Imagina só ser condenado a passar o resto dos seus dias segurando os céus. Assim mesmo, com as próprias mãos. Foi exatamente o que aconteceu com Atlas, que você certamente já viu. Mas se engana quem pensa que ele é um Deus do Olimpo. Na verdade, ele é muito mais antigo: faz parte dos Titãs, os seres divinos que vieram antes dos deuses.
Descritos primeiro por Hesíodo, na sua Teogonia, os Titãs da mitologia grega eram os filhos dos Pais Primordiais, chamados também de proto-deuses. Aqueles que guerrearam contra Zeus e os Deuses do Olimpo na Titanomaquia. Eram vistos como forças brutas da natureza. Entidades primitivas, que estavam ali basicamente para fazer frente com os deuses do Olimpo, que vieram depois, e eram mais racionais.
Como se os titãs representassem as manifestações elementares, as forças selvagens da natureza, que tudo querem dominar. Então era mesmo uma ideia mais primitiva. Vinha de um estágio anterior da evolução. Antes dos grandes Deuses do Olimpo chegarem para colocar ordem na casa.
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Titãs e titânides
Eram 12 Titãs de Primeira Geração: aqueles que nasceram de Gaia e Urano. Seis titãs e seis titânides. Deles nasceram os Titãs de Segunda Geração (como Atlas) e também os Deuses do Olimpo.
Oceano
É o Titã mais velho, e também o único, com a exceção do Cronos, que ganhou uma descrição mais detalhada da sua personalidade. Graças ao Ésquilo, temos uma boa ideia de como Oceano se portava diante dos irmãos.
Isso porque ele é um personagem secundário na peça Prometeu Acorrentado. E ali ele aparece como um cara tímido e medroso. Que quase sempre cede diante do poder e da arrogância de Zeus. Ou seja, é um homem fraco, que só não tomou partido na guerra por medo do sobrinho.
Como acontece com muitas figuras na Mitologia Grega, o nome Oceano podia tanto se referir a uma pessoa, quanto a um lugar. No caso, para os gregos mais antigos, ele seria o grande Rio que circunda o mundo.
De qualquer forma, o Oceano era visto como uma entidade grandiosa. Era o pai de todos os rios, e também das oceânides, as ninfas do mar.
Ceos
Ceos, ou Koios, era um Titã ligado ao conhecimento, aos poderes da mente. E atuava junto com a esposa, Febe, como fonte primordial de toda a sabedoria do mundo. Tanto a sabedoria que vem do céu, de Urano; quanto a sabedoria que vem da Terra, de Gaia. Exatamente por isso, também era uma entidade profética. Em outras palavras, ele funcionava como a voz profética do pai; enquanto Febe era a voz profética da mãe.
Alguns vão dizer que ele e os outros Titãs conspiraram juntos contra Urano, mas a versão mais conhecida conta que todos se recusaram a enfrentar o pai, exceto Cronos, que teria agido sozinho. Mesmo com toda essa sabedoria, Ceos ficou do lado dos titãs na guerra contra os deuses, e por conta disso foi trancafiado no Tártaro.
Crio
Crio é um Titã que aparece pouco nas histórias, mesmo na obra de Hesíodo. Diferente dos irmãos, ele não se casou com uma das Titânides. Em vez disso, acabou se casando com a prima/irmã, a Euríbia, que era filha de Gaia e Pontos.
Outra associação que é feita, também muito por causa do nome, é que esse Titã, no alvorecer do mundo, era também o deus primordial das constelações. Aquele que ordenava a passagem das estrelas pelo céu. Então, feita essa associação com a constelação de áries, é comum que ele apareça representado em forma de carneiro, ou pelo menos com características de carneiro, nem que seja com um elmo com chifres enrolados.
Hipérion
Hipérion basicamente aparece como uma versão primitiva do filho dele, o Hélios. Então era visto como um Titã da Luz Celestial, o pai das luzes do céu. Era, portanto, o pai de três entidades importantíssimas:
- Hélios, o Sol
- Selene, a Lua
- Eos, o Amanhecer
É dito inclusive que ele foi o primeiro a ordenar os ciclos do Sol e da Lua, definindo o ritmo dos dias e dos meses. Da mesma forma que Crio, como ordenador das constelações, teria ordenado a duração dos anos e os ciclos das estações. Então eram dois Titãs que provavelmente trabalhavam juntos.
Jápeto
Jápeto, o Perfurador, também está muito atrelado aos filhos. A esposa dele era uma oceânide, uma das filhas do Titã Oceano: Climene, também chamada de Ásia, que aparece como serva da Deusa Hera. Uma personificação da Fama e do Renome.
É dessa família que todos nós viemos. Jápeto e Clímene eram os pais de Prometeu, Epimeteu, Atlas e Menoécio. E o Prometeu foi quem criou a raça humana. Uma raça que, dizem, teria herdado as piores qualidades desses quatro filhos de Jápeto: a astúcia excessiva de Prometeu, a estupidez do Epimeteu, a ousadia de Atlas e a violência precipitada do Menoécio.
Talvez por causa disso, da criação do filho, é dito que Jápeto era o Titã da Mortalidade. Isso quer dizer que teria sido ele o responsável por definir o tempo de vida das criaturas mortais. Tempo esse que deveria, obrigatoriamente, ser finito. Em outras palavras, ele presidiu o período de vida mortal, não apenas da humanidade, mas também dos animais.
Febe
Febe era a Deusa Titã do Intelecto Brilhante. Além disso, cada uma das titânides representava um aspecto de Gaia, e o dela era o aspecto da voz profética, do ponto médio oracular da Terra.
E isso fica mais evidente depois que ela recebe de Têmis o controle sobre o Oráculo de Delfos. Controle esse que ela, Têmis, tinha recebido da mãe, Gaia. Depois, Febe deixaria o Oráculo com o neto, o deus Apolo. Porque sim, Febe era a matriarca de uma família importantíssima. Casada com o Titã Ceos, era a mãe de Leto e Astéria. Então, avó de Apolo, Ártemis, e também de Hécate.
Tétis
Já te contei aqui que o Titã Oceano, o marido de Tétis, ficou neutro na guerra contra os Deuses do Olimpo. Acontece que ele não foi o único. Nenhuma das Titânides se meteu nessa briga e por isso não foram lançadas nos poços profundos do Tártaro. Tétis foi ainda além. Chegou a apoiar os deuses em segredo e criou a Deusa Hera como se fosse a sua filha.
O aspecto que ela representava era o das águas nutritivas e das fontes subterrâneas. Ela também era conhecida como a Ama de Toda a Vida. Inclusive ela tem algumas representações, algumas imagens, que sobreviveram ao tempo e chegaram até nós.
Nessas imagens, ela aparece com um par de asas bem pequenas. Talvez representando o papel dela como a mãe de todas as chuvas – a água que vem do céu. Como esposa de Oceano, também era a mãe de todos os rios, as fontes e os riachos.
Téia
A Titânide Téia representava o aspecto da visão. Era casada com o irmão, o Hipérion, e teve com ele três filhos brilhantes: Eos, o Amanhecer; Selene, a Lua; e Hélios, o Deus-Sol. Também era a deusa que deu ao ouro e a prata o seu brilho e valor. O que faz sentido, considerando que ela era a mãe tanto do Sol quanto da Lua.
Mas essa associação de Téia com o Sol e com a Lua vai mais além. Os gregos antigos já diziam que os olhos emitem um feixe de luz invisível, tipo uma lâmpada, que permite ver tudo o que toca. E por isso era a mãe do sol, da lua e do amanhecer – são três coisas que irradiam luz. E seria difícil enxergar sem eles.
Mnemosine
A Deusa Titã da Memória e da Lembrança. Também a inventora da linguagem e da palavra, quem deu um nome para todas as coisas que existem. Importantíssima num contexto de tradição oral, de histórias que passavam de uma pessoa para outra. Então nem preciso dizer que o aspecto de Gaia que ela representava era justamente a memória, a preservação da história terrena. Por isso, de certa forma, também era uma entidade ligada com o tempo. Afinal de contas, não existe memória sem a passagem do tempo.
Têmis
Outra titânide muito cultuada, e que continuou relevante – inclusive que ainda hoje aparece representada no mundo todo -, é a Deusa da Lei, da Justiça e da Ordem, Têmis. Ela representava o aspecto da ordem natural. Ou seja, das regras de conduta que foram estabelecidas pela primeira vez pelos deuses.
Então era a voz divina que instruiu a humanidade nas leis primordiais da justiça e também da moralidade. E isso vale para tudo, desde as leis da hospitalidade, que eram sagradas, até as leis da boa governança. Era também uma deusa profética. Foi inclusive a primeira herdeira do Oráculo de Delfos, como foi dito.
Ela também não se casou com nenhum dos irmãos. Em vez disso, casou com Zeus. Foi a segunda esposa dele, depois de Métis. Mais do que isso, era conselheira do Rei dos Deuses. Sentava-se sempre ao lado do trono, aconselhando-o sobre a conduta dos homens. Juntos eles tiveram seis filhas. Ou três, vai depender da versão da história. As Horas e as Moiras.
Reia
Réia era a Deusa da Fertilidade Feminina, da Maternidade e da Geração. Como esposa de Cronos, também representava o fluxo do tempo, mas num contexto mais geracional. Ou seja, quando uma geração dá lugar para outra. Era também uma deusa do conforto e do bem-estar.
Com Cronos, teve seis filhos: Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseidon e Zeus. Ou seja, era a mãe dos Deuses do Olimpo. Mais do que isso, depois que Cronos engoliu cinco dos seus filhos, ela conspirou com Gaia e Urano para proteger o filho caçula, que viria a tomar o poder do pai.
Cronos
No quarto parágrafo da Biblioteca, Apolodoro escreveu que Gaia, triste com a destruição dos filhos, que tinham sido lançados no Tártaro por Urano, persuadiu os Titãs a atacar o pai e deu a Cronos uma foice adamantina. Ele partiu para cima do pai, cortou os órgãos genitais dele, e os jogou no mar.
A versão do Hesíodo, na Teogonia, é mais completa. Ele disse que Urano odiava todos os seus filhos, e por esse motivo os mandava para as profundezas de Gaia. Quer dizer, mandava os filhos de volta para dentro da mãe, onde ficavam presos. O que por si só gerava um desconforto nela. Foi aí que ela mesma criou uma espécie de pedra dura e cinzenta, com a qual forjou a Foice Adamantina.
O problema é que, ainda segundo Hesíodo, todos os Titãs se recusaram, não tiveram coragem de enfrentar o pai. Todos, com exceção de Cronos, o de mente tortuosa, que partiu para cima de Urano. A partir de então, tornou-se o Rei dos Titãs e o líder do seu povo.
Cronos também era uma entidade identificada com o tempo. Ou então como uma alegoria do tempo. Ao devorar os filhos, Cronos estaria representando os efeitos destrutivos do tempo, que devora todas as coisas. O passado consome o futuro, e as novas gerações são perigosamente suprimidas pelas antigas.
Titãs de Segunda Geração
Então a gente tinha um Mundo Mitológico governado pelos Titãs. Cronos era o Rei Soberano, e não aceitava que mais ninguém governasse junto com ele. Mesmo assim, os irmãos dele irmãos tinham os seus domínios, cada um à sua maneira. E, com o tempo, eles começaram a ter filhos e gerar novos Titãs. Eram os chamados Titãs de Segunda Geração.
Leto e Astéria
Podemos começar com as filhas de Ceos e Febe. Eram duas, muito parecidas e, ao mesmo tempo, diferentes. Astéria era a Deusa Titã das Estrelas Cadentes e da Adivinhação Noturna, seja ela pelos sonhos ou pelas estrelas.
Enquanto a irmã dela, Leto, era uma Deusa mais associada com a luz, além de ser também uma deusa da maternidade e protetora dos jovens. Muito por conta da história de vida dela, e de tudo o que ela passou para dar à luz aos gêmeos Apolo e Ártemis.
Perses, Astreu e Palas
Crio e Euríbia tiveram três filhos: Perses, Astreu e Palas. Perses era o Titã da destruição. Casou-se com Astéria e com ela teve Hécate, a Deusa da Magia e da Feitiçaria.
Astreu era um titã muito ligado com as estrelas, do mesmo jeito que o pai, e também dos planetas e outros corpos celestes. Alguns dizem que era o pai das estrelas, mas ele era mais conhecido mesmo por ser o pai dos Ventos, os Anemoi
Palas era outro titã da guerra e da batalha, como também eram os seus quatro filhos, os Quatro Executores – aqueles que lutaram ao lado de Zeus durante a Guerra dos Titãs, e que depois tornaram-se o seu braço direito. Especialmente Cratos e Bia.
Hélios, Selene e Eos
Hélios era o próprio Sol – o Deus Sol, melhor dizendo. Até a ascensão de Apolo, era o deus solar mais importante, e foi assim por muito tempo. Todo dia, Hélios subia numa carruagem puxada por quatro corcéis alados, e atravessava os Céus até as terras das Hespérides, no extremo Oeste do mundo.
Selene, a Deusa da Lua, foi muito confundida com Ártemis. Também era uma das luzes do Céu, e também tinha a tarefa de iluminar, de trazer a luz. No caso dela, é dito que ela percorria os céus montada, de lado, em um cavalo alado; ou então conduzindo uma carruagem com dois corcéis alados.
Mas antes de Selene ou do Hélios pegar a sua carruagem, tinha alguém que saía antes. No caso, era a irmã deles, Eos, o Amanhecer. Então era a primeira que percorria os céus, dispersando a névoa da Noite. Também aparecia guiando uma carruagem, mas era mais comum que aparecesse voando mesmo, com as próprias asas.
Atlas, Prometeu, Epimeteu e Menoécio
São os quatro filhos de Jápeto e Climene. Menoécio ficou conhecido por ser o “Deus da Imprudência”. E isso tudo porque ele achou que poderia bater de frente com o Zeus. Imediatamente ele foi atingido por um raio e foi enviado para o Érebo para nunca mais voltar.
Epimeteu era o Titã da Reflexão Tardia, mais lembrado pela estupidez. Não só porque caiu na armadilha dos deuses e recebeu Pandora em sua casa, mas também porque, quando ele e o Prometeu receberam a tarefa de povoar a Terra com animais e homens, o Epimeteu gastou todas as qualidades e atributos especiais com os bichos. Quando chegou a hora dos humanos, não tinha sobrado muita coisa para dar.
Quem não era nada estúpido era o Prometeu, o Deus da Premeditação e do Conselho Astuto. Foi quem recebeu a nobre tarefa de moldar a humanidade através do barro. Acabou se apaixonando por sua criação, e fez de tudo para ajudar a humanidade. Até se voltou contra Zeus, o Rei dos Deuses. Por isso, foi castigado.
Por fim, Atlas. Facilmente o Titã de Segunda Geração mais conhecido. Talvez também o mais importante. Era o Deus da Perseverança, e foi o líder dos Titãs na guerra contra Zeus. Era Era muito forte, parrudo, e ficou mais conhecido pelo castigo de segurar os céus com as próprias mãos.
Foi ele que ensinou a arte da astronomia para a humanidade. Sem ele, é provável que os homens nem soubessem como navegar durante a noite. Então era também um Deus da Astronomia. Talvez porque ali, segurando os céus, ele não tinha mais nada para fazer além de estudar as estrelas. Inclusive é dito que ele desenvolveu a ciência da astrologia em um grau que supera todos os outros, e descobriu engenhosamente o arranjo esférico das estrelas.
E os filhos de Cronos e Réia?
Zeus, Poseidon, Hades, Hera, Deméter e Héstia não são considerados Titãs de Segunda Geração porque tornaram-se os Deuses do Olimpo. Muito por conta da adoração que receberam, e da importância que os contadores de história deram para eles. São, afinal de contas, os grandes protagonistas da Mitologia Grega.
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