O monumento de homem branco e violento é comum em praças públicas e locais históricos nas grandes cidades. Nesse sentido, tendem a corresponder à figura de pessoas problemáticas. Sendo assim, escravocratas, colonizadores, militares e personalidades responsáveis por eventos como genocídio indígena tendem a receber essas homenagens.
Ademais, a utilização dessas estátuas serve como um retrato do passado, em especial sobre os que foram vitoriosos de alguma forma. Ou seja, porque os escravistas mantiveram poder e controle por tanto tempo, assim como os bandeiras, se utiliza dessas figuras. Sobretudo, é a narrativa histórica e a prevalência de um grupo em específico que explica a presença constante.
Mas por que existe tanto monumento de homem branco e violento nas cidades? No geral, essa é uma dúvida que surge principalmente quando há grandes comoções. Como exemplo, pode-se citar o caso da estátua de Borba Gato, que pegou fogo durante uma ação em São Paulo.
Em resumo, em julho de 2021, um grupo desembarcou de um caminhão e espalhou pneus pela via na Zona Sul de São Paulo. Logo em seguida, atearam fogo na estátua do bandeirante, criando comoção nacional. Além disso, despertou-se essa discussão, sobre ser uma figura histórica ou o representante da escravidão de indígenas e negros, como conta a história de Borba Gato.
Posteriormente, organizou-se uma investigação a respeito desse caso, que conta como depredação de patrimônio. Ademais, o evento do incêndio com pneus também criou um trabalho mais aprofundado. No entanto, por que será que existe uma cultura ao redor do monumento do homem branco e violento?
A história por trás do monumento do homem branco e violento no Brasil
A princípio, historiadores e comunicadores tratam dos monumentos como instrumentos de memória coletiva. Portanto, tem-se um monumento como forma de patrimônio cultural e histórico. Ademais, é uma forma de evidenciar e rememorar figuras importantes, feitos de destaque ou reforçar elementos importantes para uma sociedade.
Nesse caso, pode-se citar algumas obras de São Paulo, que de acordo com um levantamento do Insituto Pólis tem 367 monumentos oficiais. Mais ainda, 200 retratam figuras humanas, sendo somente 5 dessa quantia de pessoas negras. Porém, consiste somente numa mulher e quatro homens.
Por outro lado, a figura da Mãe Preta, que é o único monumento de uma mulher negra na maior capital do Brasil, também levanta polêmicas. Sobretudo, é a figura de uma ama de leite com as formas distorcidas, tendo seios maiores que o rosto e o corpo. Além disso, ela está amamentando uma criança cuja história da obra diz ser um bebê branco.
Em contrapartida, o próprio Borba Gato tem um monumento de 13 metros de altura numa posição imponente no meio da Zona Sul de São Paulo. Comumente, a história comunica que esse bandeirante atuou capturando e escravizando indígenas, assim como negros. No geral, travou diversos conflitos com comunidades dessas etnias, dizimando famílias, estuprando mulheres e traficando homens.
Curiosamente, a prática dessas derrubadas sistemáticas é antiga no mundo. Durante a Revolução Francesa, os insurgentes derrubaram monumentos ligados ao feudalismo e às monarquias absolutistas. Contudo, na Revolução Russa, assim como após a Segunda Guerra Mundial, optou-se por preservar essas figuras, assim como a memórias dos campos de concentração.
Mais recentemente, movimentos de derrubada do monumento do homem branco e violento aconteceram durante o Vidas Negras Importam. Logo após a execução de George Floyd por ação policial, houveram diversos protestos com destruição dessas peças.
Por que isso importa?
Basicamente, entende-se que essas representações como elementos de memória reforçam uma imagem específica. Nesse sentido, a obra da Mãe Preta coloca a mulher negra como um instrumento de alimentação, um objeto, a partir da interpretação das pessoas.
Desse modo, a estátua de Borba Gato serve como reforço do homem branco e violento, colonizador e invasor. Sendo assim, essas imagens tornam-se um problema para parte da sociedade porque fortalece e revigora imagens problemáticas. Como exemplo, o monumento do homem branco e violento reforça seu poder e imponência sobre a sociedade, em especial as vítimas históricas.
Nesse contexto, os conflitos constantes com esses patrimônios culturais partem de uma falta de representatividade histórica. Um estudo feito pela Monument Lab nos Estados Unidos analisou dados de 48 mil monumentos no país. Logo em seguida, concluíram que 80% destes eram homenagens a pessoas brancas, e 76% envolviam donos de terras.
Por outro lado, somente 10% das obras envolviam pessoas negras ou indígenas. Portanto, não havia referência a pessoas de origem latina, asiática ou da comunidade LGBTQIA+. No geral, essa crítica no Brasil parte do fato de que a sociedade é composta por 54% de negros e mais de 896 mil indígenas, de acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Derrubar ou ressignificar monumentos?
Acima de tudo, há um questionamento sobre essa subrepresentatividade em comparação à exaltação de figuras históricas problemáticas. Sobretudo no reforço de uma identidade cultural que apaga a maioria da sociedade em números. Em contrapartida, há quem defenda que a permanência do monumento do homem branco e violento serve como forma de educar.
Dessa maneira, é possível evitar, enquanto sociedade, a dita repetição desses males. Portanto, seria uma forma de combatee um lembrete constante do que a sociedade já foi. No entanto, deve-se levar em conta que a História é um processo em evolução e constante mudança. Mas será que o monumento do homem branco e violento em postura desafiadora é uma ferramenta educacional?
Sendo assim, é natural que símbolos de memória ou patrimônio cultural acompanhe essas transfornações. Assim como as mudanças de pensamento e opinião do imaginário coletivo. Felizmente, em paralelo surgem novos monumentos e trabalhos artísticos de uma comunidade interessada em subverter esse sentido da arte para algo positivo.
Em especial, o fazem por meio do resgate de histórias e narrativas apagadas na narrativa dos países, como o próprio Brasil. Porém, há ainda um longo processo de diálogo, mudanças e ressignificação pela frente quando se trata de memória e cultura nacional.
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