A enguia elétrica ou peixe-elétrico, com o nome científico Electrophorus electricus (sendo o gênero Electrophorus), é uma das poucas criaturas aquáticas que usa a eletricidade como arma.
Em suma, o Electrophorus electricus é, na verdade, um peixe-faca, mas devido à sua semelhança física com as enguias, é chamado de enguia. É encontrada principalmente nas águas sul-americanas.
Por 250 anos, os cientistas categorizaram a enguia elétrica como uma espécie singular, completamente sozinha em seu gênero. Entretanto, tudo isso mudou em 2019. Novas descobertas relatadas na Nature Communications revelam duas espécies adicionais: Electrophorus voltai e Electrophorus varii.
Usando dados genéticos, morfológicos e ecológicos, os cientistas identificaram três linhagens distintas de enguia elétrica na Grande Amazônia. Diferenças sutis na forma da cabeça e das guelras são as únicas pistas externas de sua diversidade.
Mas o que são peixes-elétricos e como eles produzem suas descargas? Leia mais a seguir.
Características do peixe-elétrico
As enguias elétricas têm órgãos “elétricos” que possuem células especializadas chamadas eletrócitos. Essas células podem gerar eletricidade de alta e baixa tensão, que é usada para caça, defesa e navegação, respectivamente.
A enguia elétrica passa por um grande desenvolvimento entre o nascimento e a idade adulta. Aliás, ela é única na ordem Gymnotiformes por possuir grandes órgãos elétricos.
Esses peixes são capazes de produzir descargas elétricas letais com a voltagem de choque da enguia elétrica variando de 1 volt a 850 volts massivos. Embora sua eletricidade de alta tensão seja perigosa, eles ainda são vulneráveis a predadores como piranhas, crocodilos e jacarés.
Um ponto importante a esclarecer é que a enguia elétrica pode ter a forma de uma enguia, mas não faz parte da linhagem da enguia. Com seus corpos lisos e acinzentados e bocas achatadas e desdentadas, os peixes-elétricos são um tipo de peixe-faca, mais relacionado ao bagre do que às enguias verdadeiras. Mas eles são o único gênero de peixe-faca que pode gerar fortes correntes elétricas para atordoar as presas.
Espécies descobertas na Amazônia
Uma das espécies recém-descobertas o poraquê – Electrophorus voltai – libera a corrente bioelétrica mais alta já registrada. Quando E. voltai flexiona seus músculos, ele gera 860 volts verdadeiramente eletrizantes, tornando-o de longe o choque mais forte de qualquer criatura viva.
Para efeito de comparação, as tomadas de parede fornecem apenas cerca de 120 volts e você certamente não vê muitas pessoas enfiando garfos nessas tomadas.
Todavia, 860 volts provavelmente não é o pico do desempenho da enguia elétrica. Os pesquisadores examinaram apenas 107 espécimes para o novo estudo e sabem que enguias mais longas tendem a dar choques mais fortes.
Ademais, o Electrophorus voltai recebeu esse nome em homenagem ao físico Alessandro Volta, criador da bateria elétrica. A outra espécie descoberta foi batizada de Electrophorus varii, tributo ao zoólogo Richard P. Vari, pesquisador do Smithsonian que morreu em 2016.
Hábitos e tempo de vida
A maioria dos peixes-elétricos são seres solitários e caçam sozinhos. Embora, um grupo de Electrophorus voltai tenha sido observado caçando em um grupo.
Porém, os pesquisadores determinaram que tais ocorrências são raras e podem ter ocorrido apenas porque havia comida suficiente para sustentar um grupo de enguias elétricas.
A vida média do peixe-elétrico é de cerca de 15 anos quando vive na natureza. Ao viver em cativeiro em condições de laboratório, as enguias elétricas machos tinham uma vida útil de 10 a 15 anos.
Por outro lado, também sob observação de campo, as fêmeas de enguia elétrica tiveram um ciclo de vida de 12 a 22 anos. Em resumo, sabe-se que as enguias elétricas sobrevivem em média 15 anos na natureza, enquanto podem viver até 12 anos em cativeiro.
Alimentação e reprodução
Peixes-elétricos adultos são carnívoros. Alimentam-se principalmente de peixes e pequenos vertebrados, como anfíbios, répteis e mamíferos. Com relação a reprodução, os pesquisadores têm teorias em mente de que os ovos podem ser colocados de uma vez ou em vários lotes durante o acasalamento.
Quanto à maneira como as enguias elétricas encontram seus parceiros, é bastante simples. Elas comunicam-se através da sua corrente elétrica e têm o poder de descobrir o sexo das enguias próximas e a sua compatibilidade. Tendo em mente que cada enguia elétrica tem sua onda elétrica única, essa comunicação é vital para encontrar um parceiro de acasalamento compatível.
Durante as estações secas, as enguias elétricas machos criam um ninho de sua saliva e, em seguida, as enguias elétricas fêmeas põem seus ovos nesses ninhos. Em média, as enguias elétricas fêmeas podem botar 17.000 ovos.
Depois que os ovos eclodem e dão à luz as larvas, os machos mantêm uma vigilância estrita sobre eles. Isso é especialmente importante porque o filhote pode servir de alimento para outros mamíferos maiores, como as piranhas, ou ser dispersado por enchentes durante a estação das chuvas.
Depois de nascerem, os peixinhos-elétricos se alimentam de pequenos invertebrados e também de ovos que não eclodiram para nutrição.
Outras curiosidades sobre o peixe-elétrico
Uma peixe-elétrico comum tem carga elétrica suficiente para alimentar 12 lâmpadas de 40 W, mas não pode sustentá-la por muito tempo. As enguias elétricas se especializam em pulsos de eletricidade, em vez de geração contínua de corrente elétrica.
Com relação as espécies recém descobertas, as qualidades da água eram diferentes nos habitats únicos das três espécies, com alguns tendo água com maior condutividade, o que pode ter causado os diferentes níveis de choques elétricos que cada uma pode produzir, conforme os cientistas.
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Fontes: G1, UOL, BBC, Superinteressante, Fapesp