O black power é um estilo de cabelo bastante poderoso e chamativo. Mas isso não diz respeito somente à parte estética do visual, já que sua origem está diretamente ligada a manifestações sociais, políticas e culturais contra o racismo.
Durante a década de 60, nos Estados Unidos, houve uma forte organização de movimentos negros, a fim de combater o preconceito racial na região. Dentre desse contexto, a revolução passou por várias áreas, incluindo a expressão visual desse povo.
Dessa maneira, o black power surgiu como uma das manifestações de orgulho negro, representando mais do que apenas uma escolha estética.
Escravidão e segregação racial
Assim como no Brasil, o processo de colonização dos Estados Unidos contou com a exploração da força de trabalho de escravos africanos. Ainda que os remanescentes da cultura racista sejam vistos nos dois países, nos nossos vizinhos norte-americanos a miscigenação não aconteceu da mesma maneira.
Nos EUA, a segregação racial era uma prática comum – e legalizada – até meados do século XX. É por isso, portanto, que os movimentos de direito dos negros também surgiram por lá com maior intensidade.
Logo após o fim da Guerra Civil americana, no fim do século XIX, as primeiras leis já garantiam a segregação de maneira oficial. A contestação direta das práticas racistas só veio a ganhar força cerca cem anos depois. E foi exatamente nesse contexto que o black power despontou como um dos símbolos de luta.
Leis de Jim Crow e Ku Klux Klan
As leis locais e estaduais que oficializavam práticas de segregação racial nos EUA ficaram popularmente conhecidas como Leis de Jim Crow. O nome foi inspirado pelo personagem Jim Crow, que reforçava estereótipos racistas a partir da caricatura negra feita por um ator branco com blackface.
Entre as principais restrições que as leis impunham estavam: limitação do acesso ao transporte público, com negros restritos ao fundo dos ônibus; banheiros e bebedouros separados para negros; escolas separadas para população negra; e estabelecimentos comerciais que podiam recusar atendimento a negros.
Ao mesmo tempo que surgiram as primeiras leis de segregação, também foi criada a Ku Klux Klan (KKK). A seita surgiu com base em ideais de supremacia branca e atacava os negros libertos da escravidão.
Apesar de não ser uma organização governamental, em vários locais e ocasiões, a KKK recebeu respaldo do poder público. Além de praticar racismo por meio de tortura e homicídio, o grupo chegou a atacar brancos que eram contra as práticas cruéis.
Surgimento do black power
O primeiro registro histórico conhecido do nome black power é datado de 1954. Na ocasião, o autor Richard Wright publicou um livro que trazia a expressão no título.
Na década seguinte, o movimento acabou surgindo de forma mais organizada. A principal ideia era valorizar sentimentos de autoconfiança e autodeterminação negra, diante do racismo estrutural. Dessa maneira, os ativistas afro-americanos passaram a lutar por seus direitos com foco no orgulho racial e celebração de sua cultura.
Além da criação de organizações para defender costumes negros nos âmbitos políticos e culturais, a valorização de uma estética negra e dos atributos étnicos típicos também faziam parte do movimento.
O estilo de cabelo acabou tornando-se um dos principais símbolos do movimento black power, que lutava pela aceitação do negro na sociedade norte-americana. Além de buscar valorizar o estilo por sua singularidade estética, ele também foi associado diretamente a uma luta política e social.
Panteras Negras
Uma das organizações black power mais influentes da década de 60 surgiu em 1966, em Oakland (Califórnia). O Black Panther Party for Self Defense (Partido dos Panteras Negras para Autodefesa) era guiado por uma posição de firmeza na luta por direitos políticos.
Sendo assim, parte da militância envolvia enfrentar e desafiar políticas e autoridades com veemência, na intenção de proteger outros negros de violências e injustiças. Ao mesmo tempo, o movimento contava com serviços comunitários que ajudam a fornecer condições de sobrevivência, como transporte, roupas e alimentos.
Além de pregar a igualdade étnica, os Panteras Negras também buscavam maior igualdade de gênero na sociedade. Para isso, o grupo contava com várias mulheres na organização e papéis de liderança.
Legado black power
A partir de meados dos anos 70, o movimento black power perdeu força, se comparado ao auge na década de 70. Entretanto, ao menos esteticamente o impacto continuou sendo percebido por muito tempo, em artistas da black music, por exemplo.
Ao enfatizar o orgulho negro por meio do cabelo, o movimento ajudou a influenciar e promover mudanças políticas sociais.
A partir dos anos 2010, o movimento ganhou nova força a partir das manifestações de Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). A luta começou nos EUA, diante de casos de racismo, e acabou espalhando-se pelo mundo.
Fontes: Afreaka, Salonline, Fashion Bubbles
Imagens: Marketplace, National Geographic, Ball State English Department, WGLT, Papel Pop, mais Novela
