Em 31 de março de 1964, um golpe militar foi deflagrado contra o governo legalmente constituído de João Goulart, o famoso “Jango”.
A tomada de poder instaurou no Brasil a Ditadura Militar, que durou exatamente 21 anos, se estendendo até 1985. Os militares assumiram o país , controlando-o com mãos de ferro.
O político liberal, filósofo e teórico político Edmund Burke afirmou certa vez que: “Um povo que não conhece a sua história, está condenado a repeti-la”. A frase não poderia ser mais real.
Na tentativa de entender nossa própria história, em um resgate necessário e urgente do passado, o Segredos do Mundo trouxe um dossiê completo sobre o Golpe Militar de 64, desde as circunstâncias que levaram a isso até as consequências.
Jânio Quadros, Jango e a crise política
Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou ao seu posto como presidente do Brasil em meio a um crise política. Quem assumiu foi o seu vice, João Goulart, conhecido pelo povo como “Jango”.
João Goulart era populista, sendo considerado o herdeiro político de Getúlio de Vargas. O principal plano do seu governo buscava uma grande reforma, batizada de Reforma de Base. Ela buscava a restruturação dos setores:
- Educacional;
- Fiscal;
- Político;
- Agrário.
Tanto a sua fama, quanto o seu plano e o seu jeito de governar o tornaram mal visto pela burguesia nacional. Ele incomodava tanto o governo norte-americano, que o considerava muito a esquerda, como também os conservadores brasileiros, que o consideravam comunista.
A partir daí, começou uma grande articulação política para desestabilizar o governo de Jango. Os Estados Unidos da América financiaram grupos conservadores do Brasil para atuar contra o presidente. A mídia também se uniu para tentar manchar sua imagem.
É bom lembrar que nesse momento, o contexto global era a Guerra Fria, aonde existia o estigma do comunismo contra o capitalismo. Consequentemente, a esquerda e direta nacional estava rachada como nunca antes até aquele momento.
Momentos antes do Golpe Militar
A desarticulação do governo de Jango é o inicio da articulação golpista, e levou a decadência do presidente vigente. Mesmo com dificuldades, ele ainda se destacava frente a população brasileira.
Dados do Ibope de março de 1964 apontam que 45% consideravam o governo vigente “bom” ou “ótimo”, e as intenções de voto para um possível candidatura de Goulart para disputa presidencial em 1965 eram de 49%.
Em 1963, os conservadores começavam a articular com os militares para um golpe. Enquanto isso, a esquerda também estavam mais energética e cobrava ações mais radicais do presidente, como a reforma agrária.
Só para esclarecer, a esquerda era composta por camponeses, operários e estudantes.
Diante desse contexto, Jango demonstrava enfraquecimento. Podemos ver isso em dois momentos:
- Revolta dos Sargentos: insatisfeitos por terem sido proibidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de ocupar cargos no Legislativo, sargentos dominaram prédios governamentais em Brasília. Depois de contidos, não houve nenhuma ação punitiva tomada por Jango, transparecendo impunidade para certa ala das Forças Armadas caso houvesse outras rebeliões.
- Estado de sítio: em outubro de 1963 Jango declarou Estado de sitio de 30 dias. A proposta foi rejeitada pelo congresso, porém, foi suficiente para mostrar que Jango estava perdido e não sabia o que fazer com toda a situação.
Março de 1964
Em 13 de março de 1964, Jango realizou o Comício da Central do Brasil. Junto a cerca de 200 mil pessoas, ele recuperava um discurso de luto e reafirmava o seu compromisso de realizar a Reforma de Base. Ele abria mão do seu discurso de reconciliação entre todas as partes, e abraçava de uma vez por todas sua luta pelos movimentos sociais.
Imediatamente ele viu nascer uma reação da ala conservadora, que dia 19 de março saiu com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Mobilizando 500 mil pessoas em São Paulo, a passeata lutava contra o comunismo e reivindicava a intervenção dos militares na política brasileira.
A passeata foi organizada pelo Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais). Isso deixou claro a extensão do poder dos grupos golpistas e o temor da classe média com as reformas e com os movimentos sociais que estouravam.
Golpe militar
O golpe militar estava sendo organizado pelo exército, pelos membros do Ipes e pelo governo norte-americano. Originalmente, a ação estava marcada para 10 de abril de 1964, porém, imprevistos aconteceram no dia 31 de março daquele ano.
O comandante da 4ª Região Militar, Olympio Mourão, iniciou uma rebelião em Juiz de Fora em 31 de março de 1964. Suas tropas marcharam em direção ao Rio de Janeiro com o objetivo de derrubar o governo. O Golpe Militar contava com o apoio do governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, e foi vista com desconfiança por membros das Forças Armadas, como Castello Branco.
Diante o ataque, João Goulart ficou sem ação. O presidente não tomou ações efetivas para deter os militares que marchavam contra o seu governo.
Os grupos de esquerda aguardaram ordens para uma possível resistência. No entanto, ela nunca aconteceu.
Jango sabia que uma resistência daria início a uma guera civil. Por causa disso, ele preferiu o isolamento.
Posteriormente, ele acabou tomando uma decisão ainda mais drástica, recorrendo ao exílio para o Uruguai. Lá, ele permaneceu até sua morte, em 1976.
Enquanto isso, os militares marchavam contra o governo. No dia 2 de abril de 1964, Auro de Moura, Senador da República, declarou vaga a presidência da República. Foi então que o caminho para que a Junta Militar foi aberto e o governo foi oficialmente tomado.
A ditadura militar
No dia 9 de abril de 1964, foi decretado o Ato Institucional nº 1. Nesse mesmo dia, a Ditadura Militar no Brasil começou a ganhar forma. Castello Branco foi o primeiro presidente militar do período, que durou até 1985, quando a democracia voltaria a ser restabelecida.
No primeiro momento, várias sedes de partidos políticos, associações, sindicatos e movimentos que apoiavam a Reforma de Base de Jango foram destruídas e tomadas por soldados fortemente armados.
Houveram cinco Atos Constitucionais ao todo, consolidando a Ditadura Militar. E, sem dúvidas, o Golpe Militar de 1964 foi o responsável por esse período. Instabilidade democrática, rombo nos cofres públicos, caos econômico e dividas externas altíssimas foram apenas algumas das consequências que ficaram desse período negro da história.
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Fonte: Brasil Escola Brasil Escola 2 FGV
Imagem: TN Hora do Povo Diário Causa Operária Outras Palavras Veja Veja
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