Não é nenhuma novidade que um país tropical jamais ganhou uma medalha em Jogos Olímpicos de Inverno. Contudo, isso não impede o número crescente de países nos Jogos Olímpicos de Invernos que vem de tais regiões, e que continuam tentando. No caso do Brasil, por exemplo, 11 atletas formam a delegação que vai para Pequim, 2 a menos do que em Sochi, em 2014. Na ocasião, o país bateu seu recorde de participantes. Mas o número ainda é maior do que a quantidade de atletas em PyeongChang, em 2018, que competiram em 9.
Agora, o Brasil deve competir em modalidades como o esqui cross-country, bobsled, esqui alpino, skeleton, e esqui freestyle mogul. Da mesma forma, outros atletas de países tropicais despertam a curiosidade do público. Esse é o caso do esquiador alpino da Arábia Saudita, ou do time de bobsled jamaicano, bem como a esquiadora cross-country tailandesa.
É entendível não associar um país como a Arábia Saudita aos Jogos Olímpicos de Inverno. Mas um atleta das longínquas terras desérticas segue buscando fazer seu nome em Pequim. Ele é Fayik Abdi, de 24 anos, e será o único representante do país nos Jogos. Sua modalidade é o esqui alpino. “Estou ciente de que representar a Arábia Saudita nos Jogos de Inverno parece curioso para muitas pessoas, mas é uma grande honra fazer história não apenas para o meu país, mas para toda a região do Golfo”, disse ele em entrevista.
Curiosos países nos Jogos Olímpicos de Inverno: a surpresa tropical
O evento com tais países nos Jogos Olímpicos de Inverno é único, e é a primeira vez que a competição terá a participação de um atleta da Arábia Saudita. O sonho de Fayik teve até mesmo um começo curioso. Ele foi um dos mais de 100 candidatos que responderam ao anúncio da recém-formada Federação de Esportes de Inverno de seu país. Aprendeu a esquiar com 4 anos, e depois, aproveitou os estudos nos EUA para praticar melhor. Abdi é um exemplo do aumento da incidência de países “sem neve” nos Jogos.
Nesse sentido, enquanto a primeira edição da competição, em 1924, contou com apenas 14 países europeus junto dos Estados Unidos e Canadá, em 2018, um recorde de 92 países impressionava. Agora, em Pequim, serão 91 nações, incluindo estreantes como Arábia Saudita, Haiti, Gana, Taiwan e Timor Leste.
O bobsled jamaicano
Quando se fala em tropical, a ilha caribenha da Jamaica certamente é um exemplo perfeito para representar o clima. Inspirados pelo filme “Jamaica Abaixo de Zero”, onde 4 homens chegam aos Jogos Olímpicos de Inverno em Calgary, em 1998, a história vem impulsionando outros países a tentar o mesmo. Agora, junto da equipe de dois homens no bobsled, Jazmine Fenlator-Victoria irá representar no monobob feminino.
O filme não inspirou apenas a Jamaica. O Brasil chegou a utilizá-lo como parte de uma campanha em busca de financiamento para uma de suas equipes em busca da classificação em 1998. Mas de acordo com o Comitê Olímpico Internacional, a história de países sem neve na competição gelada já é antiga. O México, por exemplo, foi o primeiro país a competir em 1928. Mas outras nações tropicais só chegariam em 1972, após as Filipinas terem dois competidores masculinos no esqui-alpino. O aumento do interesse proporcionou novas oportunidades.
Assim, é possível citar o haitiano esquiador alpino Richardson Viano. Mesmo sendo haitiano de nascimento, foi adotado por uma família francesa com apenas 3 anos. Ele vive na Europa desde então. Após não se classificar para a Seleção Olímpica Francesa, foi abordado pelas autoridades esportivas do Haiti para competir pelo país. “Sem essa ligação, eu certamente teria parado de esquiar e estaria trabalhando na construção civil”, comentou ele sobre o caso.
A esquiadora cross-country tailandesa nos Jogos Olímpicos de Inverno
Ainda sobre casos interessantes de certos países nos Jogos Olímpicos de Inverno, Karen Chanloung é um ótimo exemplo. Ela será uma das 4 atletas representando a Tailândia em Pequim. A jovem de 25 anos nasceu na Itália, e competiu pela bandeira italiana com o irmão, Mark, nas categorias de base. Mas em 2016, a terra natal do pai lhe procurou. “Nós sempre quisemos representar o país do meu pai quando éramos crianças, mas a Tailândia não tinha uma Federação de Esportes de Inverno por muitos anos”, explicou Karen.
“Mas é algo muito importante para mim e para meu irmão representar a Tailândia. O país faz parte de nós e crescemos com a cultura tailandesa.”.
Os atletas de países sem neve encontraram ainda mais dificuldades no período da pandemia para treinar. Afinal, precisaram enfrentar mais viagens que o normal, e com as restrições do covid-19, isso ficou difícil. “A pandemia atrapalhou, é claro, mas é a realidade da vida de todos agora”, comentou Fayik sobre isso. “Mas isso só contribuiu para deixar ainda mais doce a sensação de se classificar para os Jogos Olímpicos de Inverno.”