Nas últimas duas décadas, campanhas de plantio em massa de árvores ganharam popularidade como um bálsamo para muitos de nossos problemas modernos, desde as mudanças climáticas até a crise de extinção. Empresas e bilionários adoram esse tipo de iniciativa. Assim como os políticos. Mas, o que acontece quando os números maciços de reflorestamento ficam apenas no papel, ou seja, são apenas “florestas fantasmas”? Vamos discutir essa problemática neste artigo.
Armadilhas do reflorestamento
As armadilhas do reflorestamento são inúmeras. Muitos reflorestamentos começam com o objetivo de capturar carbono para ajudar a combater as mudanças climáticas.
No entanto, projetos mal planejados e executados podem até aumentar as emissões de CO2, com impactos negativos de longo prazo na biodiversidade, paisagens e meios de subsistência, de acordo com pesquisa de 2021 realizada por cientistas do Royal Botanic Gardens, Kew e Botanic Gardens Conservation International (BGCI).
Floresta fantasma e o falso marketing verde
As campanhas de plantio de árvores geralmente são bem-intencionadas, mas muitas vezes ficam aquém dos benefícios que prometem, desde a captura de carbono até o fornecimento de refúgio para espécies raras.
Um dos exemplos mais impressionantes dessas “florestas fantamas” vem da pesquisa de Jurgenne Primavera, na costa de Iloilo, nas Filipinas. Em suma, um Programa Nacional de Esverdeamento tentou cultivar 1,5 milhão de hectares de florestas e manguezais entre 2011 e 2019,
Contudo, 90% das mudas morreram porque o plantio desse tipo de planta era mais viável em riachos lamacentos do que nesta área costeira arenosa.
O Bonn Challenge promete 350 milhões de hectares de árvores
Em 2011, anunciaram o Desafio Internacional de Bonn como um plano ambicioso para plantar 150 milhões de hectares de árvores até 2020. Em 2014, mais de 100 nações assinaram a Declaração de Florestas de Nova York, aumentando a meta para 350 milhões de hectares até 2030.
Ao contrário de muitas metas de desenvolvimento grandiosas, a maioria dos países está realmente a caminho de exceder suas promessas, pelo menos à primeira vista. Na verdade, o mundo tem mais cobertura florestal agora do que em 1982. Então, qual é o problema?
Bem, a maioria dos países utilizam os incentivos e o impulso global para apoiar as fazendas de monocultura e contar as árvores que serão cortadas em anos em seus totais do Bonn Challenge.
De acordo com a avaliação, 45% das árvores plantadas são de espécies que serão rapidamente colhidas para a produção de papel. Outros 21% eram espécies de fazendas de árvores, como frutas, nozes e cacau.
Apenas 34% das árvores plantadas faziam parte da chamada “floresta natural”, embora a intenção original do Bonn Challenge fosse que todos os hectares plantados fossem de floresta natural.
Soluções para o reflorestamento correto
À medida que nos aproximamos do início da Década de Restauração de Ecossistemas declarada pelas Nações Unidas; muitos especialistas florestais concordam que as soluções de reflorestamento devem ser locais – tanto em nível nacional quanto em nível florestal individual.
As florestas tropicais são particularmente importantes, porque têm o potencial de capturar mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta no mundo.
Em muitas regiões equatoriais, onde há grandes quantidades de terra disponíveis e uma grande necessidade de estímulo econômico, as florestas tropicais saudáveis podem gerar empregos; apoiar as tradições indígenas e capturar cerca de 3 bilhões de toneladas de carbono anualmente. Isso é o equivalente a tirar 2 bilhões de carros das ruas todos os anos.
As promessas gerais de metas específicas de plantio de árvores não funcionaram e deixam a porta aberta para interpretações errôneas prejudiciais.
Desse modo, mais pesquisas e conscientização são necessárias para entender a importância dos diferentes ecossistemas e mais prioridade dada à proteção e manutenção dos ecossistemas naturais intactos. Por fim, vale lembrar que a ideia de que plantar qualquer árvore ajuda é simplesmente obsoleta e enganosa.
Então, achou interessante saber mais sobre as florestas fantasmas? Pois, leia também: Climatariano: o estilo de vida contra mudanças climáticas
Fonte: BBC