Naram-Sin, quem foi o rei acadiano que se considerava um deus vivo?

Na antiga Mesopotâmia, o jovem rei acadiano Naram-Sin, ficou conhecido por suas grandes conquistas. E também, por seu conflito religioso com os sacerdotes.

Naram-Sin foi um jovem rei acadiano que governou entre 2254 e 2218 a.C. Em suma, os acadianos foram um povo semita, proveniente da região setentrional da Arábia, entre Síria e o Mar Morto. Também chamados de habitantes do ‘País de Acad’, deram origem ao período pré-clássico chamado Acádico (2350- 2150 a.C.). Então, sob o comando do rei Sargão, os acadianos invadiram a Mesopotâmia. E lá formou um império que se estendeu do Golfo Pérsico até Capadócia e de Elam à Síria.

O rei Naram-Sin se auto-intitulava como um deus, assim como os faraós. Mas, é importante saber que apesar das semelhanças culturais, políticas e sociais entre Egito e Mesopotâmia, há diferenças. Como, o status do governante principal de cada um, por exemplo. Enquanto que no Egito Antigo, houve a unificação de dois reinos formando um só governo, tendo o faraó como governante principal e mandatário supremo. Sendo considerado um deus.

Mas, na Mesopotâmia, a realidade era outra. Em suma, o governante principal, chamado de patesi, não possui atribuição de deus. No entanto, seu poder é considerado como de origem divina. Portanto, diferentemente da realidade faraônica, na Mesopotâmia o poder é deificado, porém, o monarca não. Por fim, o fato do rei Naram-Sin se considerar como um deus trouxe drásticas consequências para Acádia.

A origem do poder dos mesopotâmios

Paradigmas

Antes de falarmos sobre o rei Naram-Sin, precisamos entender a origem do poder dos mesopotâmios. De acordo com pesquisadores, a Mesopotâmia não foi unificada num único reino como foi no Egito. Além disso, a Mesopotâmia era constituída por diversos reinos e impérios que viviam em disputas. Dessa forma, o poder do monarca era marcado pelo mundo religioso. Assim como as estruturas sociais eram marcadas por justificativas mitológicas da realidade.

Segundo os textos religiosos desde a Suméria, o poder dos monarcas tem sua origem em um conflito ocorrido no mundo dos deuses. Em suma, antes da origem da humanidade, existiam apenas os deuses. E, esses deuses eram divididos entre os Annunaki, deuses grandes e principais que regiam a natureza e governavam o mundo. E os Igigu, deuses menores que eram servos dos Annunaki.

Dessa forma, os dois grupos agiam de acordo com seu propósito para manter o mundo em Ordem. Porém, os Igigu não estavam felizes com a hierarquia. Então, organizaram um movimento e pararam de trabalhar para os Annunaki como protesto.

Então, para evitar o Caos, que destruiria seu legado de Ordem, os Annunaki tentaram atender as exigências dos Igigu. Para isso, Anu, deus ligado ao céu e pai de todos os deuses, idealizou a criação de seres que pudessem substituir os Igigu nos trabalhos na Terra. Pois, assim aliviaria os esforços dos deuses menores, o que deu origem aos seres humanos.

Diante da nova realidade, a tríade de deuses principais, Anu, Enki e Ea, criam a figura do rei. Que receberam a missão de representar a busca pela Ordem e ser uma conexão entre o mundo material com o divino. Portanto, o monarca mesopotâmico não é considerado um deus. Mas é responsável pelo prosseguimento e organização das esferas da sociedade.

Naram-Sin: o Rei da Dinastia Akkad

The Strange Continent

O jovem rei Naram-Sin era neto do rei Sargão, fundador da Dinastia Akkad (Império de Acádia), com sede em Akkad, ao norte da Babilônia. Em suma, Sargão foi o responsável pela unificação da Mesopotâmia no século XXIV a. C. Ademais, Naram-Sin reinou após Rimush (seu tio) e Manishtusu (seu pai). Seu reinado durou 36 anos, entre 2254 e 2218 a.C. E ficou conhecido como um grande conquistador.

Enquanto seu avô Sargão se autodenominava ‘Rei de Kish’, Niram-Sin era ‘Rei dos quatro cantos do Universo’ e um ‘deus vivo’. No entanto, esse estatuto foi uma inovação, já que até então, nenhum de seus antecessores de consideravam como deus. De acordo com a estela da vitória de Niram-Sin (exposta no Museu do Louvre), essa deificação aconteceu a pedido dos cidadãos. O motivo, provavelmente seria devido a uma série de vitórias militares pelo jovem rei.

Por fim, Naram-Sin expandiu o território de Acádia e melhorou a administração, padronizando a contabilidade. Além disso, aumentou a proeminência religiosa, instalando cultos importantes nas cidades babilônicas.

A Estela da Vitória de Naram-Sin

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A estela da vitória de Naram-Sin é um monumento, cujo objetivo era celebrar as vitórias do rei e de seu exército sobre Satuni, rei dos Lullubi. Em suma, a estela representa o momento em que o exército acadiano e seu líder sobem as montanhas de Zagros, eliminando qualquer resistência. Ademais, a estela comemora a conquista do monarca, com inscrições oficiais que e o coloca com posição de um deus.

Dessa forma, o monarca é representado em dimensões maiores no centro da estela. De forma a destacar sua glória em relação aos outros. Além disso, o rei está com o olhar direcionado para o topo da montanha. Onde os astros parecem emanar proteção divina e glória aos vitoriosos. Por fim, Naram-Sin usa um capacete adornado com chifres. Que era um símbolo tradicional dos deuses. Portanto, se trata de um monumento que representa a vitória e glorificação de um importante soberano do Império de Acádia.

A estela da vitória de Naram-Sin foi encontrada por arqueólogos em Susa, no Iraque. Atualmente, ela se encontra exposta no Museu do Louvre, Paris, na França.

O rei que pensava ser deus

Wikimedia

A Acádia foi o primeiro reino mesopotâmico a empreender uma campanha de dominação de toda a região e a se tornar um império. Que ia da Suméria até os reinos de Mari, cuja estabilidade política era considerável. No entanto, essa estabilidade muda quando Naram-Sin assume o trono de Acádia e se autodenomina como um deus vivo.

No entanto, esse ato gerou conflitos políticos, devido à tradição política local e suas instituições. Ou seja, ao se declarar como deus, Naram-Sin entra em contradição com toda a cultura religiosa acadiana. Resultando, em uma declaração de guerra com os representantes oficiais religiosos, os sacerdotes.

Mesmo o monarca tendo autonomia e poderes sobre as instâncias religiosas, o Templo nunca deixou de ser uma instituição poderosa. Portanto, criar conflito com o sacerdócio gerou grande instabilidade para o governo de Naram-Sin. Pois, seus atos heréticos feriam o pacto místico entre a dinastia real e os Annunaki. Ao mesmo tempo, quebrava a tradição de Ordem. Cuja responsabilidade era do rei.

Por fim, o rei Naram-Sin foi considerado como um perigo para o futuro de Acádia e para a estabilidade do mundo. Com o grande impacto causado, a dinastia sargônica implodiu. Resultando na mudança da capital Akkad para Ereque, após sua morte.

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Fontes: Aventuras na História, HAV

Imagens: Flickr, Paradigmas, Wikimedia, The Strange Continent, Pinterest

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