A talidomida é um medicamento desenvolvido na década de 1950 pela empresa farmacêutica alemã Chemie Grünenthal GmbH. A droga foi originalmente concebida como um sedativo ou tranquilizante. No entanto, com o passar do tempo ela foi usada para tratar diversas outras condições, inclusive náuseas e enjoos matinais em mulheres grávidas.
Durante os primeiros testes, os pesquisadores da empresa descobriram que era impossível dar aos animais do laboratório uma dose letal da droga. Dessa forma, com base nesta teoria, a droga foi considerada inofensiva para os humanos. Como resultado, a talidomida foi licenciada em julho de 1956 para venda sem prescrição médica, na Alemanha.
Em pouco tempo, a droga passou a ser produzida em todo o mundo e 14 empresas farmacêuticas passaram a comercializar a talidomida em 46 países com pelo menos 37 nomes comerciais diferentes.
Apenas os Estados Unidos não aprovou a talidomida para comercialização e distribuição, alegando que a empresa distribuidora não forneceu evidências clínicas para refutar relatórios de pacientes que desenvolveram danos nos nervos em seus membros após o uso de talidomida em longo prazo.
Efeitos colaterais na gravidez
Até a década de 1950, os cientistas não sabiam que os efeitos de uma droga podiam ser transmitidos pela barreira placentária e prejudicar o feto no útero, de modo que o uso de medicamentos durante a gravidez não era estritamente controlado. Nesse sentido, com relação a talidomida, nenhum teste foi feito envolvendo mulheres grávidas.
Como a droga era comercializada com diferentes nomes em mais de 40 países, levou cinco anos para que fosse feita a conexão entre a talidomida tomada por mulheres grávidas e o impacto em seus filhos. Ademais, um alerta do governo do Reino Unido só foi emitido em maio de 1962.
Outra razão pela qual os pesquisadores e médicos demoraram a fazer essa conexão foi devido à ampla gama de mudanças no desenvolvimento fetal. Posteriormente, eles descobriram que o impacto sobre o desenvolvimento do bebê estava relacionado ao período durante a gravidez em que a droga foi tomada. Assim, os efeitos ocorriam penas entre 20 e 37 dias após a concepção.
Ademais, outro motivo pelo qual demorou tanto para estabelecer a ligação com a talidomida foi que alguns dos danos causados pela droga eram muito semelhantes a certas condições genéticas.
O escândalo da Talidomida
Como lido acima, foi somente em 1961 que a verdade sobre os efeitos colaterais do medicamento começou a vir à tona. Foi o médico australiano William quem relacionou pela primeira vez, o uso da talidomida e o impacto no desenvolvimento do feto.
Como resultado, a droga foi formalmente retirada pela Chemie Grünenthal em 26 de novembro de 1961 e alguns dias depois, os distribuidores do Reino Unido seguiram o exemplo. No entanto, permaneceu em muitos armários sob muitos nomes diferentes.
Todavia, no período em que a talidomida estava disponível no mercado, estima-se que mais de 10.000 bebês foram afetados pela droga em todo o mundo. Cerca de metade morreu poucos meses depois de nascer. Os bebês da talidomida que sobreviveram e suas famílias convivem com os efeitos da droga até hoje.
Impactos no mercado farmacêutico
Diante da repercussão, a talidomida forçou governos e autoridades médicas a revisar suas políticas de licenciamento de produtos farmacêuticos. Como resultado, foram feitas mudanças na forma como os medicamentos eram comercializados, testados e aprovados no Reino Unido e em todo o mundo.
Uma mudança importante foi que as drogas destinadas ao uso humano não podiam mais ser aprovadas apenas com base em testes em animais. Além disso, os testes de drogas para substâncias comercializadas para mulheres grávidas também tiveram que fornecer evidências de que eram seguras para uso durante a gravidez.
Por outro lado, o acesso fácil e sem receita à talidomida levou muitos países a melhorar sua classificação e controle de medicamentos. No Reino Unido, a Lei de Medicamentos de 1968, aprovada como resultado do escândalo da talidomida, fez distinções entre medicamentos prescritos, medicamentos disponíveis apenas em farmácias e remédios disponíveis para venda geral.
Usos do medicamento hoje
Apesar do desastre provocado, pela Talidomida, nas vidas de milhares de mulheres e bebês ao redor do mundo, a droga é vendida até hoje. Em 1967, a Organização Mundial da Saúde (OMS) conduziu um ensaio clínico sobre o uso da talidomida para a hanseníase. Diante disso, ela foi usada como tratamento para a hanseníase em muitos países.
Mais recentemente, o medicamento tem sido usado com sucesso para controlar algumas condições relacionadas à AIDS e a alguns tipos de câncer como o mieloma múltiplo.
Por fim, as pessoas que recebem prescrição de talidomida passam por aconselhamento e são informadas sobre os riscos à saúde.
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Fontes: Gaúcha ZH, Siat UFBA, Brasil Escola, Megacurioso, G1
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