892.
A criação do museu, que antes se chamava Museu Real, visava atender aos interesses de promoção do progresso sócio-econômico do país por meio da difusão da educação, da cultura e da ciência. Aliás, ele chegou a ser considerado o mais importante museu do gênero na América do Sul ainda no século 19.
Prédio sem alvará
O incêndio no Museu Nacional começou às 19h30 de domingo, dia 2 de setembro. Ele estava fechado para o público e só havia quadro seguranças presentes no momento. Felizmente, não foram registradas vítimas do fogo.
Conforme o site do site BBC News Brasil, os bombeiros enfrentaram dificuldades para conter as chamas e às 23h20 o incêndio ainda não estava controlado. Conforme o Corpo de Bombeiros, os membros da corporação tiveram problemas para encontrar água em hidrantes da região, já que os dois mais próximos estavam sem carga.
Ainda segundo o coronel Roberto Bobadey, comandante-geral dos Bombeiros, o prédio do Museus não tinha alvará para funcionar.
Até o momento as causas do incêndio ainda não foram descobertas.
Perda incalculável
Por meio de nota, divulgada ainda no dia 2 de setembro, o Portal do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) manifestou seu pesar pelo incêndio e pela perda de grande parte da história contada no Museu Nacional:
“O incêndio que destruiu o Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, neste domingo (2) é a maior tragédia museológica do país. Uma perda incalculável para o nosso patrimônio científico, histórico e cultural.
Tamanha perplexidade que toma a todos, nos defronta com o maior desafio dos museus: consolidar e implementar uma política pública que garanta, de forma efetiva, a manutenção e conservação de edifícios e acervos do patrimônio cultural brasileiro.
O Instituto Brasileiro de Museus manifesta solidariedade aos servidores e pesquisadores do Museu Nacional nesse triste registro de sua história”, divulgou.
Confira o que tinha no acervo do Museu Nacional:
1. Luzia
Um dos itens mais importantes do acerto do Museu Nacional é o crânio de Luzia, como foi carinhosamente apelidado o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil.
Descoberto em 1974, pela arqueólogo francesa Annette Laming-Emperaire, o fóssil encontrado em Minas Gerais teria algo em torno de 11.300 anos.
2. Sala dos dinossauros
Outro grande destaque da coleção paleontológica do Museu Nacional do Rio de Janeiro era o esqueleto Maxakalisaurus topai, pertencente ao primeiro dinossauro de grande porte a ser montado em nosso país. Seus fósseis também foram encontrados em Minas Gerais.
O dinossauro, aliás, chegou a passar meses desmontado e sua sala, fechada para o público, em 2017. A decisão foi tomada depois de um ataque de cupins à base de sustentação do fóssil, que foi guardado em caixas depois disso.
O espaço do Museu Nacional só foi reaberto em julho de 2018, depois de uma campanha de financiamento coletivo na internet, para custear as restaurações necessárias.
3. Coleção de paleontologia
Aliás, os catálogos do Museu Nacional do Rio apontam que o prédio abrigava uma das mais importantes coleções paleontológicas da América Latina, somando 56 mil exemplares e 18,9 mil registros.
Na colação estavam, principalmente, fósseis de plantas e animais, do Brasil e de outros paíse, além de reconstituições e réplicas.
4. Meteorito Bendegó
Encontrado em Monte Santo, em território baiano, em 1794, o meteorito pesa 5.260 kg. A peça estava no museu desde 1888.
Acredita-se que esse tenha sido um dos poucos itens do acerto do Museu Nacional a sobreviver às chamas, por ser um objeto metálico pesado.
5. Caixão de Sha Amun en su
A coleção arqueológica egípcia do Museu contava com mais de 700 peças, com direito a múmias e sarcófagos; e era considerada a maior da América Latina e a mais antiga do continente. Não se sabe o quanto dela ainda resta.
O caixão de Sha Amun en su era uma das atrações mais procuradas pelo público durante as visitações nessa seção. Para quem não sabe do que se trata, esse era um presente que Dom Pedro 2º recebeu, em 1876, durante sua 2ª visita ao Egito.
6. Trono de Daomé
Esse foi outro presente recebido pela coroa portuguesa, dado mais exatamente a Dom João 6º, em 1811. O trono pertenceu ao rei africano Adandozan (1718-1818) e foi doado ao monarca português por embaixadores africanos.
7. Coleção de arqueologia clássica
Composta por 750 peças, a coleção trazia relíquias das civilizações grega, romana e etrusca. Até o incêndio, pelo menos, essa era considerada a maior coleção do gênero na América Latina.
8. Artefatos de civilizações ameríndias
Repleta de artefatos da cultura indígena, como objetos raros do povo Tikuna; e da afro-brasileira; essa coleção contava também com muitos itens de culturas do Pacífico. Ao todo, o Museu contava com pelo menos 1.800 artefatos de civilizações ameríndias da era pré-colombiana.
Tanta variedade era possível porque o Museu Nacional foi concebido nos moldes dos museus europeus. Quando foi inaugurado, aliás, Dom Pedro 1º escreveu que o objeto do então Museu Real era “propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais do Reino do Brasil”.
Lamentável uma notícia assim, não acha, caro leitor?
Agora, falando em registros importantes para a humanidade, você precisa conferir ainda: Páginas do Diário de Anne Frank censuradas por anos são reveladas.
Fontes: BBC, Museu Nacional, Acesse Política, Ibram, Fala Universidades
2 comentários em “Museu Nacional: o que tinha no acervo consumido pelo incêndio”