A comida de astronauta precisa passar por alguns processos antes de ser selecionada e enviada para o espaço. Nos Estados Unidos, esses alimentos são estudados e desenvolvidos pelo Departamento de Engenharia de Sistemas de Alimentos, no Johnson Space Center da NASA, em Houston, Texas.
Além de focar no valor nutricional dos alimentos, os pesquisadores também precisam se preocupar com outros fatores. Entre eles, por exemplo, está o comportamento quando congelado, descongelado e levado a situações de microgravidade.
O avanço tecnológico, permitiu bastante evolução na comida de astronauta ao longo de mais de 50 anos de pesquisa. No entanto, muita coisa ainda precisa ser feita para garantir viagens espaciais ainda mais longas.
História da comida de astronauta
No primeiro voo tripulado ao espaço, em 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin levou algumas comidas em pasta. Elas foram processadas e armazenadas em tubos, quase como creme dental.
Quando o primeiro norte-americano foi ao espaço, em 1962, parte sua missão era entender como a comida funcionava no corpo de um astronauta. No entanto, foi só em 1965 que o investimento num cardápio mais eficiente entrou nos planos.
Nesse período surgiram, por exemplo, novos métodos de reidratação de alimentos, além de um tipo revestimento que evitava a liberação de migalhas no ambiente espacial. Dessa maneira, o cardápio dos astronautas passou a incluir alimentos como camarão, frango, vegetais, torradas e pudins.
Durante as missões do projeto Apollo – entre 1968 e 1975 – a possibilidade de acessar água quente dentro das naves começou a permitir pratos mais elaborados. Na mesma época, o lançamento da estação espacial Skylab permitiu a instalação de refrigeradores no espaço, garantindo a manutenção de alimentos perecíveis e congelados, como carnes e sorvetes.
No projeto, também houve o desenvolvimento de bandejas capazes de aquecer os alimentos, garantindo mais qualidade à comida dos astronautas.
Tipos de alimentos
Naturais e frescos: esses alimentos podem ser levados ao espaço na forma como são consumidos na Terra, sem novos processos. A lista inclui uma variedade de biscoitos e molhos, além de frutas naturais, como banana e maçã.
Reidratáveis: nesse caso, os alimentos passam por um processo de desidratação na Terra. Por causa disso, são enviados ao espaço sem água e precisam da injeção de água quente para restaurar a forma original. Esse cardápio envolve variedades como queijo cottage, coquetel de camarão, ovos mexidos, macarrão, purê de batatas, leite, arroz entre outros.
Termoestabilizados: o processo de preparação desses alimentos envolve aquecimento a uma temperatura capaz de matar microrganismos prejudiciais e enzimas. Após o processo, a comida de astronauta é embalada e armazenada nas naves.
Dieta
Com o passar dos anos, a lista do Laboratório de Sistemas de Comida Espacial da NASA conta com cerca de 200 comidas espaciais essenciais. Por outro lado, os astronautas russos da ISS contam com uma lista de mais de 300 pratos para o consumo.
No entanto, o cardápio não fica restrito a opções pastosas ou desidratadas, como no passado. Entre as opções, os astronautas podem contar com menus que incluem comidas de várias partes do mundo, como por exemplo japonesa, chinesa ou coreana.
Antes das viagens espaciais, os astronautas também passam por algumas etapas que ajudam a decidir os cardápios. Cada um deles passa por processos de análise sensorial, além de fazer a escolha de seus alimentos de preferência cerca de cinco meses antes do lançamento.
Sabor da comida de astronauta
Assim como todos os outros corpos enviados para o espaço, os alimentos também são afetados pelo ambiente de microgravidade. Logo de cara, isso significa um cuidado especial com embalagens e armazenamento, já que eles se comportam de maneira peculiar.
Além disso, o consumo também é feito de uma forma diferente. Para consumir líquidos, por exemplo, é preciso utilizar canudos especiais que contam com presilhas. Elas podem ser apertadas para evitar que os líquidos saiam dos recipientes quando não estão sendo ingeridos.
O gosto da comida de astronauta também é percebido de forma diferente no espaço. Isso deve-se principalmente a dois fatores. O primeiro deles é o fato do cheiro dos alimentos não funcionar da mesma maneira no espaço. Como eles são responsáveis por grande parte do sabor, é possível perceber uma diferença por conta disso.
Além disso, no espaço, os fluidos corporais se acumulam mais na parte superior do corpo. Sendo assim, é comum ver quadros de congestão nasal que ajudam a reduzir o sabor dos alimentos, como quando você come algo durante um resfriado, por exemplo.
Para melhorar o sabor da comida, os astronautas mastigam um chilliclete cerca de dez minutos antes de cada refeição. A goma de mascar especial tem a intenção de melhorar a percepção de gosto dos alimentos ingeridos em seguida.
Futuro
Apesar dos avanços garantirem melhorias nas comidas levadas ao espaço, ainda é preciso fazer novas descobertas. Isso porque para uma missão mais longa, como para Marte, por exemplo, é preciso que elas tenham maior prazo de validade.
Atualmente, as comidas de astronauta possuem prazo variado entre dois a três anos, mas é ideal que isso seja elevado para ao menos cinco. Além disso, o maior tempo de validade também pode alterar na perda de alguns nutrientes, o que deve ser levado em conta.
Outro fator importante é o peso que a maior quantidade de comida provoca na viagem. Com mais alimento em estoque, também cria-se mais peso na neva, além da necessidade de mais espaço de armazenamento.
Sendo assim, uma das alternativas para o futuro pode ser o cultivo da própria comida no espaço, feito pelos próprios astronautas. O experimento Veggie, realizado na ISS, tem estudado o efeito da criação de alimentos em câmara selada no espaço. A princípio, os resultados feitos com alfaces foram um sucesso.
Fontes: Biblioteca USP, Agro UFG, Gizmodo, Tecmundo
Imagens: Modern Farmer, History, Portal BJ, Apollo 11, Trendhunter, Attraction Tickets