As lendas são histórias fantásticas que passam de geração em geração por meio da tradição oral. Elas costumam misturar fatos reais com elementos imaginários, buscando explicar a origem do universo, da natureza e das relações humanas. Entre essas narrativas, destacam-se as lendas africanas, que refletem a riqueza cultural e a diversidade desse continente.
Diante disso, o continente africano é uma verdadeira fonte de sabedoria imaterial, com lendas influenciadas pela grande variedade de etnias locais e pelos contatos com povos do Oriente Médio e da Europa. Essa diversidade cultural também chegou ao Brasil, sendo incorporada em músicas, danças, religiões, e até mesmo nas tradições culinárias.
E aí, vamos saber sobre algumas lendas africanas? Boa leitura!
Lendas africanas
1 – A lenda do Sapo e a Cobra
A lenda africana do sapo e da cobra narra uma história de amizade inesperada entre os dois animais. Um dia, o sapo, ao passear, avistou um animal longo, fino e brilhante. Curioso, ele se aproximou e puxou conversa, perguntando o que ele fazia ali. A cobra, simpática, respondeu que estava apenas tomando sol.
Logo, o sapo convidou a cobra para brincar, e passaram a tarde juntos. O sapo ensinou a cobra a pular, enquanto a cobra ensinava o sapo a rastejar. Foi uma tarde divertida, e ao final do dia, cada um foi para sua casa, prometendo se encontrar novamente no dia seguinte.
Porém, ao contar para sua família sobre o novo amigo, o sapo foi advertido de que as cobras eram perigosas e que ele não deveria voltar a brincar com ela. Da mesma forma, quando a cobra contou sobre o sapo, sua mãe a alertou de que sapos eram apenas presas.
No reencontro do dia seguinte, a cobra até pensou em devorar o sapo, mas ao lembrar das brincadeiras da tarde anterior, mudou de ideia e se escondeu no mato. Assim, eles nunca mais brincaram juntos, mas continuam se aquecendo ao sol, lembrando do dia em que foram amigos.
2- Lenda dos Tambores Africanos
Uma das lendas mais conhecidas da África é a dos tambores africanos, que surgiu nas terras de Guiné-Bissau. Ela conta a história de como esse instrumento, tão importante na cultura africana, veio ao mundo.
De acordo com a lenda, um grupo de macaquinhos de nariz branco queria trazer a Lua para mais perto da Terra, mas não faziam ideia de como realizar essa tarefa. O menor dos macacos sugeriu que subissem um no ombro do outro, tentando alcançar a Lua. O plano foi colocado em prática, e o macaco menor, sendo o último a subir, conseguiu se agarrar na Lua.
No entanto, os macacos perderam o equilíbrio e caíram, exceto o menor, que ficou pendurado na Lua. Com o tempo, ele e a Lua se tornaram amigos, e ela decidiu presenteá-lo com um tambor branco. O macaquinho aprendeu a tocar o tambor, mas começou a sentir falta dos amigos e da vida na Terra.
Com pena do macaco, a Lua resolveu ajudá-lo a voltar, pedindo apenas que ele tocasse o tambor quando estivesse em terra firme, para que ela soubesse que ele chegou em segurança e pudesse cortar a corda que o mantinha suspenso. Porém, durante a descida, o macaquinho, ansioso, não resistiu e começou a tocar o tambor de maneira bem leve, tentando não chamar muita atenção. Mas a Lua ouviu e, como combinado, cortou a corda. O macaco caiu e, infelizmente, morreu.
Antes de morrer, o macaquinho pediu a uma menina que o viu cair para pegar o tambor e entregá-lo ao seu povo. A menina fez exatamente isso, além de contar a todos o que havia acontecido. O povo adorou o tambor e, desde então, passaram a fabricar seus próprios tambores, tocando e dançando ao som deles, celebrando essa história em cada batida.
3- Lenda da Galinha D’Angola
Nessa lenda africana, é contada a origem da galinha d’Angola. Segundo a história, as aves viviam todas juntas, mas a convivência começou a ficar difícil por causa da inveja entre elas. Um dos pássaros mais invejados era o Melro, conhecido por sua beleza. Sabendo disso, ele decidiu usar seus poderes mágicos e prometeu mudar as plumagens daqueles que o obedecessem.
No entanto, nem todas as aves seguiram o Melro, e, como resultado, ele alterou as características de cada uma. A galinha d’Angola acabou se transformando em um animal magro, com fraqueza, e com o corpo cheio de pintas, lembrando um leopardo. A ideia era que, ao parecer tão bonito quanto o leopardo, ela seria devorada por ele, incapaz de suportar a presença de outra criatura tão bela. Logo, foi assim que a galinha d’Angola aprendeu sua lição sobre a inveja.
4- Lenda da Girafa e Rinoceronte
Uma das lendas africanas mais conhecidas é a da girafa e do rinoceronte, a qual busca explicar a origem de certos aspectos da natureza e por que a girafa tem o pescoço tão longo. Segundo a história, a girafa tinha um pescoço normal até que uma grande seca acabou com as ervas rasteiras e deixou a água escassa. Enquanto procurava por água, a girafa encontrou o rinoceronte e começou a reclamar sobre a falta de chuva e o fato de as acácias continuarem verdes.
O rinoceronte, concordando, sugeriu que fossem falar com um feiticeiro em busca de ajuda. Após explicarem a situação, o feiticeiro pediu que voltassem no dia seguinte, quando ele daria uma poção que faria o pescoço e as pernas da girafa crescerem, permitindo que ela alcançasse as folhas das acácias. No dia seguinte, a girafa voltou sozinha à casa do feiticeiro, já que o rinoceronte estava satisfeito com algumas ervas que havia encontrado.
O feiticeiro então ofereceu a poção à girafa e desapareceu. A girafa tomou a poção, e logo seu corpo começou a se transformar. Pouco tempo depois, ela avistou uma acácia e pôde finalmente se deliciar com suas folhas. Já o rinoceronte, ao perceber que não havia recebido a poção, foi atrás do feiticeiro, mas não o encontrou, o que o deixou bem furioso. Desde então, ele passou a perseguir o feiticeiro pela floresta e a correr atrás de qualquer pessoa que cruzasse seu caminho.
5- Lenda Ubuntu
A lenda de Ubuntu é uma das histórias africanas lindas que transmite valores como cooperação, igualdade e respeito. Segundo a lenda, em uma visita a uma tribo africana, um antropólogo decidiu entender melhor os princípios daquela comunidade.
Diante disso, ele propôs uma brincadeira às crianças: colocou uma cesta cheia de frutas embaixo de uma árvore e disse que a primeira que chegasse lá ficaria com o prêmio. Quando deu o sinal, ao invés de competirem entre si, todas as crianças correram de mãos dadas e, juntas, chegaram à árvore. Assim, puderam compartilhar igualmente as frutas.
Curioso com a atitude delas, o antropólogo perguntou por que decidiram correr em grupo, se uma única pessoa poderia ter levado todas as frutas. As crianças responderam: “Ubuntu!”. O termo significa que a felicidade de um não seria completa enquanto os outros estivessem tristes.
O termo Ubuntu, presente nas culturas Zulu e Xhosa, carrega o sentido de “eu sou porque nós somos”, expressando a crença de que a verdadeira felicidade só é alcançada por meio da cooperação e do bem-estar coletivo.
6- Lenda da Raposa e o Camelo
Outra lenda africana é a da raposa e do camelo, que tem origem no Sudão do Sul, no nordeste da África. De acordo com a lenda, uma raposa chamada Awan adorava lagartixas e já havia devorado todas as que estavam de um lado do rio. Querendo mais, Awan precisava atravessar para a outra margem, mas tinha um problema: ela não sabia nadar.
Foi então que teve uma ideia: procurou seu amigo camelo, Zorol, e disse a ele que conhecia um campo de cevada. Se ele a levasse nas costas para atravessar o rio, ela mostraria o caminho até lá.
Zorol aceitou, e Awan subiu em suas costas, guiando-o até o outro lado do rio. Quando chegaram, o camelo foi até o campo de cevada para comer, enquanto a raposa se deliciava com as lagartixas. Depois de satisfeita, Awan queria voltar, mas Zorol ainda estava comendo. Impaciente, a raposa começou a correr e gritar, o que chamou a atenção dos donos do campo. Eles jogaram uma pedra no camelo, ferindo-o.
Quando a raposa voltou, chamou o camelo para irem embora. Zorol, no entanto, questionou o motivo de tanta gritaria, e Awan respondeu que era apenas uma mania que tinha depois de comer. Os dois começaram a travessia de volta. No meio do rio, o camelo começou a dançar, deixando a raposa apavorada. Ao perguntar o que estava acontecendo, Zorol respondeu que ele também tinha o costume de dançar depois de se alimentar.
No fim, a raposa acabou escorregando e foi levada pela correnteza, enquanto o camelo chegou tranquilamente à outra margem. A moral da história? A raposa aprendeu uma lição por causa de sua imprudência.
7- Quando o leã sabia voar
Há muito tempo, o leão tinha asas e nada escapava dele. Depois de devorar suas presas, ele guardava os ossos no seu esconderijo e deixava os corvos de guarda para que ninguém ousasse tocar nos ossos.
Um dia, enquanto o leão estava caçando, um enorme sapo entrou no covil, quebrou todos os ossos e deixou um recado: “Por que homens e animais não podem viver por muito tempo? Quando ele voltar, diga que estou no lago”.
Ao voltar e perceber o que havia acontecido, o leão, furioso, foi direto para o lago. Lá, ele encontrou o sapo e tentou capturá-lo, mas o sapo escapava cada vez que ele se aproximava. Depois de várias tentativas frustradas, o leão desistiu, perdeu suas asas, e desde então, os corvos ficaram mudos de medo.
8- Yemojá
Yemojá, filha do Deus do Oceano, era uma mulher imponente, com curvas como as ondas do mar. Casada com Olofin-Oduduá, vivia em Ifé, mas decidiu fugir para Abeokutá, em busca de novos ares. Lá, conheceu o Rei Okerê, e os dois se apaixonaram perdidamente um pelo outro. Foi então que Yemojá aceitou se casar com ele, mas apenas sob duas condições: ele jamais deveria zombar de seu corpo ou deixá-la triste.
Por um tempo, tudo foi bem, até que, certo dia, Okerê quebrou sua promessa e fez um comentário sobre o corpo de Yemojá. Ferida, ela fugiu, mas o rei tentou capturá-la. Yemojá, que sempre carregava um colar com uma garrafa dada por seu pai, usou o objeto ao tropeçar. A garrafa se quebrou, liberando águas que se transformaram em um rio turbulento, abrindo caminho até o oceano.
Okerê, desesperado, tentou bloquear o rio ao se transformar numa colina. Yemojá, então, chamou seu filho, Xangô, que lançou um raio e partiu a colina ao meio, permitindo que o rio continuasse até o mar. Desde então, Yemojá vive nas águas do oceano, e a colina dividida ao meio pelo Rio Ogun, na Nigéria, lembra até hoje essa história.
9- A canção da criança
Em algumas comunidades africanas, acredita-se que cada criança tem uma canção única, que surge muito antes de ela nascer. A mãe, ao desejar um filho, se senta à sombra de uma árvore e, nesse momento de conexão profunda, começa a ouvir a canção que será a marca da vida do bebê.
Essa melodia especial acompanha a criança em vários momentos importantes, como no seu nascimento, aniversários e grandes conquistas. Ela também serve de guia em tempos difíceis, quando a criança se sente perdida ou sem direção.
No fim da vida, essa mesma canção é ouvida mais uma vez, honrando a pessoa e celebrando sua jornada na Terra, como uma despedida carinhosa e cheia de significado.
10- O jabuti e o leopardo
Em um dia qualquer, o jabuti caminhava tranquilamente pela floresta, admirando o percurso quando, de repente, o chão desapareceu sob suas patas e ele caiu em uma armadilha. Desesperado diante daquela situação pra lá de inesperada, pensou: “Tenho que sair daqui antes que vire sopa!”
Depois de horas tentando escapar, sem nenhum sucesso, outro animal que também estava de passagem acabou caindo ao lado dele. O jabuti levou um susto ao perceber que era um leopardo! Foi aí que uma ideia brilhante surgiu: fingindo-se irritado, ele logo foi tirar satisfação com o leopardo: “Ei, o que você está fazendo na minha casa? Eu não gosto de visitas agora!”
Ao ser questionado, o leopardo ficou extremamente furioso, e então agarrou o jabuti e o arremessou para fora do buraco.
No entanto, o que não passou pela cabeça do leopardo que era exatamente isso que o astuto jabuti queria: sair daquela armadilha. Contente com sua esperteza, o jabuti seguiu seu caminho até sua verdadeira casa, livre e seguro.
11- O baú de histórias
Há muito tempo, todas as histórias moravam no céu, e a Terra não conhecia nenhuma delas. Kwaku Ananse, o astuto homem-aranha, queria trazer essas histórias para o seu povo. Então, teceu uma longa teia que o levou até Nyame, o Deus do Céu, para fazer um acordo.
Nyame, ao ouvi-lo, riu e disse que o preço era alto: Ananse teria que capturar Osebo, o leopardo feroz, e os marimbondos Mnboro, cuja picada era como fogo.
Ananse não se intimidou e partiu logo para a floresta. Lá, encontrou Osebo, que estava pronto para atacá-lo, mas Ananse, bem astuto, sugeriu uma brincadeira de amarrar primeiro. O leopardo, confiando na sua força, aceitou, e logo se viu com as patas todas amarradas.
Com Osebo imobilizado, Ananse foi até o ninho dos marimbondos. Ele jogou água sobre o ninho, fingindo que estava chovendo, e os insetos correram para dentro de uma cabaça que ele havia preparado. Em um movimento bem rápido, ele fechou a cabaça, capturando todos.
Com o leopardo e os marimbondos em mãos, Ananse voltou ao céu e entregou-os a Nyame. Em troca, recebeu o tão desejado baú das histórias. Quando retornou à Terra, abriu o baú e as histórias se espalharam por todo o mundo, sendo contadas até os dias de hoje.
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- Fontes: Escola Educação, Criando com Apego, Nova Escola, Toda Matéria