Entre os vários mistérios da humanidade, a criação de produtos por mãos humanas acaba entrando para a história. Nesse sentido, o Musseline de Dhaka integra as invenções de seres humanos que se perderam com o tempo. Mais ainda, a tentativa de resgatar essa tradição lança todo um contingente populacional para a ação.
Em primeiro lugar, o Musseline de Dhaka é um fino tecido de algodão. Além disso, recebe esse nome por ter sido criado em Dakha, na atual capital de Bangladesh. Porém, a origem desse invento está datada para antes do ano de 1851. Apesar disso, sua primeira aparição ter acontecido na Grande Exposição das Obras da Indústria de Todas as Nações, no Reino Unido.
Sobretudo, o que faz desse tecido tão mítico é o fato de que sua reprodução nos dias atuais é extremamente desafiadora, se não impossível. Ainda que tenha se tornado famoso entre a aristocracia europeia, esse era um tecido extremamente caro. Ademais, a confecção do material envolvia dezesseis etapas, em sua maioria, artesanais.
Origem e produção
Primeiramente, o Musseline de Dhaka é descrito como um tecido de algodão simples, mas extremamente sedoso, leve e brilhante. Nesse sentido, sua origem está plantado no sul de Dhaka, tendo sido produzido durante os períodos pré-coloniais.
Sobretudo, esse tecido surgiu a partir de uma variedade específica de algodões, que só eram cultivados na região onde surgiu. Nesse sentido, o chamado phuti karpas produzia fios grossos e frágeis duas vezes ao ano. Portanto, se trata de uma matéria prima instável, sensível e de manuseio difícil.
Contudo, os bangladenses desenvolveram técnicas aprimoradas ao longo das décadas. Acima de tudo, transmitiram o conhecimento entre gerações, de modo que a produção nunca se encerrasse, e a informação continuasse sendo aprimorada.
Comumente, as dezesseis etapas envolviam uma grande minúcia. Desse modo, cada comunidade ao redor de Dhaka ficava responsável por uma parte do processo. Ademais, se tratava de uma missão comunitária, que envolvia homens, mulheres, idosos e crianças.
Em primeiro lugar, as bolas de algodão eram colhidas e limpas, por meio dos dentes de peixe-gato que não danificavam o material. Logo em seguida, cada algodão era fiado, porém, era necessário um alto nível de umidade para que os fios não se partissem. Sendo assim, essa etapa costumava ser realizada em barcos, durante os horários mais úmidos do dia.
Posteriormente, acontecia a tecelagem, o que poderia durar longos meses por conta dos desenhos detalhados. Entretanto, entre essas três etapas maiores existiam pequenos trabalhos extremamente importantes, como a organização dos fios e a coloração.
Declínio e resgate do Musseline de Dhaka
Eventualmente, o Musseline de Dhaka foi importado para a Europa durante o século 17 e o início do século 18. Entretanto, a indústria europeia acabou comercializando o processo. Ou seja, muitas etapas da produção artesanal foram perdidas, fazendo com que o produto final fosse mais simples e misturado com outros materiais não originais.
Apesar do tecido ser utilizado para roupas tradicionais na Índia, o produto obteve finalidades diferentes nos países europeus. Sobretudo, homens e mulheres utilizavam para vestidos enormes e massivos, ou somente para camisolas. Nesse sentido, cabe ressaltar que o verdadeiro Musseline ficou conhecido por ter uma textura quase transparente no corpo.
Por outro lado, o tecido fez grande sucesso nos países que se espalhou, apesar do alto custo. Desse modo, figuras importantes como a rainha francesa Maria Antonieta, a imperatriz Joséphine Bonaparte e a escritora inglesa Jane Austen ficaram conhecidas por trajarem o material.
Contudo, no início do século 20 o Musseline de Dhaka desapareceu do mundo, tornando-se um grande mistério. No geral, estima-se que os métodos de produção se perderam com o tempo, assim como o algodoeiro original utilizado como matéria prima.
Porém, muito recentemente o governo de Bangladesh requisitou a Indicação Geográfica do tecido. Em outras palavras, esse processo faria com que o produto fosse original do país, tendo em vista que suas raízes se perderam na comercialização. Porque as autoridades legais passaram a advogar pelo retorno da produção original, o Musseline de Dhaka retornou à cultura local.
Qual é o futuro do Musseline de Dhaka?
Antes de mais nada, o projeto responsável pela revitalização do tecido tornou-se um empreendimento governamental e institucional. Ou seja, existem incentivos do governo e ações públicas para que o Musseline de Dhaka volte a fazer parte da sociedade bangladense.
Nesse sentido, as primeiras etapas do processo envolvem a matéria-prima. Porque o Musseline só pode ser produzido com um tipo específico de algodoeiro, há esforços para replantação da espécie na região de Bangladesh. Além disso, diversos testes estão sendo desenvolvidos a partir das colheiras.
Contudo, a dificuldade de reprodução dos métodos artesanais causou grande perda da matéria prima. Desse modo, também está acontecendo uma busca pelo conhecimento tradicional da produção do tecido. A princípio, as informações foram transferidas oralmente, de modo que não haja manual escrito sobre o processo.
Entretanto, há no mundo hoje algumas versões que tentaram recriar os métodos conhecidos. No geral, esses produtos levaram anos e muitas ferramentas para tentar recriar o Musseline de Dhaka. Apesar de terem sido vendidos e expostos até em museus, ainda há uma longa jornada pela frente para a retomada definitiva da produção têxtil.
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Fontes: Global Voices | BBC | Ichi