Os humanos perderam os pelos do corpo durante a evolução? Essa parece ser uma conclusão óbvia, principalmente quando você olha para um daqueles quadros evolutivos clássicos em que o Homo sapiens se destaca diante de seus mais peludos parentes primatas.
Essa ideia, entretanto, não está totalmente correta, já que os seres humanos têm, sim, muitos pelos – tanto quanto algumas espécies de primatas. São pelo menos cinco milhões de folículos de pelos espalhados pela pele, mas a maioria desses são rasos e produzem filamentos muito curtos e finos, enquanto os outros primatas tem os pelos longos e grossos.
Mas como isso aconteceu? Sempre que falamos sobre a evolução do ser humano, temos de considerar as diversas mudanças que ocorreram ao longo dos milhares de anos.
Além da mudança na postura bípede, a presença de pelos (ou sua modificação), tem como explicação uma série de hipóteses elaboradas ao longo de anos de pesquisas e estudos antropológicos, que abordaremos nesse artigo. Lembramos que nenhuma dessas hipóteses está confirmada, e novas teorias podem ser elaboradas.
Por que a evolução fez os humanos perderem pelos do corpo?
Milhares de anos atrás, os pelos tinham papel importante na vida dos seres humanos. Eles permitiam uma proteção extra na pele, já que as pessoas estavam expostas às influências da natureza, principalmente do frio. No entanto, foram as mudanças climáticas as principais responsáveis pela perda ou transformações na pelagem humana.
Entre estas mudanças climáticas, tivemos há milhares de anos atrás, uma onda de frio que mudou a paisagem natural. As florestas se transformaram em grandes pastagens, habitats de outras espécies animais. Os pelos, que antes ajudavam os humanos a se proteger durante a busca por alimentos, passaram a incomodar. Nas pastagens e grandes espaços abertos das savanas, não era preciso mais subir tanto em árvores, por exemplo, nem tinha tanta cobertura vegetal como proteção.
Os pelos, portanto, não desapareceram completamente, foram se modificando por uma série de fatores, como o calor das savanas. As altas temperaturas e o excesso de pelos pelo corpo, faziam com que os hominídeos passassem por dificuldades durante a caça e a coleta de alimentos. E foi assim que, gradativamente, o Homo sapiens e seus antecessores fossem perdendo os pelos. Foi uma adaptação natural da espécie ao ambiente em transformação.
Algumas das hipóteses que foram elaboradas para explicar esse fato, foram:
Hipótese da savana ou do resfriamento do corpo
Essa é a opinião dominante entre os cientistas. Ela diz que a perda de pelos dos seres humanos é devida à necessidade de termorregulação do corpo dos primeiros hominídeos.
Isso teria acontecido ao longo do período Pleistoceno (entre 2.5 milhões e 11,7 mil anos atrás), quando um dos nossos antecessores, o Homo erectus, entre outros hominídeos, começou a praticar caça por persistência, durante horas, na savana aberta. Na caça de persistência, os caçadores perseguiam suas presas por várias horas até levá-las à exaustão.
Este tipo de atividade física pode ter colocado os hominídeos em risco de superaquecimento. A perda de pelos, portanto, teria permitido que eles suassem e se refrescassem com maior rapidez.
Essa teoria é reforçado por evidências de estudos que encontraram alterações em alguns dos genes responsáveis por determinar se certas células se desenvolvem para formar glândulas sudoríparas ou folículos capilares.
Hipótese dos ectoparasitas
Outra hipótese sobre a perda dos pelos característicos dos primatas envolve a questão dos ectoparasitas. Mark Pagal, professor de biologia evolutiva da Universidade de Reading, no Reino Unido, é um dos seus maiores defensores.
Os ectoparasitas são artrópodes que sobrevivem na pele de um hospedeiro durante alguma etapa de sua vida. Nessa classificação estão insetos como pulgas, moscas e piolhos, além dos ácaros, que são os carrapatos.
Parasitas foram e ainda são uma das maiores forças seletivas da história evolutiva humana, segundo Pagal. Ele diz que os ectoparasitas são um enorme problema, como as moscas que picam e transmitem doenças. Essas moscas se especializaram em pousar e viver nos pelos dos animais (e humanos) e depositar seus ovos neles, afirma.
Menos pelos, portanto, seria uma estratégia evolutiva bem sucedida diante dos ectoparasitas.
Hipótese do macaco aquático
Antes de mais nada, não há evidências conclusivas para se acreditar na existência do chamado “macaco aquático”.
A característica humana de menor cobertura por pelos, a distribuição dos pelos nas costas, a grande quantidade de gordura subcutânea e a boa habilidade em atividades natatórias e de mergulho deu origem a essa hipótese. Segundo ela, os humanos teriam passado por um estágio aquático. Entretanto, para confirmar essa hipótese, seria necessária alguma evidência mais forte, como, por exemplo, a descoberta de fósseis desse antepassado humano, o que não ocorreu até o momento. Nenhum ancestral humano se encaixa na descrição.
Temos sim, muitas histórias recorrentes de seres mitológicos pelo mundo. Estas vão desde a Uiara e o Ipupiara, entre os povos originários brasileiros, até as sereias europeias. Esse lado mítico e fantástico talvez explique o apelo que essa hipótese ganhou.
O ser humano, entenda-se, o Homo sapiens, tem mais ou menos 180 mil anos de história evolutiva. Se o macaco aquático tivesse existido entre nossos antepassados, provavelmente alguma evidência fóssil já teria surgido. Existem outras explicações melhores, embora bem menos curiosas, para explicar as características humanas mencionadas.
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Fontes: BBC, Ciência Hoje