Os personagens do folclore brasileiro são, em grande parte, oriundos de lendas de nativos indígenas que viviam por aqui antes da chegada dos portugueses. No entanto, a essas histórias também se acrescenta lendas dos próprios europeus e de povos africanos.
Sendo assim, a mitologia das lendas passa por uma série de misturas que gera personagens únicos no Brasil. Por outro lado, essa grande mistura também permite que um mesmo personagem tenha diferentes versões dependendo da região do país. Isso porque diferentes referências locais acabaram transformando as lendas originais de tempos remotos.
Vamos então observar algumas das principais lendas de destaque do folclore nacional.
Principais personagens do folclore brasileiro
Iara
A mulher com metade do corpo na forma de peixe (como uma sereia) habita os rios da região amazônica, onde também recebe o nome de Uiara (Senhora das Águas, em tupi-guarani) ou Mãe D’Água.
Segundo o folclore, Iara tem os cabelos negros e compridos, além de uma voz hipnotizante. Graças a seu canto, inclusive, é capaz de atrair todos os homens para os rios.
A lenda explica que, antes de assumir a forma de metade peixe, Iara era uma guerreira muito corajosa. A habilidade, no entanto, provocou a inveja de seus irmãos, que tentaram matá-la. A mulher conseguiu impedir o plano e matou os irmãos primeiros, mas foi punida pelo pai.
Logo após ser jogada no rio, Iara foi salva pelos peixes e passou a viver na água com sua forma de sereia. Por conta da agressão sofrida pelos homens em vida, ela passou a se vingar deles, usando sua voz para atraí-los e matá-los afogados.
Saci-Pererê
O Saci-Pererê é, provavelmente, o mais famoso dos personagens do folclore brasileiro. O menino negro de apenas uma merca usa um gorro vermelho e tem sempre um cachimbo na boca.
De acordo com as principais lendas, ele se diverte fazendo travessuras que incomodam seus alvos. Dentre elas, por exemplo, estão fazer a comida queimar, trocar sal por açúcar ou outros temperos, trançar rabos e crinas de cavalos, esconder objetos e assustar pessoas. No entanto, nenhum de seus comportamentos costuma ser classificado como violento, apenas zombeteiro.
A princípio, as lendas indígenas retratavam o Saci como um pequeno diabo. Além disso, o rapaz ainda tinha as duas pernas e um rabo.
O personagem é tão importante para o folclore, que o Dia do Saci foi criado como alternativa para o Dia das Bruxas, celebrado no dia 31 de outubro.
Curupira
O Curupira é similar ao Saci, já que também é famoso por fazer muitas travessuras nas matas e florestas em que vive. A criatura, no entanto, tem a missão de proteger as matas e engana os outros para garantir a segurança da vida selvagem.
Com cabelos ruivos e pés virados para trás, o Curupira é responsável por raptar vítimas que invadem a floresta e atacar lenhadores, caçadores e outros. Além disso, a lenda é muito associada a casos de violências que ocorrem nas matas, como sequestros e estupros, por exemplo.
Segundo as lendas, caso alguém queira adentrar uma floresta com autorização do Curupira, precisa fazer uma oferenda com cachaça ou tabaco.
Caipora
A Caipora muitas vezes carrega os mesmos traços do Curupira, dependendo da versão da lenda. Em algumas descrições de personagens do folclore brasileiro, inclusive, os dois compartilham praticamente todas as mesmas características.
Seu nome tem origem no tupi-guarani caapora, que significa habitante do mato. Isso porque a criatura também mora nas florestas, onde cuida da proteção da vida selvagem. Diferente do Curupira, no entanto, a Caipora não tem os pés virados para trás e está sempre na companhia de um porco-do-mato.
De acordo com a lenda, em domingos, sextas-feiras e dias santos, a chance da Caipora agir atacar invasores é maior. Para escapar dela, então, é preciso fazer oferendas similares às feitas para o Curupira, já que a criatura também gosta muito de beber e fumar.
Mula-Sem-Cabeça
A Mula-Sem-Cabeça também é um dos mais clássicos personagens do folclore brasileiro. Assim como o nome já deixa claro, a criatura tem a forma de mula, mas possui apenas uma intensa chama pegando fogo no lugar da cabeça.
A origem da lenda está nos ideais conservadoras e moralistas da Igreja Católica. Para condenar relacionamentos sexuais antes do casamento, a lenda dizia que uma mulher que se apaixonasse por um padre seria transformada na Mula.
Como os sacerdotes deviam ser tratados como homens santos, a história pretendia protegê-los de intenções consideradas pecaminosas.
Boitatá
O nome pode levar um leitor desavisado a acreditar que a criatura trata-se de um boi, mas na verdade é uma cobra. Isso porque o nome tem origem no tupi-guarani, misturando as palavras mboi (cobra) e tatá (fogo).
Assim como outros importantes personagens do folclore brasileiro, o Boitatá também protege as matas e florestas contra a atuação dos humanos. Segundo as lendas, a cobra gigante tem a capacidade de se transformar em tronco em brasa para queimar invasores, especialmente responsáveis por queimadas. Além disso, quem olha diretamente para um Boitatá pode ficar cego, louco ou até mesmo morrer.
Os primeiros relatos escritos sobre a lenda foram feitos pelo Padre José de Anchieta, no século XVI. No texto, ele relata a existência da história de uma criatura de fogo em forma de serpente. A versão, no entanto, é diferente em outras partes do Brasil, onde o Boitatá ganha a forma de touro (provavelmente pela associação com o nome).
Boto
A lenda do Boto é popular especialmente nas regiões da Amazônia. Segundo a história, o animal mitológico vive nos rios, mas pode se transformar em um rapaz bonito e sedutor nas noites de lua cheia.
Especialmente durante as celebrações das festas juninas, o boto assume a forma para atrair virgens para o fundo do rio. Ali, segundo as lendas do folclore, ele engravida a moça e desaparece para sempre.
Ainda hoje, a lenda é muito mencionada em casos de gravidez acidental ou em que o pai da criança é desconhecido.
Cuca
A Cuca é um dos personagens do folclore brasileiro com inspiração em lendas importadas do povo português. No entanto, sua popularidade ficou ainda maior a partir das narrativas de Monteiro Lobato, no Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Segundo as lendas, a Cuca é uma bruxa com garras afiadas (e cabeça de jacaré, dependendo da versão) que sequestra e come crianças malcriadas. A principal menção à criatura está na canção de ninar “Nana neném que a Cuca vem pegar”.
Originalmente, a Cuca já era mencionada em mitologias da Península Ibérica, com o nome Coca. Nessa versão, o monstro era descrito como um dragão, o que explica a forma de jacaré da versão brasileira.
Boiuna
Boiuna é mais um dos personagens do folclore brasileiro que tem a forma de uma cobra gigante. Nesse caso, ela possui uma pele brilhante e vive nos rios, motivo pelo qual também recebe o nome de Mãe-do-Rio.
As lendas dizem que a cobra é tão grande, que consegue afundar embarcações com seus ataques. Além disso, seus poderes envolvem a capacidade de transformação em mulher para atrair vítimas.
Lobisomem
Apesar de popular entre os personagens do folclore brasileiro, o Lobisomem também possui raiz na mitologia europeia. A princípio, as lendas diziam que o oitavo filho de uma família com sete mulheres assumiria a forma do monstro com forma de lobo e sede de sangue.
Diferentes versões ganharam força ao longo da história, sob diferentes influências culturais e regionais. Numa delas, por exemplo, o Lobisomem seria a manifestação da maldição em crianças não batizadas.
Mesmo com as variações, uma característica permanece quase sempre: a transformação ocorre em noites de lua cheia, por volta da meia-noite, e chega ao fim ao amanhecer.
Negrinho do Pastoreio
A lenda do Negrinho do Pastoreio mistura raízes africanas e cristãs. Diferente dos principais personagens do folclore brasileiro, esse tem origem na região sul do país.
Segundo as lendas, um garoto escravo que sofria nas mãos de um patrão maldoso acabou perdendo um dos cavalos enquanto pastorava. Por causa disso, o fazendeiro agrediu o garoto com violência e o jogou num formigueiro, que deixou várias marcas em seu corpo.
Quando alguém perde um objeto importante e busca reencontrá-lo, é comum acender uma vela para pedir ajuda do Negrinho na busca.
Corpo Seco
O Corpo-Seco está entre as mais assustadoras lendas do folclore brasileiro. Isso porque o personagem é responsável por maltratar várias pessoas ao seu redor durante a vida e após a morte. Sua existência após morrer, inclusive, é uma forma de maldição e castigo por todo o mal cometido enquanto ainda estava vivo.
Mandioca
Mais uma das lendas do folclore brasileiro relacionadas às plantas. Aqui, a indiazinha Mani foi enterrada e teve o túmulo regado pelas lágrimas de sua mãe. No lugar, então, nasceu a primeira mandioca.
Outras lendas do folclore brasileiro
Acutipupu: vezes homem, vezes mulher, o Acutipupu é responsável por gerar o nascimento de garotos valentes quando fecunda outras mulheres, na forma masculina. Por outro lado, na forma feminina gera meninas muito belas em seu próprio ventre.
Ahó Ahó: este monstro tem a forma semelhante a de uma ovelha, mas era conhecido por devorar pessoas. A lenda tinha força especialmente durante as missões jesuítas, uma vez que o monstro ameaçava atacar os índios que fugiam delas.
Alamoa: assim como Iara e outras sereias, é uma mulher atraente que seduz marinhos e pescadores para atacá-los.
Barba Ruiva: durante o dia, o personagem é capaz de se transformar em menino, moço ou velho. Segundo as lendas do folclore, ele foi acolhido por Iara depois de ser abandonado pela mãe.
Bicho-papão: o monstro tem a função de assustar crianças malcriadas durante a noite, ficando escondido em seus quartos para atacar as mais teimosas durante a noite.
Guaraná: a planta é associada a um indiozinho que teve os olhos plantados após ser morto pelo deus da escuridão, Jurupari. Dessa maneira, os olhos deram origem a uma planta capaz de dar energia a quem a consumisse.
Jurupari: o deus da escuridão é retratado de diferentes formas em versões da lenda. Em algumas, ele visitava os índios durante a noite para provocar pesadelos, enquanto em outras era responsável por trazer às leis aos homens.
Papa-figo: também conhecido como o homem do saco, vaga pelas ruas carregando um saco utilizado para guardar crianças desobedientes.
Vitória-régia: por fim, a planta aquática seria, em vida, uma índia que se apaixonou pelo deus da lua. Certo dia, porém, ao vendo a luz refletida num rio, a índia decidiu tentar beijá-lo, mas acabou morrendo afogada e se tornando planta.