Talvez nem todo mundo saiba, mas antes dos deuses, antes mesmo do mundo, existia apenas o Caos, um vazio silencioso, onde tudo ainda repousava, digamos assim. Foi desse silêncio que surgiram as primeiras forças: misteriosas, poderosas e cheias de significado. Assim começa o mito da criação na mitologia grega.
Do Caos nasceram Gaia, Urano e toda a linhagem divina que daria forma ao universo, em meio a amores intensos, conflitos e muitas rebeliões. Um mito que não fala só sobre o início de tudo, mas também sobre um pouco da essência que move os deuses e os humanos.
E aí, vamos saber um pouco mais sobre isso? Boa leitura!
Como era antes da criação do Universo?
No princípio, tudo o que existia era o Caos, uma das divindades mais marcantes quando se busca entender a origem dos mitos. Nenhuma outra entidade poderia ser claramente classificada como anterior a ele. O Caos, portanto, é considerado o primeiro dos deuses.
Como essa divindade ocupava todo o espaço do universo, foi a partir dela que tudo se originou. Dentro do Caos havia uma espécie de “semente” de tudo o que viria a existir, ainda que de forma desorganizada e um pouquinho imprevisível.
No poema Metamorfoses, de Ovídio, há uma breve passagem sobre o Caos:
“O mundo ainda sem forma, sem a luz do Sol, sem mar, sem nada”.
Tudo começa a mudar com o surgimento de Gaia, a deusa da Terra, descrita como uma mulher de seios fartos. Sem uma explicação bem clara e satisfatória, a partir de sua presença, as coisas começam a tomar forma.
Diferente do Caos, que era uma entidade abstrata e sem forma definida, Gaia por vezes era confundida com o próprio planeta, mas também era retratada como uma figura humana. Foi por meio dela que os elementos fogo, água e terra começaram a se separar, e, então, o mundo passou a se estruturar.
Até hoje, não há uma explicação precisa sobre como a Terra surgiu a partir do Caos. Naquela época, havia uma visão de criação sem a intervenção de um ser supremo, o que dificulta a identificação do que muitos entendem na nossa cultura como um criador único.
Ainda assim, diversas divindades nasceram do Caos. Além de Gaia, surgiu Eros, associado inicialmente à força que unia os elementos para gerar vida. Posteriormente, essa ideia passou a ser relacionada também ao desejo entre os humanos. Depois veio Tártaro, que era descrito como uma região profunda, abaixo de Gaia, e que muitas vezes era confundido com o próprio submundo. Mas não acaba por aí, viu?
Quais foram os primeiros deuses criados?
1- Gaia
Do seio do Caos, surgiu Gaia. Ela não era só a Terra, ela era a Terra. É uma diferença gigante, né?
Com curvas de montanhas e um coração que batia no ritmo das marés, Gaia foi a primeira a acolher a vida. Mãe de muitos, ela não criou apenas filhos, mas futuros deuses, titãs e criaturas do mundo.
2- Urano
Em seguida veio Urano, o Céu. Surgiu para cobrir Gaia como um manto bordado de estrelas. Juntos, Gaia e Urano formaram o primeiro casal divino, e dessa união nasceram os Titãs, os Ciclopes e os Hecatônquiros.
Mas, como a gente pode imaginar, nem tudo foi paz: Urano temia seus próprios filhos, e o medo plantou a semente da rebelião.
3- Nyx
No mito da criação na mitologia grega, silenciosa e poderosa, Nyx nasceu do Caos como a personificação da Noite. Ela andava devagar, com passos feitos de sombras e mistério. Mesmo os deuses mais antigos a respeitavam, pois Nyx trazia com ela a escuridão que não podia ser ignorada de jeito nenhum.
4- Eros
Bem antes do cupido das histórias romanas, havia Eros: uma força selvagem e instintiva, o impulso que fez tudo se mover. Ele não era apenas amor romântico, mas o desejo de unir, de criar, de fazer nascer. Foi ele quem aproximou Gaia e Urano, quem fez o cosmos se apaixonar por si mesmo.
5- Tártaro
Tártaro não era só um lugar, mas também um ser no mito da criação na mitologia grega. Um abismo consciente, também nascido do Caos, que existia abaixo de tudo. Ele era o limite do mundo conhecido, onde até os deuses pensavam duas vezes antes de pisar. Lá, ao contrário do que muitos podem pensar, o castigo tinha voz e forma.
6- Érebo
No mito da criação na mitologia grega, companheiro de Nyx, Érebo representava a escuridão que paira entre a luz e a noite. Não era visto como o mal, mas sim como o véu que cobre o mundo quando o sol se despede. Um dos primeiros a emergir do Caos, ele ajudou a moldar o espaço entre o mundo dos vivos e o dos mortos.
Quais deuses foram originados partir de Gaia e Urano?
1- Oceano
No mito da criação na mitologia grega, Oceano não era só um deus, era um oceano que circulava a Terra inteira. Ele era um titã de águas profundas e calmas, sempre observando em silêncio. Ele representava o fluxo contínuo, o começo de todos os rios, e sua presença era constante, mesmo quando ninguém o via.
2- Tétis
Já Tétis veio ao mundo com a suavidade de uma fonte. Como companheira de Oceano, ela personificava as águas doces e férteis. De seu seio fluíram milhares de rios e ninfas aquáticas, cada uma com um canto diferente, espalhadas pelo mundo como bênçãos líquidas.
3- Cronos
Cronos nasceu com um olhar sério e mãos firmes. Era o mais jovem dos Titãs, mas também o mais ambicioso. Cansado do medo e do controle de Urano, foi ele quem teve coragem de enfrentá-lo. Com uma foice dada por Gaia, cortou os céus e libertou seus irmãos.
4- Reia
Reia era feita de ritmo e calma. Uma deusa que carregava o fardo da criação com paciência. Casou-se com Cronos e se tornou mãe dos principais deuses do Olimpo. No entanto, teve que esconder seus filhos, um a um, para protegê-los do destino traçado pelo medo do próprio pai. Essa história, inclusive, parece parece familiar, não é?
5- Hipérion
O deus que era luz antes mesmo do sol nascer. Um titã com olhar distante, sempre voltado para o alto. Ele representava a observação, o brilho, a claridade do pensamento. Pai do Sol (Hélio), da Lua (Selene) e da Aurora (Eos), seu sangue carregava o brilho do céu.
6- Teia
Essa deusa da mitologia grega caminhava ao lado de Hipérion, mas sua luz era diferente: vinha de dentro. Era a titânide da visão divina e da profecia. Em silêncio, ela enxergava longe, não com os olhos, mas com o espírito.
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7- Coios
O Titã da inteligência, da lógica e das perguntas que aguçam a mente. Parecia estar sempre buscando algo além. Com Métis, a deusa da astúcia, deixou sua marca na linhagem dos deuses que governariam com sabedoria e estratégia.
8 Febe
Em seguida, Febe tinha um brilho suave, como o luar sobre um lago calmo. Era ligada à sabedoria e às artes místicas, avó de Apolo e Ártemis. Seu nome, que significa “pura” ou “radiante”, refletia bem sua presença serena e intuitiva.
9- Jápeto
Jápeto era força e consequência. Tinha uma presença sólida, como se soubesse o peso do que viria. Pai de Prometeu, Epimeteu, Atlas e Menoécio, foi ele quem passou adiante o fardo da humanidade e dos titãs que desafiariam os deuses.
10- Têmis
Eis que surge o equilíbrio em forma de deusa. Com olhos que viam além do agora, ela era a voz da justiça e da ordem cósmica. Foi conselheira de Zeus, guardiã das leis que nem os deuses ousavam quebrar.
11- Mnemosine
Outra deusa muito importante no mito da criação da mitologia grega, Mnemosine carregava em si todas as histórias, todos os nomes, todos os acontecimentos. Era, por isso, a memória viva do mundo. De sua união com Zeus, nasceram as Musas, inspiradoras da arte, da poesia e do saber.
12- Crio
Crio é uma sombra entre todos os titãs. Ele era a figura que representava o poder das constelações e do tempo cíclico. No entanto, ele não é muito citado nas lendas, mas sua presença não foi esquecida.
13- Encélado, Coto e Briareu
Da união entre Gaia e Urano também nasceram seres diferentes: gigantes com cem braços e cinquenta cabeças. Eles não eram belos nem dóceis, mas representavam as forças brutas da natureza. Por medo deles, Urano os prendeu no Tártaro. Mas um dia, eles voltariam à guerra ao lado de Zeus.
14 Ciclopes – Os Ferreiros do Trovão
Por fim, os Cilopes, gigantes de um olho só, também foram filhos rejeitados. Porém, tinham talento: forjavam raios, tridentes e elmos para os deuses. Exilados no Tártaro por Urano, encontraram tranquilidade quando Zeus os libertou.
Revolta de Cronos e castração de Urano
No comecinho do mundo, tudo era silêncio. Gaia, a Terra, se sentia apertada, sufocada. Urano, o Céu, a cobria o tempo todo, sem dar espaço para que seus filhos crescessem ou respirassem.
Cada ser que nascia dessa união , os Titãs, os Ciclopes, os Hecatônquiros, era empurrado de volta para dentro dela. Era como se Urano tivesse medo do poder que tinha gerado. Gaia não aguentava mais.
Cansada e ferida, ela decidiu agir. Chamou seus filhos e falou com firmeza sobre toda essa situação. Mas todos hesitavam, ainda com medo de Urano. Todos menos Cronos, o mais novo. Ele topou o desafio.
Gaia então criou uma foice de pedra e entregou a ele. Quando Urano desceu, como fazia sempre, Cronos se escondeu. E no momento certo, atacou. Cortou o pai e pôs fim àquele ciclo sufocante.
O grito de Urano ecoou pelo universo. Do sangue que caiu sobre a Terra, nasceram as Erínias, os Gigantes e as ninfas do freixo. E do mar, onde foi lançada a parte cortada, surgiu Afrodite.
Sem dúvidas, esse é um dos momentos mais marcantes do mito da criação na mitologia grega, em que tudo começa a mudar e os deuses assumem o controle do mundo que estava sendo formado.
Titanomaquia e divisão dos poderes entre os deuses
Por muitos anos, Cronos reinou sobre o mundo. Havia destronado Urano, mas aprendeu bem com o pai o medo de ser em algum momento substituído. Ao saber que um de seus filhos o derrubaria, engoliu cada um ao nascer: Héstia, Deméter, Hera, Hades e Posêidon.
No entanto, não contava com a astúcia de Reia, sua companheira, que escondeu o caçula, Zeus, e lhe deu uma pedra enrolada em panos. O tempo passou, e o bebê cresceu longe dos olhos do pai, alimentando em silêncio o que seria, então, a promessa de um novo começo.
Diante disso, quando Zeus estava pronto, desafiou Cronos com coragem e inteligência. Com a ajuda de Métis, fez o pai vomitar seus irmãos, já adultos e cheios de fúria acumulada. Começou então o que a mitologia grega chama de Titanomaquia, a guerra entre deuses e titãs.
Por dez anos, o céu rugiu com a guerra entre os Titãs de Cronos e os deuses liderados por Zeus. Gaia revelou que só com a ajuda dos Ciclopes e dos Hecatônquiros a vitória seria possível. Zeus os libertou. Os Ciclopes lhe deram os trovões, e os Hecatônquiros lançavam pedras como uma tempestade.
Com a vitória, a ordem foi restaurada. Os Titãs derrotados foram lançados ao Tártaro, vigiados pelos Hecatônquiros. Zeus e seus irmãos dividiram o poder: Zeus ficou com o céu e o trono do Olimpo; Posêidon, com os mares; e Hades, com o mundo dos mortos. Dess forma, a Terra ficou livre, como era o desejo de Gaia.
Assim nasceu a era dos deuses olímpicos, também fundamentais na mitologia, com um novo pacto: a tensão constante entre liberdade e poder, sem mais medo.
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