Um grupo acusado de aplicar um golpe estimado em R$ 725 milhões em uma idosa e víuva de um colecionador de arte foi alvo de uma operação na última quarta (10), no Rio de Janeiro. Nesse valor estão incluídas 16 obras de artistas como Tarsila do Amaral, Cícero Dias e Di Cavalcanti.
Em suma, Geneviève Boghici, esposa de Jean, caiu em um golpe milionário aplicado por uma quadrilha que tinha a própria filha como integrante. De acordo com a Polícia Civil, além da mulher, outras três pessoas, sendo uma delas a vidente “Mãe Valéria de Oxossi”, foram detidas.
Como ocorreu o golpe em idosa e quais os envolvidos?
O plano para roubar a fortuna da idosa foi ideia da própria filha. Em 2020, uma mulher foi contratada para se aproximar da viúva e afirmar que alguém da família iria morrer. A suspeita então apresentou Geneviève para uma suposta cartomante e mãe de santo.
Na ocasião, o trio disse que a filha da idosa iria morrer e, para salvá-la, ela teria que pagar uma quantia milionária para o trabalho. Desse modo, em 15 dias, a idosa pagou R$ 5 milhões para o grupo.
O próximo passo da filha foi isolar a mãe, por isso ela demitiu os funcionários que trabalhavam para ela. No entanto, quando a idosa percebeu que havia caído em um golpe, ela parou de fazer os repasses e passou a receber agressões e ameaças da filha.
A Polícia Civil destacou ainda que apenas integrantes da quadrilha visitavam a vítima.
Cárcere privado
Após duas semanas realizando transferências bancárias milionárias, Geneviève foi presa dentro de casa. Com o pretexto da pandemia da Covid-19, Sabine dispensou os funcionários que trabalhavam para a mãe, passou a controlar os telefones e a impediu de sair de casa.
Assim, entre janeiro de 2020 e abril de 2021, a idosa foi ameaçada de morte, por vezes com uma faca em seu pescoço, e mal alimentada pela filha. De acordo com o delegado, Geneviève conseguiu fugir em 7 de abril de 2021, após ser deixada sozinha em casa. A idosa usou uma chave reserva que tinha para escapar.
A demora para denunciar o caso, no entanto, se deu por não querer denunciar a própria filha. Contudo, em janeiro deste ano, Geneviève decidiu contratar um advogado e denunciar o caso.
Quais obras foram roubadas?
A quadrilha roubou 16 obras de artes, sendo que um deles, o “Sol Poente” de Tarsila do Amaral, que deu nome a operação, foi encontrado pela polícia embaixo da cama da vidente. Aliás, apenas esta obra é avaliada em R$ 250 milhões.
Este quadro foi uma das obras salvas em 2012, época em que a casa de Jean Boghici pegou fogo em Copacabana. No incidente, obras milionárias, como “Samba” (1925), de Di Cavalcanti, e “Floresta Tropical” (1938), de Guignard, foram destruídas.
Além disso, outros três quadros avaliados em mais de R$ 300 milhões foram recuperados em uma galeria de arte de São Paulo. À polícia, o dono do local revelou que não desconfiou do golpe e que chegou a vender dois quadros para o Museu de Arte Latino-Americano.
Ao todo, foram expedidos seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão. A Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade é a responsável pela investigação.
Lista de todos os quadros roubados
A polícia listou 16 obras roubadas no golpe contra a idosa, são elas:
- O Sono, de Tarsila do Amaral: R$ 300 milhões;
- Sol Poente, de Tarsila do Amaral: R$ 250 milhões;
- Pont Neuf, de Tarsila do Amaral: R$ 150 milhões;
- O Menino, de Alberto Guignard: R$ 2 milhões;
- Elevador Social, de Rubens Gerchman: R$ 1,5 milhão
- Mascaradas, de Di Cavalcanti: R$ 1,5 milhão;
- Maquete Para Meu Espelho, de Antônio Dias: R$ 1,5 milhão;
- Aquarela sem título, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
- Coruja ao Luar, de Kao Chi-Feng: R$ 1 milhão;
- Ela, aquarela, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
- Porto de Pesca rem Hong-Kong, de Kao Chien-Fu: R$ 1 milhão;
- Mulher na Igreja, de llya Glazunov: R$ 500 mil;
- Desenho representando uma paisagem, 1935, de Alberto Guignard: R$ 150 mil;
- Église Saint Paul, de Emeric Marcier: R$ 150 mil;
- Retrato, de Michel Macreau: R$ 150 mil;
- Rue des Rosiers, de Emeric Marcier: R$ 150 mil.
Outros casos famosos envolvendo roubo de obras de arte
Além do golpe contra a idosa viúva de Jean Boghici, outros furtos e roubos e colecionadores também podem ser destacados:
1. Roubo à casa de Jacob Lafer
Em 15 de setembro de 2001, quatro homens invadiram a casa do empresário Jacob Lafer e levaram as obras de arte no carro da própria família.
Eram dois de Di Cavalcanti, dois de Portinari, um de Tarsila do Amaral, um de Volpi, um de Pancetti, um de Guignard, dois de Manabu Mabe, três de Teruz e dois outros cujos autores, a polícia não identificou.
As obras, avaliadas em R$ 10 mi, foram recuperadas quatro dias depois, na casa de um dos suspeitos, na zona leste de SP. Além disso, um homem foi detido.
2. Roubo à casa da colecionadora Graziela Lafer Galvão
Três anos depois, em março de 2004, 3 homens armados levaram obras de arte, entre elas, obras de Cândido Portinari e Di Cavalcanti. A polícia encontrou as obras, avaliadas em R$ 20 mi, perto da igreja Nossa Senhora do Ó, na Freguesia do Ó, zona norte de SP. Por fim, todos os suspeitos foram detidos.
3. Roubo ao Museu Chácara do Céu
Em 24 de fevereiro de 2006, quatro homens invadiram o Museu da Chácara do Céu, no Rio, e levaram quatro quadros: “A dança” de Picasso, “Marinha” de Claude Monet, “O Jardim de Luxemburgo” de Henri Matisse e “Os dois balcões” de Salvador Dalí. As quatro obras, juntas, têm valor estimado de US$ 50 milhões (R$ 155 mi).
Parte da obra “A Dança” foi descoberta numa fogueira no morro dos Prazeres, também no Rio. Por outro lado, os ladrões chegaram a anunciar “O Jardim de Luxemburgo” num site de leilões de Belarus (país europeu). Aliás, o lance mínimo era de US$ 13 mi.
4. Furto ao MASP
Em 20 de dezembro de 2007, três homens furtaram dois quadros do Masp: “O lavrador de Café” de Cândido Portinari, com valor estimado de US$ 5,5 m;i e “O Retrato de Suzane Bloch”, de Pablo Picasso, com valor estimado de US$ 50 mi. Somados, os dois valeriam R$ 172 milhões
A polícia recuperou os quadros mais de dois anos depois, em janeiro de 2010, numa casa em Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo); após obter informações de um suspeito. Na casa, dois outros homens foram presos.
5. Estação Pinacoteca
Em 12 de junho de 2008, assaltantes levaram a obra “Mulheres na Janela” de Di Cavalcanti, “O pintor e seu modelo” e “Minotauro, bebedor e mulheres” de Picasso, além de “Casal” de Lasar Segall, da Estação Pinacoteca, em SP. Com valor total estimado em R$ 1 milhão, a polícia recuperou as obras em dias e em locais diferentes de São Paulo.
6. Roubo à casa de Ilbe Birosel Maksoud
No Dia das Mães de 2009, homens disfarçados de entregadores de flores invadiram a residência de Ilde Birosel Maksoud e roubaram obras de arte de Portinari, Picasso, Tarsila do Amaral e Orlando Teruz. Avaliadas em R$ 3,5 milhões, a polícia encontrou as obras dois dias depois perto da estação Palmeiras – Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.
7. Roubo dos Volpis
Por fim, em outubro de 2011, seis obras, incluindo Volpis, avaliadas entre R$ 7 e 9 milões, foram roubadas numa casa nos Jardins, em São Paulo. A polícia as recuperou na quinta-feira, 12 de março de 2015, em São Sebastião. Três suspeitos da receptação foram presos.
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Fontes: G1, Exame, Correio 24 horas