Você tem medo do escuro? A maioria das pessoas tem certo receio em ficar na completa escuridão por um curto ou logo período. Além disso, nossa aversão à escuridão também está enraizada em nossos olhos. Ou seja, somos criaturas diurnas (ativas durante o dia), e nem mesmo os nossos ancestrais conseguiam enxergar bem no escuro. Ao contrário, eles buscavam abrigo e realizam suas tarefas enquanto o sol estava alto.
Dessa forma, a luz do dia é perfeita para os nossos olhos. Isso significa que possuímos uma vasta gama de células fotorreceptoras chamadas “células cone” ou “células cônicas” que nos permitem visualizar detalhes nítidos. Contudo, sem a luz do sol, os olhos são praticamente inúteis, mesmo possuindo tantas células cônicas.
Os olhos humanos levam várias horas para se adaptar totalmente à escuridão e atingir sua sensibilidade ideal às condições de pouca luz. Aliás, os ganhos mais rápidos na sensibilidade da visão são obtidos nos primeiros minutos após a exposição à escuridão. Por esse motivo, muitas pessoas pensam que, depois de apenas alguns minutos, seus olhos atingiram o pico de sensibilidade. Entretanto, após várias horas de exposição à escuridão, os olhos humanos continuam a ficar cada vez mais sensíveis, porém de forma gradativa.
Como os olhos enxergam no escuro?
Existem vários fatores que contribuem para que nossos olhos se adaptem à escuridão. Os três principais são a pupila, os cones e bastonetes.
A pupila é o orifício escuro próximo à parte frontal do olho que permite que a luz entre e forme uma imagem na retina. A íris que é a parte em volta da pupila. Ela contém músculos que controlam o seu tamanho. Quando confrontada com condições de pouca luz, a íris expande a pupila o máximo possível. Como resultado, essa dilatação permite que o máximo possível de luz entre no olho para que a sensibilidade seja aumentada. Sendo assim, a adaptação ao escuro leva cerca de alguns segundos para ser concluída.
As células cones ao longo da retina são responsáveis pela visão das cores. Elas detectam principalmente as matizes vermelho, verde e azul. Todas as outras cores existentes são decodificadas pelos humanos como uma mistura de vermelho, verde e azul.
Além disso, as próprias células cônicas podem se adaptar à escuridão parcial, levando até 10 minutos para se adaptarem ao ambiente escuro.
Como os bastonetes ajudam na visão noturna?
Os bastonetes são responsáveis pela visão em preto e branco. Eles são os ‘salvadores da pátria’ quando se trata de enxergar no escuro. A exposição à luz faz com que os fotopigmentos presentes nestas células, passem por uma reação química que converte a energia da luz em impulsos elétricos interpretados pelo cérebro.
Por exemplo, a rodopsina é o fotopigmento usado pelos bastonetes para permitir a visão em condições de pouca luz. A luz brilhante faz com que esses pigmentos se decomponham, reduzindo assim a sensibilidade à luz fraca. A escuridão faz com que as moléculas se regenerem e se adaptem ao escuro, processo no qual o olho se ajusta para ver em condições de pouca luz. Isso é o que chamamos de “visão noturna”.
Em resumo, ao serem expostos à escuridão, nossas pupilas dilatam em questão de segundos, os cones se adaptam em 10 minutos e os bastonetes se adaptam completamente após várias horas.
Bio hackers e a descoberta que pode fazer o ser humano enxergar no escuro
Em 2015, uma equipe de pesquisadores bioquímicos nos Estados Unidos descobriu como desenvolver visão noturna em um voluntário humano, permitindo que ele enxergasse a uma distância de mais de 50 metros na escuridão total por várias horas.
Isso foi possível graças a uma substância natural sensível à luz chamada Chlorin e6 (Ce6), que é derivada de animais marinhos e tem sido usada por muitos anos na pesquisa de tratamento do câncer. Por conseguinte, ela também se mostrou eficaz no tratamento da cegueira noturna e na melhora da visão na penumbra em pessoas com distúrbios oculares.
Então, tendo esses estudos como base, uma equipe independente de “bio hackers” aplicou uma mistura de Ce6, insulina e solução salina no olho do voluntário. A justificativa é que a retina absorve a mistura e aumenta a sensibilidade, possibilitando a pessoa enxergar no escuro por muito tempo.
A equipe de bio hackers, responsável pelo ousado experimento, ainda reconhece que muito mais testes precisam ser feitos. Eles também afirmam que a pesquisa é de baixo custo porquê as substâncias são baratas e, sobretudo, já foram rigorosamente testadas para segurança humana em outras aplicações.
Dicas para enxergar no escuro
1. Use óculos de sol
Algumas horas de sol forte podem fazer com que você gaste mais tempo para adaptar a visão ao escuro. Por isso, use óculos escuros de sol regularmente e pelo menos 20-30 minutos antes de se aventurar no escuro.
2. Deixe seus olhos se ajustarem naturalmente
Feche os olhos ou cubra-os um pouco antes de sair para o escuro. Uma boa dica é pressionar os olhos com as palmas das mãos para ajudar a acelerar o processo de ajuste.
3. Procure por silhuetas ao invés de formas
Como os bastonetes não registram cores, faça o melhor uso do contraste preto e branco enquanto se desloca no escuro. Examine o ambiente ao redor na luz para memorizá-lo, antes do anoitecer. Além disso, lembretes mentais como “virar à esquerda ao avistar algo que parece um poste” é uma técnica muito eficaz para se mover em lugares escuros.
4. Pare de fumar
Agora você encontrou mais um motivo para incluir na sua lista para parar de fumar. A nicotina pode fazer com que seu olho pare de produzir rodopsina, o pigmento essencial para a visão noturna, além de causar diversos outros problemas de saúde.
5. Consuma alimentos ou suplementos ricos em vitamina A
Embora a ingestão de vitamina A extra não permita enxergar bem no escuro, ela pode prevenir a deficiência de vitamina A e, assim, evitar a cegueira noturna.
6. Apague absolutamente tudo na hora de dormir
Desligar até o menor ponto de luz como o sensor da TV, por exemplo, antes de fechar os olhos, pode ser uma excelente dica tanto para adaptar à visão ao ambiente, quanto para dormir melhor.
7. Passe mais tempo no escuro
Por fim, logicamente é raro ter algum momento em meio à escuridão durante o dia. Mas, a noite é possível aproveitar momentos que permitem que os nossos olhos trabalhem essa adaptação, seja num banho relaxante, meditando ou simplesmente ouvindo música.
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Fontes: Clínica Bolzan, Tatiana Gebrael, Hypeness
Fotos: Pexels