Visita de Bolsonaro a Rússia pode influenciar em relação com os EUA

A visita de Bolsonaro a Rússia pode influenciar em relação com os EUA de formas extremamente negativas, de acordo com analistas.

Visita de Bolsonaro a Rússia pode influenciar em relação com os EUA

A visita de Bolsonaro a Rússía pode influenciar em relação com os EUA. Após o presidente escolher visitar Vladimir Putin, em meados de fevereiro, uma nova questão de tensões na relação com o governo dos EUA se iniciou. Nesse sentido, profissionais de diplomacia americana chamaram a decisão de Jair Bolsonaro de “insana” e “sem sentido”. Mesmo que o Brasil e a Rússia estejam juntos no BRICS junto da China, Índia e África do Sul, a viagem ainda caiu mal. Afinal, o momento não é propício visto a tensão entre os EUA e a Rússia.

Atualmente, os Estados Unidos e a Rússia travam um duro embate político internacional. De um lado, mais de 100 mil soldados russos estão estacionados na fronteira com a Ucrânia, e ameaçam invadir o país a qualquer momento, dependendo do próximo passo dos americanos e da OTAN. De outro, os Estados Unidos abastecem a Ucrânia com armas, e também já deslocaram mais de 3 mil soldados para bases da OTAN na Romênia e na Polônia. O risco é que a situação acabe evoluindo para uma guerra na Europa.

Dessa forma, é nesse contexto que o presidente Jair Bolsonaro deseja desembarcar na Rússia no dia 14 de fevereiro. “É como assistir uma criança correndo na pista para tentar atravessar uma rodovia expressa e movimentada”, comentou um ex-alto diplomata americano que já trabalhou no Brasil. Além disso, na semana passada, os oficiais do Departamento de Estado fizeram questão expressar seu descontentamento com os planos brasileiros. De acordo com eles, o Brasil tem a obrigação de defender seus princípios democráticos.

Visita de Bolsonaro a Rússia pode influenciar em relação com os EUA

Da mesma forma, a visita de Bolsonaro a Rússia pode influenciar em relação com os EUA de um modo específico. Isso pode passar ao mundo a mensagem de que o país aprova as atitudes de Putin para com a Ucrânia. Além disso, faria o Brasil parecer indiferente quanto às ameaças de territórios alheios por potências. Nesse sentido, vale lembrar que a nação ainda é uma aliada militar extra-OTAN dos EUA. O status estava garantido desde a gestão de Donald Trump.

“Não é possível que o Brasil ignore o significado simbólico dessa viagem. Esse não é o momento de discutir relações bilaterais com a Rússia, enquanto eles ameaçam invadir seu vizinho. Claro que os Estados Unidos não estão felizes com o plano, assim como os europeus também não estão, porque sugere uma falta de respeito em relação às regras do jogo internacional, que historicamente o Brasil costumava defender”. Essa é a visão do ex-embaixador americano no Brasil Melvyn Levitsky.

Em resposta, o Itamaraty justificou a decisão de Bolsonaro com o fato de que a viagem já estava pendente há mais de um ano. Contudo, o convite de Putin só foi formalizado em dezembro. De acordo com eles, tratarão apenas de temas bilaterais. Seja como for, a Rússia não está nem entre os 10 maiores parceiros comerciais do Brasil. Sequer existe a expectativa de que a visita possa resultar em um acordo comercial formal entre os dois países.

Logo depois de sua viagem para a Rússia, Bolsonaro também deve visitar a Hungria. O país foi excluído por Biden do encontro pela democracia organizado pelos EUA em dezembro. Afinal, Washington vê o governo conservador e direitista de Viktor Orban como algo distante dos princípios democráticos.

Tensão entre os países

Visita de Bolsonaro a Rússia pode influenciar em relação com os EUA

Atualmente, Orban é um dos principais aliados de Bolsonaro. O presidente também já chegou a elogiar Putin e suas credenciais políticas em uma ocasião com entusiastas.  “Ele [Putin] é conservador sim. Eu vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente”. Muitos analistas internacionais veem a viagem do presidente como algo de importância política doméstica, para mostrar aos brasileiros que o país não está isolado do resto do mundo.

“Com a saída de Trump da Casa Branca, Bolsonaro perdeu seu principal aliado e tenta com a visita a Putin um realinhamento ideológico internacional. É claro que isso vai irritar ainda mais os EUA”, explicou Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP. Afinal, há pouco mais de um ano, a relação entre os brasileiros e americanos ficou abalada com a saída de Trump e acusação de fraude eleitoral de Joe Biden, sem provas. Bolsonaro apoiou Trump e demorou semanas para parabenizar o novo presidente dos EUA.

Desde então, o país vem sendo pressionado pelos EUA para mudar sua postura em relação ao meio ambiente. Nesse sentido, combater o aquecimento global é uma prioridade da gestão de Biden. Seja como for, o Brasil se mantém neutro. De acordo com o embaixador brasileiro Ronaldo Costa, o país não apoia exercícios militares russos, muito menos as ameaças de sanções econômicas unilaterais dos americanos.

“Visitas bilaterais são normais, não implicam na violação de nenhuma regra internacional. Com o voto na ONU, o Brasil tentou deixar claro que a viagem à Rússia não deve ser tomada como a expressão de uma posição pró-Rússia. A questão está na oportunidade: os americanos estão fazendo um esforço para conter os ímpetos russos por meio de alianças, e queriam contar com o Brasil nesse bloco”, diz Sérgio Amaral.

Uma sombra na relação Brasil-EUA

De acordo com Melvyn Levitsky, a visita de Bolsonaro a Rússia pode influenciar em relação com os EUA ao lançar uma sombra na relação com o país. “Não acredito que haverá uma resposta imediata (dos americanos), mas a relação vai piorar, certamente, e Bolsonaro terá que responder – se (Brasil) se posicionou como um aliado militar extra-OTAN deveria se posicionar diante de Putin”.

“Bolsonaro pode até achar agora que ele não tem muitos amigos no governo americano ou na Europa Ocidental. Mas se seguir em frente com esse tipo de atitude, aí sim ele vai ver o que é ser barrado no baile”, retrucou um ex-alto diplomata dos EUA.

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