Biscoito ou bolacha: afinal de contas, qual é o certo?

A rixa histórica existe, mas a verdade é que os termos fazem parte da língua portuguesa e significam a mesma coisa.

Biscoito ou bolacha? Qual o termo que você e as pessoas da sua região usam para fazer referência àquele lanche caseiro ou industrializado, crocante, doce ou salgado; responsável por tanto bate-boca ao longo da história do Brasil?

Apesar de muita gente discutir com afinco sobre o porquê que se deve chamar essa comidinha polêmica de biscoito ou bolacha, a verdade é que ambos os termos estão corretos na língua portuguesa e também na legislação brasileira.

Aliás, segundo a Vigilância Sanitária – que é quem regula a produção desses alimentos em território nacional – considera os dois termos sinônimos. As duas palavras, segundo a agência, significam a mesma coisa quando o assunto é a forma que esse alimento é produzido hoje em dia no país (o porquê disso você confere um pouco mais abaixo, quando entrarmos na parte histórica do assunto).

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Na lei, o órgão define biscoito ou bolacha como: “produto obtido pelo amassamento e cozimento conveniente de massa preparada com farinhas, amidos, féculas fermentadas, ou não, e outras substâncias alimentícias”.

Biscoito ou bolacha, o legado brasileiro

E agora uma curiosidade a mais sobre o assunto: você sabia que o Brasil é o segundo maior produtor de biscoito ou bolacha no mundo? A informação é da Associação Nacional da Indústria de Biscoitos (Anib).

Segundo o órgão, o produto está presente e, até 99,9% dos lares brasileiros.  Na sua casa, por exemplo, tem come biscoito ou bolacha?

A história do biscoito

Para quem não sabe, biscoito ou bolacha, como você preferir, se trata de um alimento muito antigo e nem sempre foi tão gostosinho como a versão que conhecemos hoje em dia.

Conforme historiadores, esse alimento há muitos século, quando alguém teve a brilhante ideia de começar a triturar os cereais, acrescentar água e assar essa mistura duas vezes para ficar bem sequinho e crocante. Com a prática, além de mais fácil para comer, as pessoas perceberam que os cereais duravam mais tempo e podiam ser estocados de uma forma mais fácil.

Biscoito ou bolacha: afinal de contas, qual é o certo?

Logo, a palavra biscoito (sim, foi o termo que surgiu primeiro) vem do latim “biscoctus” e faz referência ao modo de preparo desse alimento: “bis”, quer dizer duas vezes; e “coctus”, significa cozido. No Brasil, a palavra já chegou afrancesada, se popularizando primeiro como “bescuit”.

No Brasil, conforme representantes da Anib, a única receita que vai ao forno não duas, mas quatro vezes, é a de biscoito ou bolacha doce recheada.

A etimologia da bolacha

Por outro lado, a palavra “bolacha” vem de “bolo” e também vem do latim. Na antiga língua, “bulla”, dizia respeito a objetos esféricos; enquanto o “acha” se tratava de um sufixo e indicava o diminutivo. Logo, a tradução literal para o termo original seria “bolinho”.

Aliás, as palavras “cookie” e “cracker”, significa a mesma coisa e vêm do termo holandês “koekje”, criado para diferenciá-los do tradicional biscoito, seco e duro. Nesse caso, a receita do alimento leva um componente responsável pelo crescimento da massa, como o fermento.

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Mas, se você está utilizando esse ponto para defender que a comida deve ser chamada de bolacha, desista, porque hoje em dia – pelo menos no Brasil -, todos os produtos dessa categoria levam fermento.

Biscoito e bolacha na gramática

Claro que existe uma questão de regionalismo no que diz respeito a reconhecer esse delicioso alimento sobre o qual debatemos como biscoito ou bolacha. Em partes das regiões Sudeste (exceto Minas Gerais, onde os dois termos são populares), Norte e Nordeste a comida é chamada de biscoito. Enquanto isso, na maioria dos estados do Norte, do Centro-Oeste (exceto o Distrito Federal), do Sul e em São Paulo – o único lugar do Sudeste – biscoito é bolacha.

Mas, a briga pode ir muito mais longe. Há quem bata o pé sobre o alimento ser biscoito devido não só à forma que ele começou a ser feito, mas também pela ordem histórica que as palavras entraram na língua portuguesa.

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Conforme matéria da Super Interessante, da Editora Abril, o registro histórico mais antigo já encontrado com referência ao termo “bolacha” data de 1543. No caso do “biscoito”, os registros são muito mais antigos, de 1317, ainda sob a grafia “bíscoyto”.

De comida de marinheiro a símbolo de prosperidade

Mas, independente da nomenclatura, o que importa é que biscoito ou bolacha se trata de um alimento com muita história para contar.

Na época das grandes embarcações, por exemplo, a principal comida nas longas viagens marítimas eram esses produtos assados, de consistência extremamente dura naquela época; já que duravam meses e serviam de ótimas fontes de energia para os marinheiros. Esses, coitados, só conseguiam comer esses alimentos molhados em sopas ou em chás.

Mais tarde, quando biscoito ou bolacha já havia se popularizado na Europa e sua receita já havia tomado os rumos dos saborosos alimentos que conhecemos hoje, esse se tornou também um símbolo de nobreza e de prosperidade.

Biscoito ou bolacha: afinal de contas, qual é o certo?

O biscoito ou bolacha Maria, por exemplo, surgiu em 1879, para comemorar o casamento da duquesa Maria Alexandrovna da Rússia com o Duque de Edimburgo. Na época, uma padaria inglesa criou a receita em homenagem à Grã-Duquesa, que nem era tão popular assim no lugar por sua fama de arrogante.

O que importa é que o biscoito ganhou fama na Europa e, na Espanha, depois da Guerra Civil e de seus anos de pobreza profunda, a bolacha Maria se tornou símbolo de prosperidade econômica e da recuperação do país. Isso porque caixas e mais caixas do alimento tomaram conta dos mercados somente devido aos excedentes da farta lavoura de trigo que a nação conseguiu produzir logo depois de 1939, quando o período crítico foi encerrado.

Fala sério, você imaginava que um simples biscoito ou uma deliciosa bolacha pudessem relevar tanto sobre a história da humanidade? Não deixe de comentar!

Agora, falando em polêmicas que nossa amada língua portuguesa nos proporcional, não deixe de conferir ainda: Você sabe as regras de uso dos porquês? Faça o teste e descubra.

Fontes: Super Interessante, PUC – SP

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