O país inteiro vem acompanhando a tragédia em Petrópolis, ocasionada por fortes e destrutivas chuvas que já assolam a região há alguns dias. Até então, os temporais que atingiram estados como a Bahia, Minas Gerais, São Paulo e agora o Rio de Janeiro preocupam milhares de pessoas.
Em um primeiro momento, muitos se revoltam e se solidarizam com as vidas perdidas pelos desastres. Alguns buscam justificar a situação extrema por conta das mudanças climáticas. Mas afinal, qual a causa das tragédias de chuva de verão?
Pode ser que afirmar que essas são as mesmas tempestades de verão de sempre não seja certo. De acordo com especialistas, a resposta está no meio do caminho. Seja como for, é comum que nessa época do ano ocorram chuvas muito fortes. Mesmo assim, a frequência e intensidade desse tipo de evento extremo aumenta cada vez mais, de acordo com dados científicos estudados até então.
Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, explica que as tempestades são fruto de um fenômeno conhecido como zona de convergência do Atlântico Sul.
As tais zonas se formam na ocasião em que a umidade trazida pelos ventos da Amazônia se encontra com uma frente fria, esta vinda do sul. Assim, as nuvens carregadas ficam concentradas em uma região, e por fim, desaguam em temporais.
“Praticamente todos os anos a gente observa a formação dessas zonas de convergência, com maior ou menor intensidade. Não é nenhuma novidade, não dá pra dizer que é um fenômeno novo que as mudanças climáticas estão provocando”, diz Josélia.
Qual a causa das tragédias de chuva de verão? Os extremos fenômenos de 2022
Por outro lado, de acordo com Pegorim, as zonas de convergência não são capazes de explicar um desastre como o de Petrópolis, diferente dos casos de Minas Gerais, da Bahia e de São Paulo.
“Os outros eventos de chuvas fortes que teve foram chuvas que foram se acumulando em alguns dias, houve vários episódios de chuva intensa. Foram vários eventos de zonas de convergência atuando na mesma região ao longo de semanas. Em Petrópolis, choveu em três horas mais do que a média histórica do mês inteiro”.
Na cidade, houve uma combinação “perfeita” de fatores climáticos para ocasionar o problema. Nesse sentido, o ar já estava úmida por conta de uma frente fria passada. Além disso, ventos vindos do oceano trouxeram ainda mais umidade.
Por fim, o encontro do ar mais frio com a massa de ar quente serrana favoreceu uma formação de nuvens maior. E para completar, o relevo montanhoso da região fez com que os ventos úmidos subissem as encostas das serras. deixando as nuvens mais carregadas.
Outro meteorologista, Estael Sias, da Metsul, concorda com a excepcionalidade da chuva que caiu em Petrópolis. Mas de acordo com ela, isso não chega a ser surpreendente. Estael comenta que o encontro entre massas de ar frio e quente é uma receita para a formação de nuvens com potencial “explosivo”.
“Não precisa ir muito longe, nas últimas décadas, a região serrana teve temporais, deslizamentos e mortes“, reflete Sias. Mas mesmo assim, uma ocorrência de chuvas tão intensas em tão pouco tempo junto de outros fenômenos é preocupante.
A questão das mudanças climáticas
“Houve tempestades de areia no ano passado, calor muito forte no sul do país neste ano, cheia no Tocantins, secas intensas. Quando a gente olha tudo isso junto pode considerar um indicativo”, explica a meteorologista.
Além disso, para o climatologista Carlos Nobre, é raro que mudanças climáticas provoquem eventos nunca vistos antes. Assim, o mais comum é ver fenômenos extremos como esses com cada vez mais frequência.
“Basta olhar os relatórios científicos e ver que a frequência das ondas de calor é de três a quatro vezes maior do que há 150 anos, as chuvas intensas que causam desastres ficaram mais frequentes, os incêndios florestais e as secas, batemos recordes de temperatura. Tudo isso está acontecendo por causa do aquecimento global”.
Da mesma forma, a causa da tragédia não é exatamente as tempestades, mas sim o fato de muitas pessoas morarem em áreas de risco e viverem ali mesmo depois de desastres como o de 2011.
“O que a gente vê hoje acontece em meio a um aumento de pouco mais de 1 grau na temperatura do planeta e, mesmo que a gente tenha muito sucesso com as políticas ambientais, ainda vai subir mais, então, a gente precisa colocar em prática políticas para sermos mais resilientes a esses desastres naturais, e a melhor delas é não deixar as pessoas habitarem áreas de risco.”
Para quem se pergunta qual a causa das tragédias de chuva de verão, levar isso em consideração é essencial.