O efeito placebo é aquele que surge a partir do uso de qualquer medicamento ou tratamento que se aproxima de um tratamento convencional, mas não possui efeito ativo. Isso significa, portanto, que a influência do tratamento não provoca nenhuma alteração direta no organismo.
A prática é comum especialmente em etapas de pesquisa de novos medicamentos. Isso porque os grupos pesquisados incluem tratamentos placebo, a fim de oferecer comparação para averiguar os verdadeiros efeitos dos remédios.
Por outro lado, o placebo também oferece efeitos positivos em algumas formas de tratamento. Ainda que não provoque alterações no organismo, o método pode ajudar a melhorar as sintomas e otimizar tratamentos que já estão em andamento.
Para que serve o placebo
A princípio, o principal uso é nas pesquisas e testes de desenvolvimento para novos procedimentos e tratamentos médicos. Nesse contexto, o grupo tratado com efeito placebo serve como base de comparação para os que recebem medicamentos que oferecem alterações reais.
Já na prática clínica rotineira, por exemplo, o tratamento com placebo oferece alguns questionamentos. Isso porque há dilemas éticos em torno da prescrição de tratamentos sem influência no organismo, como a quebra de confiança entre médico e paciente. Além disso, a medida pode acabar provocando o avanço de alguma doença já existente.
Apesar disso, os tratamentos com efeito placebo tem uso crescente desde a década de 50, quando médicos perceberam que cerca de 33% dos pacientes melhorava quando passavam por terapias dessa natureza. Ainda hoje, o índice de sucesso está por volta do mesmo índice.
Sendo assim, o tratamento ainda é comum em alguns casos, sendo benéfico especialmente para pacientes com dores crônicas, por exemplo. Além disso, aqueles que sofrem com condições de saúde relacionadas a causas emocionais e fobias também colhem bons frutos do tratamento.
Como o efeito placebo funciona
A principal forma de sucesso do método de tratamento está na confiança na forma de tratamento, pois a expectativa do paciente é essencial no processo. Além disso, a relação de confiança com o médico também ajuda no sucesso do método.
Dessa maneira, fatores como a própria esperança e otimismo do paciente são peças chave do tratamento placebo. Segundo algumas teorias de especialistas, o estado de mente aberta para a possibilidade do sucesso ajuda o corpo a ter respostas positivas durante o processo.
Assim como o estado mental influência o tratamento, o próprio medicamento utilizado também tem esse poder. Isso porque fatores como preço e tamanho de comprimidos estão associados a tratamentos mais eficazes, no imaginário popular. Da mesma forma, marcas impressas nos comprimidos também ajudam a agregar valor ao medicamento utilizado.
Até mesmo a cor do comprimido usado tem o poder de influenciar o tratamento. Segundo dados de análises, os azuis são melhores para efeitos sedativos. Já os laranjas e vermelhos, por exemplo, são mais estimulantes, enquanto amarelos atuam com efeito antidepressivo, verdes na redução de ansiedade e brancos no alívio da dor.
Ação do tratamento
O fator psicológico é fundamental nos resultados de tratamentos que apostam no efeito placebo. Um estudo em pacientes com Parkinson, por exemplo, informou aos participantes que eles teriam probabilidade de 25%, 50%, 75% ou 100% de receber medicamento ativo, mas todos recebiam placebo.
O grupo que recebeu a informação de 75% chance foi o que apresentou maior aumento na secreção de dopamina. Uma vez que o sistema é responsável pelo estado de recompensa cerebral, a sugestão do sucesso já foi suficiente para provocar alterações em regiões envolvidas na modulação da dor.
No entanto, alguns autores defendem que a ação dos tratamentos não ocorre somente no âmbito psicológico. Isso porque alguns resultados de pesquisas já são capazes de apresentar modificações fisiológicas em resultados de tratamentos, especialmente no campo da psiquiatria.
Cirurgias com efeito placebo
Apesar de ser muito ligado a tratamentos com medicamentos, os tratamentos placebos também estão presentes em procedimentos invasivos, como as cirurgias.
Segundo um artigo publicado na revista científica Pain Medicine, cirurgias ortopédicas completas ou placebo podem ser igualmente eficazes no tratamento de dores e recuperação de mobilidades. Nesse caso, as cirurgias alternativas não afetavam diretamente as estruturas ligadas ao problema.
Além disso, um estudo canadense de 2017, comparou os efeitos da acupuntura real com a placebo (quando as agulhas penetram a pele de maneira superficial). Os pacientes observados, vítimas da síndrome do intestino irritável, apresentaram o mesmo nível de melhora nos dois grupos.
Ainda sem tradução em português, o termo para procedimentos invasivos em efeito placebo é sham.
Efeito placebo nos esportes
O efeito placebo oferece uma série de benefícios de rendimento e desempenho para atletas. Isso porque esses resultados dependem, muitas vezes, de fatores de condicionamento mental, como motivação e confiança. Além disso, fatores de administração da dor também podem ajudar a levar atletas a limites extraordinários.
Dessa maneira, substâncias consumidas em momentos pré-treino muitas vezes são eficientes somente pelo poder de placebo. Um grupo de ciclistas experientes foi dividido em três, todos submetidos a tratamentos placebo. Dois deles, no entanto, não sabiam da informação e acreditavam estar consumindo cafeína.
O resultado foi que os que não sabiam da informação verdadeira tiveram um rendimento 3% superior ao de um outro teste anterior. Por outro lado, os que sabiam da verdade não apresentaram nenhuma diferença de rendimento.
Um benefício ainda superior (de 4%) foi observado em levantadores de peso que acreditavam ter tomado anabolizante antes do treino.
Nocebo, o efeito contrário
O efeito nocebo é o reverso do placebo, ou seja, com apresentação de sintomas indesejáveis ou inesperados após o contato a alguma substância. Isso acontece, por exemplo, com pacientes que passam a sentir efeitos negativos somente pela sugestão da possiblidade deles numa bula de remédio.
Recentemente, uma tendência a redução de consumo ao glúten mostrou um forte movimento social de efeito nocebo. A proteína passou a ser removida de várias dietas, com indivíduos alegando sintomas gastrointestinais que envolviam inchaço abdominal, dores estomacais, diarreia e outros.
Os efeitos, no entanto, são comuns apenas em pacientes com doença celíaca, que representam somente 1% da população mundial. Em indivíduos sem a condição, inclusive, a redução de glútem pode gerar um empobrecimento da dieta.
Segundo um estudo australiano feito com 37 pessoas com sensibilidade a glúten dividiu os pacientes em grupos com dietas com muito glúten, pouco glúten e sem glúten (placebo). Ainda assim, todos os participantes relataram piora dos sintomas ao fim do procedimento, mesmo sem o consumo da proteína.
Fontes Bibliográficas
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