Queda em doações de sangue no Brasil e no mundo preocupa instituições

A queda em doações de sangue no Brasil e no mundo vem se tornando um problema cada vez mais preocupante. Normalmente, em feriados prolongados ou

A queda em doações de sangue no Brasil e no mundo vem se tornando um problema cada vez mais preocupante. Normalmente, em feriados prolongados ou nos meses de férias, é comum que os estoques fiquem mais baixos. No banco de sangue da Fundação Pró-Sangue, que abastece mais de 100 hospitais da região central de São Paulo, isso é uma realidade. Contudo, a fundação é responsável por suprir tudo de essencial para salvar a vida de vítimas de acidentes, pacientes em tratamento ou com complicações de saúde.

Mas agora, a situação é de emergência. De acordo com a médica Helena Sabino, nunca havia visto uma escassez tão longa quanto a vivida atualmente. “Se é uma crise sem precedentes? Acho que sim. Porque já tivemos crises piores (de falta de sangue), mas pontuais, de curta duração. “Neste ano está bem mais difícil para bancos públicos e privados de sangue. Todo mundo está restringindo o que se usa em transfusões.”

É comum que a meta do órgão ligado ao governo paulista seja de coletar, mensalmente, em torno de 9,5 mil bolsas de sangue. Contudo, o mês de janeiro se encerrou com uma coleta de 8 mil bolsas. E se a situação já é difícil para a Fundação Pró-Sangue, o problema é ainda maior em bancos menores. “Alguns hospitais que tinham seus próprios bancos de sangue têm nos procurado”, comentou Helena. Mesmo assim, nenhum paciente deixou de ser atendido até então na Grande São Paulo.

“Mas se você (hospital) me pede fornecimento, nós temos que fornecer com restrição. Se tenho 50% de estoque, vou atender com 50% do que me pedem e daí avaliar as demandas caso a caso, a pedido dos hospitais. Temos de orientar os médicos a não usarem quando o paciente puder esperar. É mais trabalhoso e tudo fica mais vulnerável.”

Queda em doações de sangue no Brasil e no mundo piorou com pandemia

Primeiramente, ainda no início de 2020, a pandemia do covid-19 fez com que as doações de sangue caíssem bastante. Afinal, era um momento em que as pessoas tinham mais medo de sair de casa, e as restrições da quarentena eram maiores. Assim, muitos evitaram ao máximo buscar unidades de saúde. “Mas, apesar dessa queda drástica, o consumo de sangue estava mais restrito, porque não havia tantos acidentes de trânsito e o paciente de covid-19 não usava tanto sangue, só quando tinha complicações mais sérias”.

Contudo, agora, o consumo voltou a crescer, com a volta da circulação das pessoas, de acidentes de trânsito e cirurgias, muitas represadas no começo da pandemia. Mas as doações seguem em um nível muito abaixo do ideal. Além disso, com o crescimento dos casos da variante ômicron, que fez o Brasil bater recordes de contaminação diária, as doações de sangue foram dificultadas. Mesmo que a demanda de sangue volte a crescer, a oferta é incapaz de acompanhar o crescimento.

Crise de falta de sangue nos EUA

E a queda de doações de sangue não é só no Brasil, mas no mundo inteiro. No Reino Unido, por exemplo, em outubro de 2021, o centro de sangue e transplantes do sistema de saúde público britânico acendeu alerta, depois que o nível de suprimentos ficou crítico. Já na Escócia, o número de doadores era o mais baixo em todo o início do século. Mas o real problema está nos Estados Unidos, após a questão se converter em uma crise nacional, e uma das mais graves da história recente.

Nesse sentido, a situação é tão complicada que, apenas na segunda semana de janeiro, a Cruz Vermelha americana, que fornece 40% dos hemoderivados dos centros médicos do país declarou pela primeira vez na história uma “crise nacional”. Ainda declararam que alguns hospitais só tinham fornecimento de certos tipos de sangue por menos de um dia, um “nível perigosamente baixo”. “Se o suprimento não se estabilizar em breve, o sangue que salva vidas pode não estar disponível para alguns pacientes quando eles precisarem”, alertaram eles.

A médica Emily Coberly, especialista em hematologia na Cruz Vermelha americana, conta que desde o ano passado os hospitais recebem menos sangue. Atualmente, pelo menos 1/4 da demanda hospitalar não pode ser atendida. “Chegamos a um ponto em que os médicos precisam decidir todos os dias quais pacientes recebem uma transfusão e quais não não vão receber. E isso é de partir o coração“.

“As cirurgias estão sendo canceladas às vezes no último minuto. Há pessoas que têm câncer que precisam de uma transfusão e estão sendo mandadas para casa sem recebê-la. Há centros de trauma que estão chegando ao ponto de esgotar suas reservas de emergência para casos como um paciente que chega gravemente ferido, com sangramento após um acidente, ou alguém com hemorragia pós-parto”.

Queda em doações de sangue no Brasil e no mundo cria apelo

Queda em doações de sangue no Brasil e no mundo preocupa instituições

Ainda na queda em doações de sangue no Brasil e no mundo, mas principalmente nos Estados Unidos, especialistas acreditam que a crise pode durar semanas, ou até meses. E o impacto no sistema de saúde americano será gigantesco. Afinal, ele já está enfraquecido por conta do número crescente de casos de covid. Elle Klapper, diretora de Medicina Transfusional e Serviços de Doação de Sangue do Hospital Cedars-Sinai, lembra a todos que doar sangue é um gesto anônimo, mas que salva muitas vidas.

“Vemos isso nos hospitais todos os dias. Com um gesto como esse, outra pessoa pode ser trazida de volta à vida. Damos a vida, salvamos o outro quando lhe damos um pouco do nosso sangue”. Já no Brasil, outros hemocentros como o de Brasília também registraram quedas, como uma de 23% nas doações na primeira semana de janeiro. Afinal, os casos de covid e influenza não paravam de crescer.

O Ministério da Saúde calculou, no ano passado, que ao longo de 2020, as doações caíram 10% em todo o Brasil. Contudo, o que impediu que houvesse escassez foi o remanejamento de bolsas de sangue entre diversos estados. “Hoje cerca de 1% a 2% da população brasileira é doadora de sangue. Se dobrássemos isso para 4%, ficaríamos em situação muito mais confortável”, completou Sabino.

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