Quando foi que surgiu o termo bruxa? São elas feiticeiras? Pessoas más? Realmente existem? Por que mulheres são chamadas assim e por que isso se tornou um termo pejorativo?
Desde o início das civilizações, os homens adoravam deuses e deusas. Eles representavam divindade, respeito e proteção. Entretanto, quando o cristianismo passou a se disseminar pelo mundo, muitas crenças e outros simbolismos passaram ser perseguidos.
Rotulados como pecaminosos e heréticos, o cristianismo começou a proliferar uma ideia de que existiam culturas erradas e as certas. E foi nesse momento que começaram as caças às bruxas.
Caça à bruxa
Enfim, na Idade Média, as mulheres que possuíam qualquer domínio sobre ervas medicinais que auxiliavam na cura de doenças, eram julgadas e assassinadas. Por que? Elas eram consideradas como bruxas e feiticeiras. Segundo a visão católica, essas mulheres enganavam as leis de Deus, usando rituais que iam contra a Igreja Católica.
Nesse período, as mulheres que eram consideradas bruxas, foram acusadas de tentar forjar um poder divino. Isso porque elas curavam doenças com ervas e, segundo a Igreja Católica, apenas Deus poderia mudar o curso divino das coisas.
Além disso, elas também começaram a ser acusadas de fazerem pactos com demônios e com o diabo. Sendo até mesmo capazes de realizar coisas impossíveis, como conseguir voar. Por fim, esse pensamento e essas acusações fizeram com que diversas mulheres fossem mortas na Europa até o começo do Iluminismo.
Como começou o movimento de bruxaria
No século 13, quando o feudalismo começou a ruir, um processo de êxodo para as cidades passou a crescer na Europa. Juntamente, várias revoltas camponesas também acompanharam o movimento. Enfim, nesse mesmo período passou a mudar as relações das mulheres e as normas sociais que existiam na época.
Ou seja, as mulheres começaram a conquistar algumas liberdades que não tinham acesso anteriormente. Contudo, a vida não ficou tão melhor. Porque com as liberdades, vieram as perdas de garantias, como por exemplo alimento e casa. Enfim, o que aconteceu foi o modelo feudal foi substituído pelo capitalista.
Portanto, as mulheres começaram a sair de casa e trabalhar, com funções que até então eram só de homens. E infelizmente, isso não passou batido pela Igreja, que via as mulheres se livrando do controle dos homens ao exercerem outras atividades além das de casa.
A Inquisição
A Inquisição começou no século 12. Seu intuito a princípio era eliminar algumas heresias. Como por exemplo, o valdismo e o catarismo. Entretanto, no século 13, em 1320, bruxaria entrou para o grupo de coisas consideradas como heresia segundo o papa João XXII.
Após o surto de Peste Negra, no século 14, as bruxas começaram a ser ainda mais caçadas pela Inquisição. Segundo os líderes religiosos, o surto veio como uma forma de punição aos comportamentos não cristãos, leniência e heresias. Ou seja, comportamentos de feiticeiras que mexiam com magia negra.
O livro que incitou assassinatos de bruxas
Em 1487, Heinrich Kramer lançou Malleus Maleficarum. Durante dois séculos ele foi o segundo livro mais vendido na Europa – perdendo apenas para a Bíblia. Seu conteúdo? Um guia sobre heresias e de caça às bruxas. Aliás, ele ainda diz que mulheres têm uma tendência a se tornarem bruxas.
O resultado foi: depois do lançamento do livro, a bruxaria se tornou um crime muito maior. Os católicos começaram a usá-lo como base nos julgamentos e das condenações de mulheres suspeitas de bruxaria. Aliás, é importante citar que, quem usava o livro eram tribunais seculares. Também eram o Estado que queimava as acusadas.
Mas essas bruxas más realmente existiram?
Surpreendentemente, existiram sim. Na Idade Média havia o grupo luciferianos, satanistas que surgiram devirado dos cátaros. Enfim, eles viveram na Alemanha durante o século 13 e acreditavam que Satã era o lado bom da guerra com Deus. Ou seja, ele foi apenas um injustiçado.
Entretanto, satanistas eram raros e irrelevantes para a história. Por outro lado, diversos magos surgiram por aí. Eles eram alquimistas que ganhavam muito dinheiro com rituais secretos, livros de feitiços, grimórios e muito mais. Mas por que esses não eram perseguidos?
Alquimistas eram homens, educados, ricos, conselheiros de reis e papas e toda a sua atividade era vista com uma manipulação da natureza. Por outro lado, as bruxas eram conhecedoras de poções e ritos pagãos, estando sempre associadas à adoração ao diabo.
O que era realmente uma bruxa
Na realidade o que o Estado e a Igreja Católica considerava como bruxas, eram apenas mulheres independentes que cultivavam certas tradições, passando-as de mãe para filha. Assim como, provavelmente, sua vó já ensinou sua mãe a fazer algum remédio caseiro.
O simples fato de mulheres se mostraram habilidosas na vida, capazes de se cuidar e até mesmo de fazer partos, era considerado algo absurdo para a Igreja. Aliás, era só através de muita tortura que conseguiam fazer com que essas feiticeiras confessassem crimes que nunca cometeram, fortalecendo o mito da bruxaria.
No auge, qualquer vestígio era usado como forma de explanar a bruxaria. Ou seja, gados morrendo, colheitas ruins e até epidemias (como foi citado a Peste Negra anteriormente) eram causados pelas bruxas adoradoras do diabo. Aliás, traços que nada tinham relação, passaram a ser considerados traços de bruxas.
Como por exemplo ter marcas na pele, nariz grande, verrugas, deformações físicas e muito mais. E isso tudo porque o Vaticano considerava que o mal se manifestava através do que era feio. Enfim, tudo isso acabou favorecendo o atual esteriótipo de bruxa que nós conhecemos.
Judeus
Assim como mulheres que faziam remédios eram consideradas bruxas, os judeus também acabaram recebendo esse título e foram muito perseguidos no período da Idade Média. Isso tudo por conta de lendas onde um judeu se recusou a ajudar Jesus em seu caminho com a cruz, ou sequestrava crianças e por aí vai.
De onde surgiram as bruxas
Então toda a história das bruxas começou na África. Contudo, lá as práticas eram de feitiçaria e não se assemelhavam em quase nada com a bruxaria que conhecemos. Enfim, a feitiçaria deles se baseava no fato de quem existiam ligações ocultas entre os fenômenos naturais que ocorriam na Terra.
Ou seja, eles acreditavam que o cosmo era um todo e que, por meio de todo o poder e conhecimento que tinham, eles conseguiriam influenciar ou até controlar as ligações ocultas. Como resultado, eles teriam alguns resultados que desejavam. Em outras palavras, os feiticeiros da África faziam simpatias.
Aliás, sempre foi comum usar essas feitiçarias para melhorar colheitas, arrumar emprego, marido e até se livrar de doenças. Entretanto, ficou claro que cada civilização lidou com essa prática de forma diferente. Das semelhanças entre a bruxaria europeia e a feitiçaria africana podemos citar que: eram quase sempre praticadas por mulheres, mudavam de forma e voavam, praticavam canibalismo, orgias e muito mais.
Outro fato muito marcante e semelhante entre ambas as práticas era a misogenia. Enquanto os homens eram considerados magos, xamãs ou curandeiros, as mulheres ficavam com as características ruins. Ou seja, a feiticeira má que rogava praga nos outros.
A visão greco-romana da bruxa
Traços de deusas foram atribuídos às bruxas. Aliás, na cultura greco-romana (e em todas as outras) os responsáveis por combater essas feiticeiras, eram homens magos. Eles eram capazes de criar feitiços e amuletos de proteção contra essas mulheres más.
Inclusive, foi a visão greco-romana que auxiliou na associação ainda atual da bruxaria com a demonologia. Isso porque segundo os gregos da Idade Média para realizar feitiços, as mulheres precisavam se contatar com espíritos, ou daimones. Entretanto, essa palavra só começou a ter associação com espíritos ruins décadas depois.
Posteriormente começou toda a crença que já foi contada anteriormente sobre o cristianismo começar a ganhar cada vez mais força fazendo com que práticas simples de feitiçaria fossem consideradas como heresia e como algo do mal. Fazendo com que assim começasse a caça às bruxas.
A bruxaria atualmente
Muito se engana quem pensa que essas feiticeiras não existem nos dias atuais. Sim, muitas mulheres se consideram bruxas, contudo, não da forma negativa. Para elas, o movimento está ligado diretamente com uma conexão com o natural, com o autoconhecimento e com a liberdade.
As práticas realizadas por elas hoje (e antigamente também) são associadas com o uso de elementos da natureza para purificar o corpo e proteger a própria casa. Ou seja, cada mulher segue um ritual diferente para diversos motivos. Como por exemplo saber os ciclos lunares e para que cada fase é melhor, como início de algo novo ou plantação.
Além disso, o uso de ervas, cristais, meditações e chás também auxiliam em processos de limpezas e de extração de energias positivas. Aliás, contradizendo todo o histórico de feiticeira má, existe uma ética entre elas que não se deve fazer nada por alguém sem o consentimento prévio.
Portanto, não existe essa história de fazer mal a alguém para conquistar algo. Aliás, elas também trabalham para entender e aceitar que existe um equilíbrio entre as energias negativas e positivas. E por fim, no Dia das Bruxas, essas mulheres celebram apenas o vínculo com a essência do Universo, relembrando mulheres antigas que morreram por tentarem manifestar suas vontades e anseios.
Eram consideradas bruxas
É mulher, é bruxa
O simples fato de ser mulher já aponta uma grande chance da pessoa ser bruxa. Isso mesmo. As pessoas acreditavam que ser mulher te fazia mais suscetível ao pecado. Ou seja, estar suscetível ao pecado é a mesma coisa que cultuar Satã.
Pobreza
Ser pobre e depender de alguma forma da comunidade para conseguir se sustentar também entrava na categoria de suscetíveis à bruxaria. Por exemplo. Sarah Goode era vista como suspeita simplesmente por pedir comida na vizinhança. Ela foi enforcada em 1692.
Riqueza e independência financeira
Então, não dava pra ser pobre, mas também não podia ser rica demais. Isso porque, mulheres, ricas, solteiras e independentes com certeza eram bruxas. De que outro jeito elas conseguiriam dinheiro se não por meio de pactos com o demônio?
Ter amigas
Mulheres juntas sem nenhum homem por perto era sinal de coisa errada. Ou seja, uma irmandade de adoração a Satã.
Brigas entre mulheres
Para se retirar de acusações, mulheres começaram a acusar umas às outras de bruxaria. Além disso, como foi impregnado na sociedade a ideia de que mulheres tinha maior cumplicidade com o diabo, as próprias acreditavam que outras também tivessem culpa.
Mulheres velhas
As idosas, mesmo as casadas, tinham muito mais chances de serem acusadas. Certa vez, uma senhora de 70 anos que já era inválida foi acusada de bruxaria pelos vizinhos. Um ano depois ela foi condenada e morta.
Mulheres jovens
Lembra-se da história de Sarah que foi morta por ser pobre e considerada bruxa? A acusação caiu sobre ela porque, sua filha Dorothy Goode, aos 4 anos, disse que era uma bruxa. Além de ter perdido a mãe, a criança ainda ficou presa durante 9 meses e ficou insana pelo resto dos seus dias.
Parteiras
Anota esse combo: mulheres mais velhas, autônomas, com status sociais, conhecedoras de ervas medicinais e com influências pagãs eram tudo que a Igreja não gostava. E praticamente tudo o que definia uma parteira. Ou seja, nada surpreendente elas serem consideradas feiticeiras más, não é?!
Casada com muitos filhos
Uma mulher com o ventre muito fértil era considerada uma feiticeira associada a magia negra. A imagem da mulher fica ainda pior caso um casal vizinho não consiga ter filhos. Ou seja, significa que está usando magia para roubar o filho dos outros.
Casada sem filhos
Se uma mulher não tem filhos ou tem poucos a culpa é toda da associação dela com o diabo. Foi ele quem amaldiçoou o útero com a infertilidade. Aliás, caso o seu vizinho e filhos passem por necessidades, a culpa também é da mulher que está jogando inveja e levando o mal para eles.
Mulheres impulsivas, teimosas e estranhas
Mulheres que se exaltavam e faziam escândalos eram consideradas feiticeiras. Por outro lado, mulheres que não tinham esse tipo de comportamento, eram felizes e de bem com a vida, também eram muito estranhas. Ou seja, bruxas também.
Sinais, marcas de nascença ou terceiro mamilo
Qualquer marca ou sinal no corpo era visto como uma marca do demônio. Além disso, essas marcar também eram considerados como locais em que os mascotes das feiticeiras teriam mordido para se alimentar de sangue. Enfim, mulheres acusadas de bruxaria eram totalmente depiladas para encontrar suas marcas do diabo.
Leite ou manteiga perderam na geladeira
Segundo testemunhos em Salem, vários leites ou manteigas foram encontrados perdidos na casa das pessoas acusadas.
Se relacionar sexualmente fora do casamento
Alice Lake, em 1651, foi julgada por ser meretriz e ter engravidado fora do casamento. Em resumo, ela acabou confessando estar associada ao demônio (se era verdade, não se sabe) e foi enforcada posteriormente.
Tentar descobrir identidades de pessoas do futuro
Fazer promessas e mandingas, usar velas ou tentar qualquer técnica que contasse quem seria o amor da sua vida era bruxaria. Uma escrava de Salem, Tituba, foi a primeira mulher a ser acusada de feitiçaria. Ela incentivava outras a tentarem predizer quem seria seus futuros maridos.
Quebra de regras da Bíblia ou pacto com o diabo
Para não ser considerada uma bruxa, a mulher não poderia:
- Cometer adultério;
- Induzir outras pessoas a acreditarem em outros deuses (independentemente da forma);
- Ser estuprada;
- Plantar várias sementes diferentes em um único campo;
- Usar tranças no cabelo;
- Cortar o cabelo em formato circular;
- Encostar em uma carcaça de porco;
- Vestir roupas que era feitas com mais de um pano ou tecido;
- E por fim, ser uma bruxa.
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Fontes: Brasilescola, Aventurasnahistoria, Superinteressante, Valkirias, Revistaplaneta, Diariodonordeste e Megacurioso