Partindo da mesma premissa, de que “se os humanos evoluíram dos macacos, por que ainda existem macacos?”, poderíamos levantar argumentos tão inconsistentes como esse, por exemplo: “se há cobras, por que ainda existem lagartos?”, “se há tetrápodes, por que existem ainda existem peixes?”, ou “se há europeus americanos, por que ainda há europeus?”.
A grande questão é que apenas um grupo de animais que chamamos de “macacos” evoluiu para um estágio superior: outros macacos ancestrais geraram mais macacos da mesma espécie, enquanto alguns poucos geraram novas linhagens e espécies de macacos. Somos apenas uma linhagem de macacos, entre várias outras.
Então, odiamos ter que dizer isso para você, mas você é um macaco.
Assim também são (ou foram) os neandertais, os hobbits, Lucy, o Australopithecus, a criança Taung e o “homem de Pequim”. Além destes, obviamente podemos inserir na grande linhagem dos primatas, os orangotangos, os gorilas, os bonobos e os chimpanzés.
Ancestral comum
Todos nós evoluímos de um ancestral comum que viveu cerca de 14 milhões de anos atrás, e juntos formamos a família taxonômica Hominidae. Também conhecido como hominídeos. Também conhecida como “grandes macacos“.
“Hominídeo” é o termo técnico para os humanos arcaicos e modernos – isto é, criaturas que estão mais relacionadas a nós do que a gorilas e chimpanzés. Para explicar por que somos os únicos que restaram, você precisa entender como a evolução funciona.
Em primeiro lugar, as criaturas que chamamos de macacos são nossos primos, não nossos ancestrais. O que tornaria muito difícil para eles evoluírem para algo próximo de nós.
Você também pode gostar de ler: Outras 2 provas da evolução que você tem no corpo
“Perguntar porque um ser humano arcaico não está evoluindo para um gorila hoje é como perguntar por que os filhos dos seus primos não se parecem mais com você”, diz Matt Tocheri, professor de antropologia da Universidade de Lakehead.
“Essas criaturas estão em sua própria linhagem há 10 milhões de anos. Você não pode voltar para a linhagem original, por mais que tente forçar isso.”
Mesmo que os chimpanzés pudessem de repente desenvolver os traços de um Australopithecus, eles provavelmente não iriam querer.
A complexidade (ou simplicidade) evolutiva
É fácil pensar na evolução como um impulso linear e progressivo em direção a uma complexidade cada vez maior, algo que começou com as amebas unicelulares e terminou conosco. Mas a evolução não tem um destino, e mesmo se tivesse, os humanos certamente não são o último estágio.
Em muitos casos, a evolução tende a favorecer a simplicidade. É por isso que criaturas que vivem em cavernas perdem os olhos e as baleias – que são descendentes de mamíferos terrestres – quase não têm ossos nas pernas.
Nem a inteligência é sagrada: ouriços-do-mar, que não têm sistema nervoso central, evoluíram de um ancestral que no passado tinha um cérebro.
“A evolução é sobre a sobrevivência sob condições particulares e mutações aleatórias”, diz Nina Jablonski , paleoantropologista da Penn State. “Há um grande elemento de chance e certamente nenhum elemento de direção… Os seres vivos estão apenas tentando se adaptar às contingências da vida em seu ambiente”.
Os estágios da evolução humana
A diversidade de hominídeos durante os primeiros estágios da evolução humana mostrou como várias espécies tentaram fazer isso.
Por exemplo, pensa-se que o Australopithecus afarensis (espécie de Lucy) desenvolveu quadris semelhantes aos humanos, que os permitiram andar sobre dois pés, e assim, poder carregar coisas – útil para coletar alimentos na savana.
O Paranthropus robustus tinha uma poderosa mandíbula para mastigar alimentos fibrosos (carne crua, em especial).
O Homo habilis tinha um cérebro relativamente grande que os ajudou a construir ferramentas antigas de pedra.
Os molares maciços do Australopithecus boisei permitiram-no comer principalmente nozes e sementes.
Mas à medida que o uso de ferramentas dos hominídeos ficaram mais sofisticadas, seus nichos ecológicos se expandiram. As espécies não tinham que escolher entre ter grandes molares para mastigar sementes e caninos afiados para rasgar a carne – com ferramentas, eles poderiam manipular parcialmente a comida antes de comê-la e consumir ambas.
“À medida que a complexidade tecnológica dos hominídeos aumentou, a espécie mais avançada e capaz, munida de ferramentas, largou na frente,” disse Jablonski.
Espécies homo com cérebros maiores e dentes menores foram mais bem sucedidas ecologicamente, então a evolução favoreceu esses grupos. O desenvolvimento da linguagem foi adicionado ao kit de ferramentas evolucionárias de nossos ancestrais, ajudando-os a caçar, viajar, antecipar eventos e evitar ameaças.
Poder da adaptação
Na época em que o Homo sapiens surgiu há cerca de 200 mil anos, eles puderam sobreviver em praticamente qualquer ambiente, sob quaisquer circunstâncias.
Você também pode gostar de ler: O que é a Teoria da Evolução? Ela realmente diz que nós viemos dos macacos?
“Eles são capazes de se adaptar às mudanças dramáticas do clima em todo o mundo e se dispersam muito mais amplamente, porque eles podem fazer um monte de coisas diferentes”, disse Jablonski.
“Então, quando assistimos a extinção final dos Neandertais ou dos pequenos e engraçados Hobbits na Indonésia” – duas espécies Homo que viveram ao mesmo tempo que os humanos modernos – “como resultado de mudanças climáticas dramáticas, humanos modernos com este incrível kit de ferramentas e capacidade de resolução de problemas, eles foram capazes de sobreviver”.
Em outras palavras, os humanos modernos foram capazes de sobreviver a outros hominídeos porque estávamos equipados para explorar múltiplos nichos ecológicos sob as circunstâncias particulares em que vivíamos.
Se o clima não tivesse mudado 30.000 anos atrás, ou se tivesse mudado de forma diferente, os neandertais poderiam ter sobrevivido em vez do Homo sapiens.
Macacos vivem bem como macacos até hoje
Grandes primatas modernos vivem em ambientes densamente florestados, onde a habilidade de escalar árvores é um grande bônus – então eles não precisam do bipedismo humano.
Criaturas como os chimpanzés e os bonobos são capazes de construir ninhos, usando ferramentas rudimentares, apreciando a beleza e talvez até mesmo lamentando seus mortos – sem nossos cérebros grandes que consomem muita energia.
“Quando olhamos para os nossos parentes, os chimpanzés de hoje, eles estão vivendo muito bem sendo macacos”, disse Jablonski. “Eles estão fazendo suas coisas de chimpanzés, bem como os orangotangos e os gorilas, não precisam ser mais parecidos com humanos porque estão sobrevivendo perfeitamente.”
“É claro”, ela acrescentou, “que é baseado na esperança de que os humanos modernos não derrubem completamente a floresta e os privem completamente de seu habitat natural. Mas essa é uma questão diferente”.
Fonte: Washington Post
Compartilhe o post com seus amigos!
2 comentários em “Se os seres humanos vieram dos macacos, por que ainda existem macacos?”